quarta-feira, julho 30

The Dark Knight

Em primeiro lugar quero esclarecer que o meu objectivo não é comparar este filme, ou as suas personagens, com a banda desenhada original.
Primeiro, porque acredito que qualquer filme pode, e deve, sempre ser avaliado isoladamente das suas origens ou inspirações.
Segundo porque não conheço a banda desenhada original ao ponto em que me sinta confortável a fazer comparações entre a mesma e o filme que nela se baseia.
Terceiro porque acho que o M. conseguirá fazer estas comparações muito melhor do que eu alguma vez esperaria conseguir.


Christopher Nolan, tendo já realizado pérolas como Following (1998) e Memento (2000), e tendo realizado em 2005 o filme Batman Begins, vem mais uma vez afirmar-se como um dos realizadores mais brilhantes da sua geração!
Nolan traz-nos agora The Dark Knight (2008), a sequela directa de Batman Begins.

E raios se o filme não é bom!!!

Eu arriscaria até a dizer que é o melhor filme de super-heróis feito até agora!

Passo a explicar.

Para começar a fotografia, os cenários, o guarda-roupa, a cinematografia, as coisas a que eu chamo os "vegetais" de um filme, estão todos impecáveis! É extremamente difícil apontar-lhes defeitos!
Atenção, em especial, para a fotografia, que consegue transmitir verdadeiramente a sensação de uma Gotham City escura, feia e má! Este filme, como o seu predecessor, vão buscar imenso, em termos de ambiente, ao trabalho de Tim Burton em Batman (1989) e Batman Returns (1992), mas também, se bem me lembro (sobretudo para o primeiro), ao Bladerunner (1982).

De seguida temos as interpretações.

Em papéis secundários temos o fabuloso Michael Caine como Alfred, que nos dá um papel totalmente britânico!, temos Gary Oldman como Comissário Gordon, que convence mais neste filme do que no anterior, temos Maggie Gyllenhaal como Rachel Dawes, muito melhor que Katie Holmes (desculpa Tiago, tinhas razão, não era a Rachel Weisz) e finalmente temos Morgan Freeman como Lucius Fox, uma personagem equivalente ao Q dos 007.

A interpretar o titular Cavaleiro Negro (preto? escuro? sombrio? apagadote?) está Christian Bale.
Ora eu não me consigo decidir se gosto do Christian Bale a fazer de Batman. Gosto imenso do Christian Bale como actor, acho que tem imenso talento. E a verdade é que consegue trazer uma severidade e intensidade à personagem que raramente se tinha visto (o único que andou lá perto foi Val Kilmer no Batman Forever de 1995).
Por outro lado, Christian Bale continua a fazer beicinho... e não digo isto no bom sentido!
Como o meu amigo António me fez notar, Bale tenta disfarçar a sua voz quando faz de Batman, mas o que resulta não é uma voz grave e ameaçadora, mas a voz de alguém que tem um cancro na laringe! Há cenas no filme em que isto é tão evidente que se torna um detrimento para a cena.
Mais um aspecto em que eu acho que ele falha é que a personagem que ele interpreta devia ter um ar mais delirado, ou pelo menos mais intensamente louco (afinal, ele está a interpretar um gajo que se veste de morcego).
Mas não me estou a queixar! Christian Bale tem, à partida, um papel extremamente difícil de interpretar e não falha na sua tentativa.
Só que não está a par dos seus dois co-protagonistas:

Eu já conhecia e apreciava o trabalho de Aaron Eckhart desde que o vi no Any Given Sunday (1999), mas devo dizer que neste filme ele surpreendeu-me.
Eckhart interpreta Harvey Dent, o Promotor Público de Gotham City, e o homem de quem se espera que limpe Gotham do crime!
Como posso correr o risco de estragar a história a alguém que não conheça as personagens, não vou contar grande coisa acerca dele. Digo apenas que Aaron Eckhart consegue transmitir aqueles aspectos de pré-demência que Christian Bale não transmite.

E depois temos a estrela do filme.
Indubitavelmente, maravilhosamente, o filme centra-se e roda à volta da personagem brilhantemente interpretada por Heath Ledger, o assustadoramente (eu tinha de meter mais um advérbio!!!) perturbador Joker.
Heath Ledger (excelente actor, têm de o ver no The Brothers Grimm) passou um mês fechado num quarto de hotel para desenvolver o modo de falar de Joker. E resultou!
Ledger interpreta Joker com uma mestria e credibilidade assustadoras. Cada gesto, cada movimento, cada entoação, cada expressão de Joker foram estudados. Não há nada deixado ao acaso na construção desta personagem!
E faça-se notar que Heath Ledger tinha, à partida, uma fasquia muito elevada a superar. Em 1989 Jack Nicholson tinha interpretado exactamente a mesma personagem com resultados igualmente fantásticos!
Mas ao passo que Jack Nicholson nos mostrava um Joker divertidamente violento, que pregava partidas cómicas (se bem que mortíferas), Heath Ledger mostra-nos um Joker totalmente psicopata e perverso!
Só vendo, para perceber do que é que eu estou a falar.
(para aumentar o aspecto perturbador da personagem, Heath Ledger morreu pouco depois das filmagens do filme terem acabado com uma overdose de remédios para insónias, ansiedade e depressão. Tirem daqui as vossas próprias conclusões)

Como se estas coisas não bastassem, a história do filme é extremamente inteligente!

