terça-feira, agosto 1

Número 92, 7º dto

Ontem saí de casa. Vou mudar-me para outra rua de Lisboa, dado que dois ilustres redactores (que não vão às reuniões) do Des1biga vão partir para Praga, obrigando-me a mudança de companheiros de casa.
Saí de casa e vou ter saudades do 7º direito do número 92, na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro. Afinal, foram três anos, tempo mais que suficiente para construir coisas, destruí-las, fazer festas inesquecíveis, enfim. Saudades grandes.
Uma casa é uma casa, e inclui não só a orgulhosa estrela vermelha pintada no muro ao lado como o vizinho surdo do primeiro andar, que passou três anos a cumprimentar-nos com frases generalistas, iludindo-nos acerca da sua situação.
O 7ºdireito tinha sempre a louça por lavar, cotão em todo o lado e cheirava mal. Não havia comida no frigorífico, às vezes faltava o papel higiénico, a casa de banho parecia pública e raras eram as vezes em que nos preocupávamos verdadeiramente com isso. Porque o 7º direito do número 92 era isso mesmo. Era a cafunguice no seu esplendor.
Tinha vida, o raio da casa. Tinha vida porque estava sempre alguém a bater à porta, porque havia fotos míticas na parede e moedas estrangeiras coladas em todos os interruptores. Estavam frases que só nos percebíamos escritas em papéis colados na parede, bandeiras espalhadas e um cachecol do Che pendurado na sala desde o primeiro dia em que lá estivémos. Havia uma placa que dizia saída de emergência em alemão na única saída da casa e fita da polícia catalã rodeava a porta da casa de banho.
A torneira da cozinha pingava e estava a espirrar água (houve uma altura em que a louça era lavada na banheira) e até disso vou ter saudades.
E como esquecer as histórias? Dos amores e desamores que lá se passaram (ahum) até ao espectacular salvamento da esquizofrénica do 5º andar. As festas míticas (como aquela em que se partiu a cama, já de si desengonçada), a noite em que conhecemos as vizinhas do outro prédio, o dia em que a televisão caíu no primeiro golo do Benfica ao Liverpool e até a saída de máquina de lavar do prédio nestas mudanças será sempre uma história para contar.
A casa cheirava mal. Mas vou ter sempre saudades dela.

1 comentários:

a 04 agosto, 2006 11:33, Blogger Pulga disse...

Nova casa, novas aventuras ;)

 

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