terça-feira, agosto 8

Xeque ao sistema

O artigo que se segue é longo, mas vale a pena. Nem que seja pelo trabalho que tive a traduzir isto tudo, leiam-no se faz favor.

“Os comunistas da União Soviética promoviam o xadrez para melhorar o nível intelectual da população e como resultado, apesar de três guerras devastadoras (I Guerra Mundial 1914 – 1918, Guerra Civil 1918 – 1921, II Guerra Mundial 1941-1945), os soviéticos foram os primeiros a enviar para o espaço uma nave com um homem a bordo (Gagarin) e criaram uma sociedade muito culta e internacionalista, transformando num par de décadas um país agricultor numa potência industrial. Mas só comecei a analisar a relação entre o xadrez e política, o xadrez e o capital em Espanha.

(…)

Com o tempo descobri que em 10 torneios internacionais, 9 jogam-se em zonas controladas por socialistas ou partidos de esquerda. Poucos torneios se jogam em zonas controladas pelo PP, e realizam-se devido a entusiastas do xadrez, sem qualquer apoio governamental.

A pergunta é: porquê? Porque é que governantes de esquerda, mais próximos da população, dão mais apoio ao xadrez? A resposta é simples. A força educativa do xadrez é poderosa e todos a percebem, daí que partidos de direita, que representam e defendem magnatas, criem obstáculos à sua promoção. Os magnatas modernos são iguais aos antigos, e preferem ver o povo ignorante, calado, facilmente manipulável. Não é segredo que uma grande parte dos benefícios dos magnatas chega de negócios sujos, anti - humanos, sangrentos. A cegueira intelectual do povo é uma garantia para os magnatas continuarem a ter as suas especulações, guerras, etc, conseguindo enormes benefícios económicos para si, e pobreza, lágrimas e desespero para grande parte da população trabalhadora.

Há pouco tempo, o mítico lutador pelos Direitos Humanos, ex – Presidente da África do Sul, um homem valente e inteligente, Nelson Mandela, deixou bem claro num meeting em Londres: “A pobreza é uma coisa artificial criada por certas forças.”

Estou totalmente de acordo com ele. O mundo é muito acessível agora. Umas horas de avião e dos países ricos chega-se aos mais pobres. Quanto tempo existiria esta situação se os humanos percebessem que acima de tudo são humanos, e os ricos tivessem que dar os milhões que não sabem onde gastar aos pobres? Em quanto tempo seria necessário criar uma indústria moderna num país pobre para dar melhor conforto à sua população? Anos, meses? A minha reposta é: semanas. Mas assim os magnatas perderiam grande parte dos seus benefícios, porque já não se podiam aproveitar das enormes desigualdades económicas que existem no Mundo.
(…)Não vos surpreende que revistas e programas de televisão dediquem uma enorme parte do seu tempo a coisas insignificantes, como detalhes de transferências futebolísticas e “namorados” e “namoradas” da moda, etc, quando ao mesmo tempo, em Espanha, (…) o número de filhos que nasce é muitíssimo mais baixo daquele que é necessário para manter a população?
(…)

Não vos surpreende que só há muito pouco tempo os governos europeus, depois da pressão das razões científicas e de senso comum, tenham restringido a promoção do tabaco, um veneno que retira em média 8 anos de vida, o suficiente para as pessoas não gastarem aquilo que acumularam a vida toda, permitindo que esse dinheiro continue em certos poderes e certas pessoas?

Não vos surpreende a enorme propaganda pelo ódio e desdém a outros povos, que começa nos livros de história? Que forças são essas que querem separar as pessoas? São os mesmos que querem enganar as pessoas, torná-las manipuláveis, fazê-las lutar contra outros humanos e tirar benefícios económicos disso. Para essas forças, o xadrez é o inimigo número 1, porque faz desenvolver a mente, amadurece o carácter, acaba com as diferenças e une as pessoas. Tudo ao contrário do que os magnatas querem.

A explicação que o xadrez não tem patrocínios porque é pouco espectacular parece-me ridícula e nociva. (…) As coisas não se medem pela sua capacidade de mediatismo. Segundo as estatísticas, 90% da informação solicitada na Internet é pornografia.

Quando uma televisão privada dos USA decidiu mostrar a pena de morte por cadeira eléctrica, uma enorme quantidade de gente pagou para ver esse “show”. (…) Reality shows precisam de ser vendidos porque é difícil explicar a atracção de um indivíduo pela vida de outras pessoas. Mas isso, a televisão consegue-o de modo exemplar, contratando os melhores actores e provocando um interesse doentio nas pessoas, para poderem vender esse ridículo em vez de criarem, por exemplo, um programa de educação sexual e emocional para jovens – e não só jovens que querem casar.

Sim, o xadrez não é um show. É muito mais do que isso. O xadrez não precisa de ser “vendido”. Jesus Cristo não vendeu as suas ideias de união das pessoas e da força do espírito humano. Difundiu-as e elas aumentavam em número de partidários porque só por si são grandes e justas. É o caso do xadrez.

O xadrez é algo tão positivo para a sociedade que pode andar por si só, com uma pequena ajuda governamental, podendo aumentar notavelmente a inteligência da população e melhorar a qualidade de vida das pessoas. O sítio do xadrez não é a televisão, são as escolas e as casas. O xadrez não é para os olhos – já temos que chegue para esses – é para a mente, para a evolução espiritual de um indivíduo e de uma sociedade inteira.”



Excerto da entrevista do Grande Mestre de Xadrez Oleg Korneev a jornal digital Diario Siglo XXI

(artigo completo em http://www.ajedrezenmadrid.com/opinion/korneev_03.asp)