Muito resumidamente, a Máfia de Gotham, farta da interferência de Batman nos seus assuntos, decide aceitar a proposta de Joker para matar Batman. Mas rapidamente o Joker foge ao controlo de tudo e todos e começa a ganhar poder e a tornar-se cada vez mais violento.
Para além de ter um crescendo extremamente interessante, na medida em que durante o primeiro 1/3 do filme a história não se centra no Joker, e vários pontos climaxes, a história consegue tecer alguns comentários extremamente deprimentes.

A história mostra como mesmo os melhores de nós podem ser destruídos e pervertidos, de modo a revelarmos o que de pior temos.
Mostra como uma população precisa de idolatrar os seus heróis e desprezar os seus vilões, e de como, se os papéis se inverterem, as pessoas ficam felizes na mesma desde que possam continuar a idolatrar uns e a desprezar outros.
Sobretudo o filme é um comentário à vida organizada da sociedade e de como ela nos cria dessensibiliza dos horrores que se passam á nossa volta. Joker é o agente do caos, auto-proclamado, que quer destruir essa sociedade, esse esquema, e introduzir alguma anarquia.
Há um monólogo do Joker mais para o fim do filme que é brilhante, e que tem uma frase que eu acho que ilustra muito bem toda a ideia do Joker:

"You see, nobody panics when things go according to plan. Even if the plan is horrifying. If I told people that a gangbanger was going to get shot, or a busload of soldiers was going to get blown up, nobody would panic. Because it's all part of the plan. But tell people that one tiny little mayor is going to die and everyone loses their minds!"

Sobretudo, o filme roda muito à volta do triângulo formado entre o Joker o Batman e o Harvey Dent.
Harvey Dent é a personagem bonita, aberta, gostável e legal que contrasta com a escuridão, desconfiança e ilegalidade de Batman.
Por outro lado Joker é a anarquia e violência, enquanto que Batman é a justiça e a ordem.

É um filme brilhante. Extremamente inteligente, com acção e efeitos especiais na medida certa e com interpretações fantásticas!
Para os fãs do género é imperdível. Para quem pensa que não gosta do género, vale a pena ir ver na mesma, porque tem muito mais do que o que estão à espera!



Edit: entretanto o trailer que eu tinha metido desapareceu, por isso substituí-o por este (não se assustem com o tempo, eles têm de o fazer enorme para poder ter a alta definição)

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , ,

sexta-feira, julho 25

WALL-E

...espero que ninguém pergunte como é que eu vi este filme sem ele ter estreado em portugal ou sem ter saído em dvd e... porra! estou outra vez a escrever os meus pensamentos!

Hu-hurm...


A Pixar volta a atacar!

Depois do caminho desbravado por The Incredibles (2004) e Ratatouille (2007), a Pixar traz-nos WALL-E (2008).

À semelhança de ambos os filmes anteriores, WALL-E tem uma animação estupenda e uma história muito bem escrita.

A premissa do filme é algo típica de histórias de ficção científica: o planeta Terra ficou de tal forma poluído e coberto de lixo, que a humanidade teve de abandonar o planeta. Só que neste caso toda a gente decidiu tirar umas férias prolongadas enquanto deixavam robots atrás a limpar a porcaria toda para que, quando regressassem, estivesse tudo limpinho.
Só que a poluição era demais para ser limpa e um cruzeiro espacial que deveria ter durado apenas 5 anos acaba por durar 700 anos, com várias gerações de humanidade a viverem numa nave espacial de luxo.

WALL-E ou Waste Allocation Load Lifter-Earth-class é um pequeno robot, o único restante, que continua obstinadamente a recolher lixo, a compactá-lo e a empilhá-lo (em pilhas que são mais altas que os edifícios da cidade onde ele vive).
Por estar existir há tanto tempo WALL-E acaba por desenvolver uma consciência e colecciona artefactos humanos cujo significado ou funcionalidade desconhece.

Os primeiros 30 minutos do filme passam-se, assim, numa cidade inominada, totalmente abandonada, degradada e desolada. Com cenários majestosos e desoladores, a sensação de abandono e grandeza que é transmitida ao espectador é verdadeiramente assustadora.

