«A interminável ladainha anticomunista não produziu frutos na alma desta gente rendida à hora pandémica de uma só bandeira: «O povo unido jamais será vencido.» Tal é o uníssono que intermitentemente irrompe sobrepondo-se a outros slogans mais espaçados e menos tonitruantemente entoados pelo ciclópico coral. Aqui me detenho. O daimónico «merda, sou lúcido» que no revólver do poeta põe a bala que ele dispara contra si próprio isola-me do regozijo unitarista que se exprime numa frase forjada no laboratório da manipulação das massas. «O povo unido jamais será vencido.» Torna-se evidente que, no fogo da exaltação colectiva, mais uma vez se põe a aquecer este chá de Lenine. «Se não consegues a maioria, proclama a unidade.» Mas neste parêntesis de ácido logismo apenas aborreço quem o põe ao lume. Porque a chama, essa é pura e lindíssima.»
Natália Correia, in «Não Percas a Rosa»
1 de Maio de 1974
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(Agoram vejam lá a etiqueta e as boas maneiras, amiguinhos. A senhora é para ser tratada com respeito político, mesmo que não vos assombre o registo literário. Olhem que até foi deputada, e não foi pelo PC.)
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