« Pandeiros rotos e coxas taças de cristal aos pés da muralha.
Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princesas mortas.
Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mãos esguias e de cabeleiras embranquecidas.
(...)
Ouvem-se, na sala que já nem existe, compassos de danças e risinhos de sedas.
(...)
Noites de insónia com as galés no mar e a alma nas galés.
Archeiros amordaçados na noite em que o coche era de volta a palácio pela tapada d'El-rei. Grande caçada na floresta - galgos brancos e Amazonas negras. Cavaleiros vermelhos e trombetas de oiro no cimo dos outeiros em busca de dois que faltam.
(...)
O sapato d'Ela desatou-se nas areias, e foram calçá-lo nas furnas onde ninguém vê. Nas areias ficaram pegadas de um par que se beija.
Notícias da guerra - choros lá dentro, e crepes no brasão. Ardem círios, serpentinas. Há mãos postas entre as flores.
E a torre morena canta, molenga, doze vezes a mesma dor. »
Ruínas, Almada Negreiros
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