Não vou contar demasiado acerca do filme, senão estrago a história.

Digo apenas que a determinada altura o WALL-E chega à nave espacial de cruzeiro, onde a humanidade regrediu a sacos de carne com dedinhos que falam uns com os outros por messenger e nunca saem das cadeiras flutuantes.
Uma brilhante análise à sociedade de consumo.

Por entre dezenas de referências ao 2001: A Space Odyssey (1968) o filme consegue ser divertido, enternecedor e até mesmo assustador (para quem o quiser ver dessa forma).

Não é absolutamente fantástico em todos os aspectos, mas vale pela animação estupenda (sim, estou a repetir-me, mas não estou a exagerar) pelo seu minimalismo (durante os primeiros 30 minutos do filme não há diálogos) e pela história muito pouco infantil (um dos trunfos da Pixar)

Etiquetas: , ,

quinta-feira, julho 24

Juno

A primeira coisa que fiz quando acabei de ver Juno (2007) foi ir pesquisar (brr) quem é que o tinha realizado e que outras coisas é que tinha feito.

Descobri que foi o Jason Reitman, e que o únic outro filme dele que eu vi foi o Thank You For Smoking (2005), uma comédia negra inteligentíssima.

Juno conta a história de uma adolescente, Juno (Ellen Page), de 16 anos, que fica grávida, para sua grande surpresa, do seu pai (J.K. Simmons) e da madrasta (Allison Janney).
Decide então encontrar pais adoptivos para o seu bébé, e acaba por encontrar Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman).
Seguem-se hijinks.

Juno é um filme doce e querido...

....

...no bom sentido!

A sério, é impossível não sorrir ao ver este filme!
É incrivelmente sincero e credível! A história está maravilhosamente bem escrita, as personagens estão extremamente bem caracterizadas!

O filme está cheio de pormenores deliciosos, como a cena em que Mark e Vanessa decidem a cor para o quarto do bébé e Vanessa está indecisa entre a cor "leite-creme" e "cheesecake" que são aparentemente idênticas.
Ou um grupo de atletas da escola, vestidos em fatos de treino amarelo e vermelhos, que passam a correr pela cena nas alturas mais aleatórias e despropositadas.

O que eu gostei acerca do filme é que não é um conto moralista acerca da gravidez na adolescência, ou sobre as maravilhas da maternidade, ou uma comédia tola acerca de uma adolescente com um bébé.
O filme consegue afastar-se inteligentemente destes clichés e, em vez disso, dá-nos uma história sobre relações humanas e sobre amor (é doce e querido, eu disse, mas é bom na mesma)

As interpretações são todas extremamente boas, sobretudo a de Ellen Page (que já tinha feito uma interpretação brilhante em Hard Candy (2005)). Esta miúda tem muito futuro!

De fazer notar ainda a interpretação de Jennifer Garner, como mãe sobre-zelosa, de J.K. Simmons, excelente como pai incondicional e de Jason Bateman como marido ambiguamente interessado (de fazer notar que aqui a interpretação dele consegue ser boa, ao contrário do que fez mais tarde em Hancock (2008) - obrigado ao I por me ter chamado a atenção!).

Finalmente, a música está perfeitamente apropriada ao filme. Soou-me a música geek, mas nenhuma que eu conhecesse (já estou a adquirir a banda sonora por uma forma absolutamente legal).

Em suma, vem à mente aquilo que o Jon Stewart disse na noite dos óscares:

"Does this town need a hug...? NO COUNTRY FOR OLD MEN, SWEENEY TODD, THERE WILL BE BLOOD. All I can say is, 'Thank God for teen pregnancy.' "

Etiquetas: , , , , , ,

segunda-feira, julho 21

Dr. Horrible's Sing-Along Blog

Não sei se já ouviram falar do nome Joss Whedon, mas é possível que sim. Escreveu episódios para a Buffy, escreveu a série de televisão Firefly, o filme que se lhe seguiu, Serenity, bem como a banda desenhada Astonishing X-Men.
Por isso se conhecem algumas destas coisas são capazes de apreciar a fixeza deste senhor.

O mais recente projecto dele é o Dr. Horrible's Sing-Along Blog.



É uma comédia musical acerca de um super-vilão de trazer por casa, e dos seus planos para tentar governar o mundo, derrotar a sua némesis e meter conversa com a rapariga simpática do laundromat da esquina.
É absolutamente alucinado e brilhante!!!

Para além disso, tem o fantástico Nathan Fillion, o Neil Patrick Harris e a Felicia Day. Todos eles actores de culto de várias séries e filmes.

Mas mais do que isso, é aquilo que este filme prova.

