quarta-feira, agosto 12

Collateral


Nova Iorque vs Los Angeles...

É como as velhas questões: gatos vs cães, baunilha vs chocolate, Beatles vs Elvis, cuecas vs boxers, bolo vs tarte, cuspir vs engolir, Piratas vs Ninjas.

Até podemos gostar dos dois, mas gostamos sempre mais de um do que do outro. E isso define-nos enquanto pessoa, pelo menos um bocadinho.

E os filmes passados em Nova Iorque ou em Los Angeles são definidos, pelo menos um pouco, pela escolha da cidade em que são filmados.

Isto dava todo um artigo (e possivelmente vá dar, não sei) mas resumidamente:
Nova Iorque é uma cidade claustrofóbica, suja, com pouco espaço pessoal, íntima, em que tudo é tomado pessoalmente, que cresceu como um organismo vivo, em que a sujidade e a lama e o sangue fazem parte do cimento que segura os velhos prédios de apartamentos e as decrépitas esquadras de polícia.
Los Angeles, por outro lado, é uma cidade grande, aberta, desenhada, construída, impessoal, estéril na sua corrupção, fria no seu calor de deserto, com os seus prédios de plástico e vidro a reflectirem uma população que não se importa, que está dessensibilizada.


Eu vi na semana passada o Public Enemies e não escrevi acerca dele porque tinha acabado de sair dos exames e não me apeteceu. Mas pensei que o filme sestava muito bem realizado, e pus-me a pensar nos outros filmes que o Michael Mann tinha feito, e decidi rever o Collateral.

Isto é mentira, obviamente. Eu estava a procurar na prateleira dos DVDs e apeteceu-me voltar a ver o Collateral outra vez, e depois é que me lembrei que o Michael Mann também tinha realizado o Public Enemies, mas pronto...

Há três histórias a decorrerem no Collateral.

A primeira é o enredo.
Max (Jamie Foxx) é um taxista em Los Angeles, que apanha Vincent (Tom Cruise) ao início da noite. Na primeira paragem, Vincent revela-se como assassino, e contrata (obriga) Max a conduzi-lo durante o resto da noite enquanto ele vai atrás de cada alvo na sua lista. A história progride como seria de esperar, com um polícia atrás deles (Mark Ruffallo), bandidos (Javier Bardem, numa aparição curta mas intensa) e até uma donzela em perigo que tem de ser salva (Jada Pinkett-Smith).

A segunda história, bem mais interessante, é a história entre Max e Vincent.
Max é taxista há 12 anos, é bom no que faz, mas tem outros planos, outros projectos que adia indeterminadamente. Vincent é um assassino frio, prático, niilista e que gosta de jazz.
Durante a noite, Max e Vincent desenvolvem uma relação de cumplicidade relutante, uma vez que precisam um do outro (Max precisa, sobretudo, que Vincent não o mate).
Vincent introduz-se na vida de Max e altera-a com a mesma frieza e desligamento com que mata pessoas aleatórias.
Ao longo do filme apercebemo-nos da profundidade de cada uma destas duas personagens e de quão defeituosas ou gostáveis conseguem ser. A história nunca nos deixa escolher claramente por quem torcer, mostrando-nos aspectos de um e de outro que nos fazem variar a nossa simpatia.
Kudos para Stuart Beattie, escritor.

Finalmente há a história de Los Angeles.
Este é um filme passado à noite em Los Angeles, e Michael Mann faz questão de o mostrar. Filmado todo com câmaras digitais (mais sensíveis às baixas luzes), Michael Mann dedica quaste tanto tempo e energia para mostrar a desolação urbana nocturna de Los Angeles quanto a mostrar a história e as personagens.
A fotografia é lindíssima, com os néons e os candeeiros de rua, e as luzes fluorescentes dos prédios, os semáforos, um céu ubiquamente cor-de-laranja.
Los Angeles à noite é uma cidade deserta, solitária, com estradas semi-vazias e sem vida. Este vazio reflecte, de alguma forma o vazio interior e solidão das duas personagens principais.

A música do filme alterna entre Bach, Miles Davis e música original de James Newton Howard, usada sempre de formas extremamente oportunas.

Tenho definitivamente de comprar este filme em Blu-Ray...

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