segunda-feira, agosto 10

Serpico



O filme de polícias para acabar com todos os filmes de polícias! O melhor ao que o género pode aspirar, o ápex, o cúmulo, o clímax dos policiais!

Só é pena que esse pico tenha sido atingido há mais de 35 anos, e desde então nada tenha sequer chegado perto...

Estou a falar de Serpico de 1973.

Frank Serpico é o único polícia honesto numa Nova Iorque corrupta. Todos os polícias são corruptos, todos os departamentos são corruptos, todos os políticos e juízes e jornalistas são corruptos.
Serpico decide iniciar uma cruzada pessoal contra a corrupção, contra tudo e contra todos.

A personagem é extremamente intensa e profunda. Brilhantemente interpretada por Al Pacino, Serpico é um homem obcecado com a sua luta, revoltado com o sistema e que a determinada altura deixa de se preocupar com a sua própria segurança.
Abdica da sua vida, abdica das várias relações amorosas que poderia ter tido para tentar livrar o sistema policial da corrupção.
No entanto toda esta luta é, para ele, altamente destrutiva e dolorosa. As perdas são intensamente sentidas, o cansaço é duramente vivido, a frustração é pálpável.

Começando como mero agente de rua, e subindo numa carreira atribulada pelos vários inimigos que faz na sua cruzada contra a corrupção, Serpico descobre desonestidade em todos os amigos e aliados e desilude-se profundamente com isso.
No entanto continua, e leva a sua luta até às últimas consequências. Depois de ter perdido quase tudo, depois de já não ter nada a perder, essa luta é a única coisa que dá sentido à sua vida, e no fim do filme Serpico é um homem quebrado.

O filme é impiedoso na sua descrição da vida deste homem, mostrando cada aspecto da sua vida, em casa, com as namoradas, com os amigos e colegas de trabalho, a combater o crime nas ruas.
O filme por vezes parece um documentário. Não é que não tenha uma sequência lógica de eventos, mas todas as cenas parecem separadas umas das outras, sem um fio condutor aparente entre elas, saltando livremente de cenas dentro da esquadra para cenas dentro da casa da personagem.
Todas as cenas estão saturadas de pormenores ou informação relevantes. Não há momentos contemplativos, ou de comic relief, ou cenas familiares de conforto. Não é dado ao espectador um momento de descanso, onde recuperar o fôlego.
É-nos feito sentir o stress e tensão da personagem de uma forma quase física.

Nova Iorque é mostrada como uma cidade suja e violenta, cheia de chuva e lixo e becos e carros abandonados, onde Serpico se integra com a maior das facilidades.
É ridículo dizer que o filme retrata perfeitamente os anos '70, uma vez que foi feito em 1973, mas a verdade é que retrata realmente muito bem os anos '70. O fim do idealismo dos anos '60, a desilusão que se seguiu, as festas onde Serpico vai e onde se sente que toda a gente se está a esforçar demasiado por recapturar a ingenuidade da década anterior.

A música é esporádica, mas extremamente oportuna e intensa.

Serpico é um filme típico dos anos '70, que só podia ter sido feito nessa altura, e nunca nada tão bom dentro do género foi feito desde essa altura. O que é realmente uma pena, ou então só mostra quão bom o filme realmente é!



Ps: revendo o trailer, tenho de fazer notar que o Al Pacino tem o sentido de moda mais fantástico que eu já vi em qualquer filme.

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