Este musical em 3 actos, foi escrito, produzido, realizado e montado durante a recente Greve dos Guionistas de Hollywood.
Joss Whedon fê-lo para provar que era possível criar um filme com muito pouco dinheiro, muitos poucos meios, fora do sistema dos estúdios, e ainda assim fazer um filme profissional, exibi-lo a um grande número de pessoas e, talvez, ainda ganhar dinheiro com ele.
Se estes objectivos forem cumpridos, então uma grande vitória contra o sistema dos estúdios será ganha, e o cinema independente terá ganho mais força!

Vejam o filme aqui, de graça:

http://www.drhorrible.com/index.html

Vale mesmo a pena, e são só 42 minutos!

Edit: desde ontem para hoje o filme desapareceu e agora só é possível ver o trailer......

Etiquetas: , , , ,

domingo, julho 20

Watchmen Trailer

OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG

Saiu o trailer para o filme Watchmen, que estreará em 2009!

*AVISO*: seguem-se tiradas elitistas potencialmente ofensivas

Para quem nunca leu a banda-desenhada Watchmen, escrita pelo Deus Alan Moore, ainda têm tempo de dar algum interesse à vossa vida.

Quem leu e não gostou (e por "não gostou" entenda-se "não admitiu a perfeição absoluta do livro") pode ir ler a revista Happy e a Maxmen, que provavelmente ficará mais bem servido.

Não vou dizer nada acerca da história, porque o que quer que eu dissesse seria sempre terrivelmente incompleto e desesperantemente aquém da beleza que a história é.
Digo apenas que é um dos melhores livros de sempre, lá em cima com o Mil Novecentos e Oitenta e Quatro!

Tinha muito medo em relação ao filme, porque seria sempre impossível um filme capturar a mestria sublime da história e do ambiente, mas este trailer entusiasmou-me muito!
Aparentemente a história foi transportada dos anos 80 para a actualidade. Veremos se isso é bom ou mau, mas tem potencial para ser interessante.

Podem ver o trailer aqui: http://www.apple.com/trailers/wb/watchmen/index.html

Ou aqui mesmo



>geekasm<

Etiquetas: , ,

sexta-feira, julho 18

Tropa de Elite

Cinema brasileiro em grande!

Depois de pérolas como Cidade de Deus (2002) e Carandiru (2003), chega-nos Tropa de Elite (2007).

Realizado por José Padilha, Tropa de Elite mostra-nos, mais uma vez, a violência da vida nas favelas. Mas desta vez pela perspectiva dos polícias que tentam impor a lei.

Mais especificamente, o filme segue a história do Capitão Nascimento (Wagner Moura) do BOPE (Brigada de Operações Especiais, um ramo da Polícia Militar especializado em operações nas favelas) que decide retirar-se das Operações Especiais por causa da gravidez da mulher dos dois recrutas, Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro), que ele decide treinar para depois escolher um como substituto.

O filme é extremamente intenso e muito violento (contrariamente ao que algumas pessoas dessensibilizadas pelo Gears of War, com quem eu fui ver o filme, possam dizer).
Tem um ritmo extremamente acelerado, sendo por vezes difícil apanhar todos os pormenores da história, mas isso só contribui para a intensidade do filme. Tem uma excelente fotografia e a edição está brilhante (teria de ser, para poder manter o ritmo que o filme tem).

À semelhança da Cidade de Deus, o filme recorre a alguns artifícios de contar a história de forma fragmentada, começando a partir de meio e usando flashbacks ou elipses para clarificar determinados pormenores ou histórias de personagens.

Torna-se difícil explicar a história e, para mim, a razão de ser tão intensa sem revelar alguns aspectos muito significativos da história, por isso faço aqui o meu aviso do costume:

Vou revelar dados fulcrais da história, quem não os quiser saber, pare de ler aqui, e volte quando tiver visto o filme.

Ok? Deixo-vos o trailer para aguçar o apetite.



Podem fechar a janela (ou o separador, para as pessoas que usam o Firefox ou a sua cópia barata chamada IE7)

Já se foram embora?

Pronto...

A história centra-se, sobretudo, em Neto e Marias, as duas personagens que são os potenciais substitutos do Capitão Nascimento.
Mostram como eles sobem na hierarquia da polícia, como se desiludem com a corrupção policial, como entram para o BOPE, como são treinados e como as suas vidas são radicalmente mudadas pela profissão que têm.
Por outro lado, do Capitão Nascimento sabemos apenas que pertence ao BOPE há 10 anos, tem uma mulher e um filho. Não nos é apresentado o seu passado, nem as suas relações com outras pessoas nem histórias interessantes nem elipses acerca dele. Existe apenas como agente do BOPE.

