The Devils

Inevitavelmente, depois de se ver umas centenas de filmes, surge alguma dessensibilização.
Apesar de tudo continuo a ser extremamente permeável às mensagens emocionais dos filmes, mas mesmo assim, apesar de isso ainda acontecer com intensidade, acontece com cada vez menos frequência.

The Devils, de 1971, realizado por Ken Russel, deve ter sido dos filmes mais desagradáveis que eu vi nos últimos tempos.

E não é desagradável da mesma maneira que o Twilight é desagradável. O Twilight é só ridículo e aborrecido. O The Devils é fisicamente desconfortável de ver.

Tomando lugar na França do Séc. XVII, o filme conta a história do Padre Grandier (Oliver Reed), um bon vivant demasiado esperto para seu próprio bem, que se vê no meio de uma conspiração governamental para retirar a autonomia à cidade que está sob a tutela da sua Igreja. Para o remover do poder, as autoridades locais recorrem à Santa Inquisição e aos histerismos de uma freira (Vanessa Redgrave) para o acusarem de bruxaria e condenarem-no.

O filme é um ataque aos sentidos, alternando rapidamente entre cenários quase a preto e branco para cenários com cores extremamente saturadas, planos de câmara improváveis e uma montagem caoticamente acelerada. Não tem sequer propriamente aquilo a que se possa chamar uma banda sonora, consistindo o som do filme em misturas aleatórias de sons e instrumentos sem qualquer melodia.

Tudo isto, sem sequer chegar à extrema violência física, psicológica e sexual do filme. As cenas de tortura e exorcismos pela Santa Inquisição, são particularmente difíceis de suportar.

Interessantes também são as cenas da mais deliciosa heresia, a maioria das quais passadas no imaginário da freira histérica, e quando todo o convento de freiras é convencido que está possuído por demónios.

Um filme que mostra com imensa brutalidade a máquina de ignorância, violência e manipulação que a igreja é, esteve proibido em portugal até 1974.