Em defesa do Grémio Lisbonense
Na tarde de sexta-feira - 8 de Fevereiro - ao receberem a notícia de que peças de mobiliário e outros objectos estavam a ser retirados das instalações do Grémio Lisbonense, sócios e amigos da associação deslocaram-se ao Rossio, iniciando uma manifestação pacífica, contra o que seria o fim de uma colectividade com mais de 150 anos de história e mais um passo na desvitalização do centro histórico lisboeta, já tão abandonado.
O Arco da Bandeira, local tão emblemático quanto apetecível aos interesses imobiliários e hoteleiros, foi-se enchendo de gente. Pouco depois das 19:00, continuava a remoção de objectos do interior do Grémio, na presença de 5 polícias, que se encontravam no segundo lanço de escadas do edifício. Realiza-se, então, uma assembleia no átrio (a segunda daquela tarde) onde é tomada a decisão de subir as escadas e ocupá-las, continuando desta forma o protesto.
À subida dos manifestantes, a polícia responde com as primeiras bastonadas. Não houve qualquer tentativa de resposta violenta, ninguém (à excepção dos polícias) possuía qualquer objecto que pudesse ser considerado perigoso ou ameçador. São pedidas as identificações dos agentes que não as apresentavam visíveis e estes recusam-se a fazê-lo. Grita-se "o Grémio é nosso", "Lisboa a quem a vive" e "repressão policial, terrorismo oficial". Estavam presentes alguns jornalistas, com os seus microfones e câmaras fotográficas, chegando ainda um outro com uma câmara de filmar, responsável pelas imagens que fizeram a abertura dos telejornais.
Minutos mais tarde, ainda que nunca tenha havido qualquer tentativa de ultrapassar a barreira policial, e mantendo-se a maior parte das pessoas sentadas, chega um segundo grupo de polícias, cerca de dez. Estes abrem caminho pelas pessoas que se encontravam no edifício, empurrando-as. Quando chegam ao segundo lanço de escadas, tanto estes como os restantes cinco polícias desembainham os seus cacetetes, começando a bater, empurrar, pontapear indiscriminadamente os presentes (incluindo os jornalistas). Os apelos à calma gritados pelos manifestantes não foram ouvidos. As pessoas tentavam sair, mas sendo o espaço exíguo e a violência rápida, vários foram os que caíram e foram pisados.
O cordão policial formado à entrada do edifício e o bloqueio da rua obrigaram as pessoas a deslocarem-se para o topo sul da praça do Rossio, onde permaneceram.
Um jovem havia sido preso e levado para a esquadra da PSP da Estefânia, sem que ninguém se apercebesse. Só no dia seguinte se tornou público o que lhe acontecera. Foi agredido e ameaçado, antes sequer de lhe serem lidos os seus direitos, saindo da esquadra com a acusação de tentativa de agressão e desarmamento do polícia que lhe tinha batido a ele.
Na passada quarta-feira - 13 de Fevereiro - uma nova manifestação aconteceu no Rossio, junto ao Arco da Bandeira. Pelo Grémio, como espaço de cultura e vida da população, mas também para que se denunciem os casos de violência policial, de que este relato é só um exemplo.
Esta atitude repressiva e absolutamente injustificável face a um protesto pacífico é apenas o reflexo daquela que é uma realidade quotidianamente sentida por muitos e muitas. E as principais vítimas desta actuação são certamente a população que soma à condição de pobreza, a discriminação da ilegalidade e da cor da pele.
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