No entanto eu acho que ele é a personagem mais importante do filme.

Durante o filme vêmo-lo a desfazer-se enquanto pessoa. Temos a sensação que este homem já viu de tudo, já faz o seu trabalho automaticamente e friamente. A sua única linha de sanidade é a sua mulher e o seu filho, pelos quais ele decide reformar-se e encontrar um substituto.
No entanto, esta procura por um substituto, o processo de os treinar e escolher, acabam por quebrar o que restava do homem.
Ao longo do filme ele vai-se distanciando cada vez mais da mulher, ficando cada vez mais instável, começando a tomar medicamentos e a tornar-se cada vez mais violento.
Um dia, ao chegar a casa explode e grita com a mulher de uma forma absolutamente violenta. E eu achei lindo que essa cena apareça quase isolada, sem seguimento.
Temos essa cena, e depois o filme continua como se nada fosse.
Entretanto Neto (que tinha sido escolhido como substituto) morre e o seu amigo de infância, Matias consegue também estragar completamente a sua relação com a namorada e desistir do seu curso de advocacia.

Mais perto do fim, o Capitão Nascimento chega a casa e encontra-a vazia. A mulher saiu, levou o filho e deixou uma nota que não conseguimos ler. O Capitão Nascimento não reage de forma nenhuma.

No entanto, apesar de ter perdido a mulher e o filho, continua a treinar Matias para ser o seu substituto.
O filme culmina com uma cena em que Matias apanha o traficante de droga que tinha morto Neto. O Capitão Nascimento dá-lhe uma caçadeira para as mãos, e Matias mata o traficante (que já estava capturado, e deitado no chão) com um tiro na cara. Ouvimos voz do Capitão Nascimento a dizer "finalmente tinha encontrado um homem digno de me substituir".

A minha interpretação é que o Capitão Nascimento ficou totalmente desfeito enquanto pessoa pelo tempo em que trabalhou numa profissão tão brutalmente violenta como a sua. Ser agente do BOPE tinha-se tornado simultaneamente um fardo insuportável e uma obsessão.
Perder a mulher e o filho não importam realmente. Acontece, mas ele aceita-o como algo inevitável, como algo que sempre tinha sido inescapável.
No fim, consegue livrar-se do seu fardo passando-o a outra pessoa. Outra pessoa que só é digna desse fardo quando já está, também, inescapavelmente presa ao trajecto de violência e auto-destruição no qual ele própria tinha estado preso.

...

Eu penso demasiado sobre estas coisas...

Etiquetas: , , , , ,

terça-feira, julho 15

O Batman está a morrer e nada podia ser mais fixe (e isto até podia ser um título da Y ou da Blitz)

Ok, é preciso ser um bocado doente por BD para gostar de ler super heróis. Mas e se a história for mesmo bem escrita? E se a história for um plano brilhante de um escritor genial, que mais parece um super vilão?
Tudo começa em Setembro de 2006, quando Grant Morrison iniciou, ao seu bom estilo, uma narrativa não linear, cheia de falhas e pistas. A coisa começa de uma maneira que podia ser só marketing: Joker com uma barra de ferro, à chuva, em cima de um telhado, grita: "I did it! I finally killed Batman! In front of a bunch of vulnerable kids!". E daquilo que podia ser só mais uma história básica "super herói safa-se à última do super vilão e dá-lhe porrada e lições de moral", nasce uma história com alucinações, drogas, e, sobretudo, aquilo que torna todas as personagens (sejam de BD ou não) muito mais ricas e intensas: passado.


Morrison começa então, uma aventura de murros no estômago aos fãs de Batman. Há um filho, há polícias que se vestem de Batman, há descobertas negras sobre o passado dos pais de Bruce Wayne (nota: para quem não sabe, Bruce Wayne torna-se Batman para vingar a morte dos pais, na sua infância, à sua frente). Mas há mais: há um clube de heróis estrangeiros muito foleiros e série B quanto baste. Mas tudo isto não nos é dado, é misturado com alucinações, com sonhos, com coisas que não percebemos se já aconteceram ou vão acontecer.
Mas Morrison, com mestria, e usando muito bem a periodicidade mensal dos comics, vai-nos dando peças do puzzle. E as reviravoltas são fabulosas, as soluções espectaculares.
Batman RIP promete tornar-se uma daquelas histórias que marca de maneira tão grande uma personagem que todos os comics comprados até agora ganham mais valor.
Para quem gosta, é indispensável. Para quem não gosta: não se metam nisto, não vão saber atribuir-lhe o devido valor.


segunda-feira, julho 14

Be Kind Rewind

Absolutamente lindo, brilhantemente realizado!!!!

