terça-feira, maio 6

Porco Rosso

Há bom anime, há muito bom anime, e há mau anime.
E depois há aquele anime que passa pelas frestas e nunca é devidamente apreciado.

Hayao Miyazaki é conhecido no Ocidente sobretudo pelos filmes Princesa Mononoke e a Viagem de Chihiro (os mais velhos de entre nós poderão lembrar-se da Heidi, do Marco, e, quem sabe até talvez, do Conan o Rapaz do Futuro, mas já não é tão certo que os associem a Miyazaki).

No início da década de '90 uma companhia aérea japonesa pede a Miyazaki que lhes faça um filme de animação para mostrar nos seus aviões, nas viagens de longo curso, para empresários yuppies em privação de oxigénio. Daí, em 1993, nasce Porco Rosso.

Porco Rosso é a história de um aviador com cara de porco (a que é que pensavam que o título se referia?) que pilota um avião encarnado no mar adriático, caçando piratas do ar.
Eu avisei-vos que era para empresários japoneses privados de O2...

O facto de Porco (porque esse também é o nome da personagem principal) ter cara de porco é aceite por todas as outras personagens com uma naturalidade desconcertante. A razão pela qual isso acontece não é perfeitamente clarificada durante o filme e a interpretação é deixada ao espectador.

Mas vamos lá com calma... Todo o filme se passa em paisagens mediterrânicas com mares azul turquesa, pequenas ilhotas e céus limpos. Os cenários têm a riqueza cromática e de pormenor cujo expoente máximo é a Viagem de Chihiro (2001). Cada plano do filme é um quadro em si. Dá GOSTO olhar para os cenários e iluminações e sombras e cores deste filme. As várias cenas passadas em ambientes mais urbanos são todas pintadas em tons suaves e quentes (algures entre o amarelo, o cor-de-laranja e o castanho) dentro dos quais contrasta o avião encarnado de Porco.
As personagens têm o desenho típico da animação japonesa (que ou se gosta ou se odeia) e a sua animação é (digo eu) muito mais rica de pormenor e expressão do que qualquer filme de animação ocidental. Basta verem cenas de multidão, e há sempre, mas sempre, pormenores nos figurantes. Nada é deixado ao acaso. Miyazaki tem amor ao detalhe.

A história enquadra-se (apesar de isso nunca ser claramente explicitado durante o filme) na Itália fascista pré II Guerra Mundial. Porco Rosso é o último dos aviadores aventureiros que se recusa a voltar para a Força Aérea e a lutar pela "pátria". Entre resgates de turistas, perseguições aéreas e duelos aeronáuticos, vamos descobrindo a história de Porco, as suas desilusões e os seus amores perdidos.

O que me continua a fascinar nos filmes de Hayao Miyazaki é a ausência de um vilão. Há antagonistas, não me interpretem mal! Senão a história não andava para a frente. Mas estes antagonistas são sempre mostrados como sendo de tal forma ridículos, risíveis, trágicos ou simplesmente humanos, que se torna impossível não empatizar com eles, ou, no mínimo, compreendê-los. Porco Rosso é um exemplo claríssimo disso, sendo que o seu antagonista principal é um aviador americano que ambiciona ir para Hollywood e, eventualmente, tornar-se presidente!

A cereja em cima do filme é a música de Joe Hisaishi. Compositor da banda sonora da quase totalidade dos filmes de Miyazaki e dos estúdios Ghibli, Joe Hisaishi compõe para Porco Rosso uma banda sonora reminiscente dos filmes de aventura de Errol Flynn misturada com músicas de Edith Piaf (ou então que são tão semelhantes que poderiam ter sido cantadas por ela).
Joe Hisaishi é um dos grandes compositores de bandas sonoras de sempre, lá em cima com John Williams, Danny Elfman e Ennio Morricone.
Não estou a brincar, a sério, se tiverem oportunidade façam download dos seus discos (de uma forma inteiramente legal a partir de sites creditados e fidedignos) da internet, e ouçam-no! Vale bem a pena.

O resultado é um filme completamente delicioso. Já o devo ter visto umas 5 vezes e não me canso. É como comer chocolate ou beber um bom vinho. É uma doçura de filme, completamente imperdível e que, tragicamente, vai ser perdido pela vasta maioria das pessoas.

É um daqueles filmes que se escapa por entre as frestas...

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1 comentários:

a 06 janeiro, 2013 18:40, Anonymous Anónimo disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 

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