quarta-feira, agosto 16
"Vocês homens...Bem sei que o senhor é diferente. Mas os homens não compreendem estas coisas. Só pensam...Bem me entende, não é verdade? E para nós, muitas vezes, é o que tem menos importância. Se eu um dia escrevesse as minhas memórias...Olhe, podíamos combinar, eu contava-lhe e o senhor escrevia: até talvez fizéssemos fortuna. Pense que já vi directores de bancos e generais em cuecas e que tive que dizer ao ouvido de muita gente ilustre...palavras que a si tenho vergonha de lhe repetir. Enfim, o senhor imagina...Até cheguei a andar às cavalitas no lombo de um deputado com um chicotinho na mão, desses para fazer vista, que eles usam quando montam em Cascais...Tempos que já lá vão! Agora engordei. Tenho pouca saída, o senhor bem vê. E nunca soube viver pensando no futuro, fui sempre uma desgovernada."
Urbano Tavares Rodrigues. in «O Espírito»
2 comentários:
oh, faz-me muito lembrar os "estranhos perfumes" de Marie Darrieussecq subitamente uma jovem professora universitária de 27 anos na "coqueluche" da mais recente actualidade literária francesa.
Parábola sobre as nossas sociedades modernas — onde crescem as desigualdades, onde progride o "politicamente correcto", onde o culto da vida sã e da plástica perfeita se aparenta a uma nova religião, onde até o amor se tornou mortífero ... quem sabe não lhe fazem uma visita
« onde crescem as desigualdades, onde progride o "politicamente correcto" » - não poderia, agora, omitir uma passagem do prefácio do UTR a «A IMPOSSÍVEL EVASÃO», que precede este conto - «O ESPÍRITO» neste livro da colecção «Duas Horas de Leitura» (confirmo):
«Se algum protesto (nesta história que eu quis quanto possível lisa e nua) de entre muitos outros protestos mais audivelmente se eleva, é o que visa os falsos pais, falsos maridos, falsos amantes, falsos mestres, falsos valentes.»
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