Michel Gondry (realizador de videoclips extraordinaire) traz-nos Be Kind Rewind (2008), definitivamente um dos filmes da década (se alguém se lembrar dele).

Mike (Mos Def) é empregado no Clube de Vídeo chamado Be Kind Rewind ("por favor rebobine"). Um dia o seu amigo Jerry (Jack Black) fica magnetizado num acidente na central de energia ao pé de sua casa.
Ao entrar no Clube de Vídeo, Jerry apaga todas as cassetes de vídeo!
Sem vídeos para alugar, Mike e Jerry vêem-se obrigados a filmar as suas próprias versões dos filmes!
Entretanto, Fletcher (Danny Glover) descobre que tem apenas alguns meses para arranjar uma exorbitante quantia de dinheiro para mandar arranjar o edifício onde está o clube de vídeo, senão a câmara municipal vai demoli-lo.
Em vez de modernizar o seu clube de vídeo, transformando-o numa réplica do BlockBuster, Fletcher aproveita a ideia dos filmes amadores (que entretanto se tornaram imensamente populares) para tentar juntar o dinheiro de que precisa.

Surreal...

Mas não tanto que se torne inacreditável. Toda a história tem uma estranha sensação de credibilidade!
As personagens são pessoas como nós (Jerry talvez não) e a cidade onde se passa é tão aborrecida como a nossa (passa-se em New Jersey, que é o Barreiro de New York).

Mos Def e Jack Black dão vida às suas personagens com uma naturalidade que se sente, mas o que realmente brilha neste filme é a história.

É uma história sobre pessoas comuns! As várias personagens que populam a história são todas do mais banal possível. Mas não entendam "banal" como uma coisa má. São banais como as pessoas que encontramos no metro, ou a fazer compras no supermercado. São só pessoas.
Achei brilhante a personagem interpretada por Mia Farrow (sim, a Mia Farrow), que começa, mas nunca acaba, um discurso delicioso sobre como tem a cura para a depressão e que consiste em começar por arrumar a casa e depois pegar num caderninho, fazer 4 colunas e nas primeiras duas escrever o esforço em que se acredita e a tarefa que se detesta. É brilhante, nos dois diálogos em que esta personagem fala, temos um vislumbre da sua vida que nos mostra... uma banalidade assustadora!
Mesmo as duas personagens principais. Mike trabalha no mais velho e degradado vídeo clube da cidade e não tem vida amorosa, Jerry vive numa caravana ao lado de uma central eléctrica e tem uma oficina de modificação de carros que constrói tubos de escape de 2 metros nos carros.

E no entanto, ao longo do filme, vemos estas personagens comuns a... não quero dizer superarem-se, porque nunca chegam a sair da sua banalidade. Mas iluminam a sua vida, à medida que vão participando nos filmes que fazem. Adicionam um aspecto de fantástico à sua vida, ao participarem e actuarem em filmes totalmente artesanais, mas que são especiais porque ELES os fazem.

É um filme sobre gostar de filmes. É um filme sobre ter a coragem de fazer algo só porque dá gosto, independentemente do custo ou do lucro. É um filme sobre a magia do cinema e dos filmes.
É um filme sobre FAZER filmes.
Não importa se são bons ou maus, importa que somos nós que os fazemos.

No fim do filme acabamos por não descobrir se a loja foi salva ou não. Não sabemos se o par romântico do filme fica junto ou não, não sabemos se as pessoas se juntam para fazerem mais filmes ou não.
O que importa é o filme que fazem, que os junta.
Fez-me lembrar imenso o Cinema Paradiso

Muito mais do que um filme excelente, com uma excelente história, este é um filme que me tocou muito!
Adorei-o!!!



Edit Ps: Obrigado À Pulga (desculpa, e mais uma vez obrigado) por me ter sugerido este filme! Se mais alguém tiver sugestões a fazer, então, por quem sois! Façam-nas e eu verei o filme sugerido e escreverei qualquer coisa sobre ele!

Etiquetas: , , , , , ,

terça-feira, julho 8

I Met The Walrus

É interessante e giro, por isso aqui vai:

Etiquetas: ,

sexta-feira, julho 4

Hancock

Esta noite fui ver o Hancock ao cinema.

Depois de uma semana a estudar que nem um doido, depois de um exame surreal e depois de mais uma tarde a estudar com menos de 4 horas de sono em cima, fui ver o Hancock ao cinema.

E compreendi a história!

O que diz muito acerca da história.

O que eu vos posso dizer a vocês a cerca da história... é toda a história! Porque mesmo no filme toda a história se resume a para aí 5 minutos de diálogo.

Hancock, o herói titular, é um vagabundo que é odiado pela sua cidade e quando encontra um agente de relações públicas, consegue restaurar a sua imagem e tornar-se muito popular.
Pelo meio destrói muitas coisas, descobre o seu passado, salva mais umas quantas pessoas, e está feito um filme!

