segunda-feira, novembro 27

O porquê de ser do Des1biga

Está ali, simplesmente à mão de semear de todos os que vagueiam pelos corredores entrelaçados, obscuros e incompreensíveis do hospital. Está ali, ninguém sabe muito bem porquê. Está ali porque os cérebros carcomidos pela disputa da sua própria exterminação mantêm algo de ingénuo e único. Surgem processos criativos – junções de ideias – a um ritmo inconstante, ora demente ora orgásmico, para morrerem antes de chegar ao mar como o rio de são Pedro de Moel. São esboços dos esgares das almas perdidas que se misturam com as da sua origem, os mortos e as angústias de um terreno permanentemente mutilado. Será do nosso olhar que nasce esta sede? Voltas e mais voltas, fica tudo no mesmo. Voltas e mais voltas, fica tudo, mesmo mesmo tudo assim, estático, como se o que se tivesse passado fora apenas um retrato de um louco – como se esses houvessem! – e de nós resta-nos o passar por ali, onde o mundo acaba e começa, onde as paredes são escuras… Vêem? É assim que acontece. No curto-circuito - da auto percepção das redes que atravessam corpos calosos, hipocampos e interligam hemisférios - que se dá naquele ponto preciso do nosso córtex pré-frontal, nasce a imagem de que também pudemos escrever. Na orgia dos nossos corpos enfastiados, das nossas mãos desengonçadas, da nossa boca empastada com tanto empastamento, dos nossos olhos cegos e das nossas pernas e genitais o horror de se atingir o âmago do vazio, ficamos assim, parados a olhar o vácuo e outras vezes com a caneta na mão, a escrever.

2 comentários:

a 28 novembro, 2006 13:47, Blogger R. disse...

Congratulo-te por conseguires ser fiel ao que se passa no momento da criação. Nunca consegui fazê-lo. A última frase está genial.

 
a 28 novembro, 2006 17:46, Anonymous Anónimo disse...

já que andamos armador em jovens criadores, um pequeno comentário pessoal acerca da tua escrita:

tem qualquer coisa de existencialismo visceral (no sentido de profundo, orgânico, límbico), que eu tenho medo de fazer pela frustração de Sartre o ter pensado antes de mim. ainda bem que não tens esse temor. o existencialismo bem concretizado auto-justifica-se em qualquer época, antes ou depois seja de quem for.

PS: queremos postais da Escócia.

 

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