Gatos
"Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fataisQue regem pedras e gentes,Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu.Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu." Fernando Pessoa, "Gato que brincas na rua"
2 comentários:
Que poema. Começa brando, dá um tema que se começa a desenhar nos espaços em branco, o poema confessadamente invejoso que inveja uma sorte que não tem nome. A do Gato que brinca na rua. E a pergunta, Porquê?
"Bom servo das leis fatais / Que regem pedras e gentes"
mas só isto não chega! O gato sente só o que sente. O que conhece é o produto simples de associações, que o senso comum de que é dotado através dos seus “instintos gerais” (que por sinal são dos bons) lhe permite articular.
Agora vem a parte fodida: "És feliz porque és assim"...
É? O gato. Feliz?
Vamos admitir que sim, que o sentir do gato tão puramente sensorial, garante ao bicho uma predisposição para a Felicidade, contando que seja lícito projectar-lhe um profundo sentimento humano descrito por uma palavra, o melhor que ela consegue.
A poesia também tem disto, aproximações necessárias a qualquer modelo que procure descrever um sistema complexo. E este poema descreve o Homem, que consciente do vazio que é de si, ao ver-se (provavelmente contra um espelho) reconhece que não se pode conhecer. O nada que é nunca pode ser seu.
Só que a sorte do gato continua a ser parecida 'a sorte do gajo que ganha o euro milhões e tem o prémio perdido para sempre num molhe de papéis dentro de um caixote do lixo, um qualquer que nem tenha nome.
Seja como for, Eu que estou acordado há 36 horas a sério que tenho inveja do gato. Olha, se calhar é por isso que se diz que dão azar.
Your are Nice. And so is your site! Maybe you need some more pictures. Will return in the near future.
»
Enviar um comentário
<< Página Principal