Oh, é claro que há uns twists, mas são simultâneamente curiosos o suficiente para eu não vos revelar, e desinteressantes o suficiente para que, se não fossem curiosos, não valer a pena revelá-los!

É, no entanto, interessante fazer notar que este deve ser o primeiro herói negro da história do cinema a ter um papel principal sem outros heróis pelo meio.

Também é interessante ver que as personagems (muito secundárias) que no filme surgem como antagonistas (uma mulher na televisão e um bandido vingativo) são mostrados como sendo hill-billies sulistas, muito louros e muito desagradáveis.
Tirem daqui as vossas próprias conclusões.

Will Smith está muito bem no seu papel (tão bem quanto podia estar, na realidade) e a Charlize Theron deve ter querido comprar um avião a jacto, por isso aceitou entrar neste filme.
O principal actor secundário é tão insignificante e pouco impressionante que nem me vou dar ao trabalho de ir pesquisar o nome dele.

O filme até consegue ter algumas ideias engraçadas. Toda a coisa do super-herói numa crise existencial, o público a rejeitar os super-heróis...
Seria giro e original se já não tivesse sido feito (com uma mestria incomparável) há mais de 10 anos pela banda desenhada Watchmen, do Alan Moore.
Até achei a ideia da origem do Hancock, que não vou revelar, algo intrigante, com ponta por onde pegar, mas a verdade é que essa ponta não é explorada.
Nem nenhuma outra ponta ou ideia do filme. Tem só as ideias suficientes para poder dizer que tem uma história, e depois há explosões.

É um filme de pipocas, e pouco mais.
Recomendado para quando se tem o cérebro frito pelo estudo e a capacidade de compreensão está diminuída.



Edit: esta tarde enquanto estudava lembrei-me de outro filme que merece a honra de ter tido o primeiro super-herói negro: Blade (1998), com Wesley Snipes no principal papel. Pelo que me lembro, diverti-me mais a ver Blade do que a ver o Hancock.
O Spawn (1997), não conta.

Etiquetas: , , , ,

quarta-feira, julho 2

Pathfinder

Este filme é tão mau, mas tão mau, mas tão MAU!!!

Meu deus este filme é mau.

E não é mau ao ponto em que volta a ser bom! Não, é mesmo só mauzinho.

Cai em todos os clichés, contradiz-se, é repetitivo (tem várias batalhas finais) e ao fim de uma hora torna-se totalmente previsível e aborrecido.

O filme é sobre as primeiras incursões que os Vikings fizeram na América do Norte, e sobre um rapaz viking que é acolhido por uma tribo índia e depois luta contra os vikings. E pronto, é só isto o filme.

Como pontos positivos podemos dizer que tem uma excelente fotografia, que tem o Clancy Brown e que tem vikings à espadeirada!
(não há filmes suficientes com vikings à espadeirada...)

Não vos vou maçar com uma crítica de um filme que não vale a pena ser visto, vou só dar-vos um resumo dos meus pormenores preferidos.

- a personagem principal aparece, no início do filme, em criança com olhos azuis e cabelos louros. "15 anos depois" tem cabelo preto e olhos escuros.

- a personagem que é o rival da personagem principal, e que cai no estereótipo de querer a mesma rapariga, estar a lutar pelo mesmo lugar na hierarquia, a determinada altura no meio do filme, e sem nenhuma razão aparente, resigna-se pacificamente a morrer e a deixar a rapariga para a personagem principal.

- a determinada altura há uma luta com um urso na qual se vê a mesma imagem do urso a rugir várias vezes, e uma pata de urso de borracha.

- há uma cena verdadeiramente original, na qual a personagem principal monta uma armadilha para os vilões, mas são os seus próprios amigos que caem nela.

- há uma cena verdadeiramente deliciosa que é uma mistura da cena em que Obi-Wan Kenobi fala ao Luke Skywalker enquanto este voa na Estrela da Morte e a cena em que o Connor Macleod corta algas no fundo do lago, todo feliz porque não pode morrer.
De qualquer modo, a personagem principal levou uma pancada na cabeça, está no fundo do lago a afogar-se e o shaman da tribo, que já tinha morrido numas cenas anteriores, aparece e há o seguinte diálogo:

Personagem Principal: Grande shaman, o que é que eu devo fazer?
Shaman: Conseguiste ganhar a confiança dos teus inimigos, isso é bom!
Personagem Principal: Mas eu estou a morrer.
Shaman: E vens-te queixar disso a mim?

E dá-lhe um murro na tromba!

Não estou a gozar! O shaman, depois deste diálogo profundíssimo passado debaixo de água, dá um murro no nariz da personagem principal.
Ri-me alto.

