terça-feira, agosto 11

The Assassination of Richard Nixon



Este filme...

A sério...

...

O filme começa com Sam Bicke, no carro, a fazer a barba, a amarrar uma prótese metálica à perna, a pegar na sua mala e a sair do seu carro que está no estacionamento, e a entrar no aeroporto.
O realizador decide que isto precisa de mais contexto, por isso o filme volta uma semana atrás no tempo.

Vemos Sam Bicke no seu quarto a escrever uma carta a Leonard Bernstein (o maestro da orquestra sinfónica de Nova Iorque) a explicar porque é que vai matar o Presidente Richard Nixon.
O realizador decide que isto ainda não serve de contexto, por isso o filme volta atrás no tempo um ano inteiro.

E vemos a vida de Sam Bicke.

Sam Bicke é um homem honesto. Obsessivamente honesto, intransigente na sua visão do que é correcto e errado no mundo.
Sam esforça-se demasiado. Esforça-se por manter o emprego de que não gosta, esforça-se por agradar à ex-mulher, esforça-se por ser um bom pai, esforça-se por subir na vida.

Mas a América dos anos '70 não foi feita para homens como Sam Bicke. No filme a América é mostrada pelos olhos honestos e íntegros de Sam, cada corrupção, cada desonestidade são monstruosidades intoleráveis para ele.
Sam Bicke vê-se confrontado com a necessidade de trair aquilo que para si são os seus princípios mais sagrados, mais basilares, para poder continuar a funcionar como a sociedade espera que ele funcione.
Inevitavelmente falha.

Tal como tudo o resto inevitavelmente falha.

O filme é uma progressão lenta e dolorosa de cada fracasso pessoal, de cada humilhação, cada revés, cada frustração, do desmoronar da vida deste homem sofrido.

Sam Bicke esforça-se tanto!

A interpretação de Sean Penn é perfeita, absolutamente perfeita. Todas as nuances, todos os olhares, todos os gestos traem o sofrimento intenso que Sam Bicke sente todos os dias da sua vida.

A honestidade de Sam Bicke levam a que ele se revolte contra os desonestos e os mentirosos. E quem, na América dos anos '70 era mais desonesto e mentiroso que Richard Nixon?

Sam desenvolve uma obsessão doentia por curar o cancro do sistema, por mostrar aos poderosos que mesmo um zé-ninguém como ele tem poder, e que pode abalar as coisas.

Por isso põe em marcha um plano desesperado, um delírio, que ele acredita que vai mudar tudo.

E conta tudo a Leonard Bernstein, acompanhado de música clássica.



The Assassination of Richard Nixon foi, definitivamente, uma das experiências cinematográficas mais dolorosas da minha vida. O filme é absolutamente emocional, e consegue de uma forma soberba transmitir as emoções da personagem principal trágica.
Isto deve-se, quase a 100% à interpretação fantástica de Sean Penn.

O filme é imperdível.
A não ser, claro, que estejam deprimidos, e nesse caso se virem o filme podem querer suicidar-se.
Deixo ao vosso critério.

Etiquetas: ,