- No fim, depois da avalanche que mata todos os vilões e, aparentemente, a personagem principal também, está a aldeia toda muito triste porque ele morreu, e o que é que acontece? Aparece ele no meio das pessoas, meio esgroviado mas bem, sem nenhum tipo de justificação dele, nem do argumento sobre como é que conseguiria ter sobrevivido! É tão bonita a magia do cinema!

A sério.... não percam tempo com esta treta.
O melhor que posso dizer deste filme é: ainda bem que não gastei dinheiro para ver isto no cinema!!!

Se não quiserem ver o filme (e se não quiserem é porque são espertos) vejam antes este vídeo que vos mostra tudo o que há de bom no filme!

Etiquetas: , , , ,

terça-feira, julho 1

Do schools today kill creativity?

É um bocado longo mas vale a pena.
Sinto-me particularmente embrenhada nesta discussão, da quantidade de capacidades que são sobrevalorizadas em detrimento de outras . Com que fim compreende-se, mas que fim terá isto a longo prazo é q acho q ninguém quer compreender. De qualquer forma estar alerta já é um começo. Este é o meu começo aqui no blog do des1biga.

George Carlin - Ten Commandments

O ateísmo. Delicioso.
Morreu há pouco tempo e vai fazer falta.
Aqui vai, como reduzir os 10 mandamentos.

Les Bigotes

Jacques Brel era mais do que um cantor, ele interpretava as suas canções.

Exemplo característico disso é a sua interpretação da música Les Bigotes, de 1962, no qual vai imitando os passinhos das Beatas enquanto estas andam nas procissões ou mexericam umas com as outras.



LES BIGOTES
1962

Elles vieillissent à petits pas
De petits chiens en petits chats
Les bigotes
Elles vieillissent d'autant plus vite
Qu'elles confondent l'amour et l'eau bénite
Comme toutes les bigotes
Ah si j'étais diable en les voyant parfois
Je crois que je me ferais châtrer
Si j'étais Dieu en les voyant prier
Je crois que je perdrais la foi
Par les bigotes

Envelhecem num passinho miudinho,
de cãezinhos em gatinhos...
As beatas!
Envelhecem tanto mais depressa
como confundem o amor com água benta...
Como todas as beatas!
Se eu fosse o diabo, ao vê-las passar,
acho que me faria castrar...
Se eu fosse Deus, ao vê-las rezar,
acho que ia perder toda a minha fé,
graças às beatas...

Elles processionnent à petits pas
De bénitier en bénitier
Les bigotes
Et patati et patata
Mes oreilles commencent à siffler
Les bigotes
Vêtues de noir comme Monsieur le Curé
Qui est trop bon avec les créatures
Elles s'embigotent les yeux baissés
Comme si Dieu dormait sous leurs chaussures
De bigotes

Elas vão na procissão num passinho miudinho,
de água benta em água benta...
As beatas…
E tagarelam, patati, patata...
E as minhas orelhas começam a assobiar...
As beatas...
Vestidas de negro, como o senhor padre,
que é muito bom para todas as criaturas,
elas embeatam-se pondo os olhos no chão
como se Deus dormisse sob os seus sapatos
de beata...

Le samedi soir après le turbin
On voit l'ouvrier parisien
Mais pas de bigotes
Car c'est au fond de leur maison
Qu'elles se préservent des garçons
Les bigotes
Qui préfèrent se ratatiner
De vêpres en vêpres, de messe en messe
Toutes fières d'avoir pu conserver
Le diamant qui dort entre leurs f...
De bigotes

No Sábado à noite, depois do trabalho,
encontra-se o operário parisiense...
Mas, beatas não!
Porque é fechadas em casa
que elas se protegem da rapaziada...
As beatas,
que preferem encarquilhar-se
de novena em novena e de rosário em rosário
todas orgulhosas de terem podido conservar
aquele diamante que lhes dorme entre as n(ádegas)...
de beata...

Puis elles meurent à petits pas
A petit feu, en petits tas
Les bigotes
Qui cimetièrent à petits pas
Au petit jour d'un petit froid
De bigotes
Et dans le ciel qui n'existe pas
Les anges font vite un paradis pour elles
Une auréole et deux bouts d'ailes
Et elles s'envolent... à petits pas
De bigotes.

Depois, elas morrem num passinho miúdo,
com uma chamazinha, aos montinhos,
as beatas...
Que "cemiteriam" num passinho miúdo,
de manhãzinha, com friozinho,
as beatas.
E lá no céu que não existe,
os anjos fazem à pressa um paraíso para elas.
Fazem-lhes uma auréola e duas asas,
e elas esvoaçam... em passinhos miudinhos
de beata...