Teeth
Teeth (2007) é um filme independente de terror, série-b. Etiquetas: cliché, independente, Jess Weixler, série-b, Teeth, terror
A maior parte das vezes isto só significa que o filme é bem mauzinho (mas não é por isso que eu deixo de gostar dele), mas estas condições por vezes originam algumas pérolas de cinema.
Teeth é um desses casos.
Para escrever este post vejo-me obrigado a revelar o tema do filme, algo que alguns de entre vós podem preferir não saber para verem o filme com a novidade que ele traz. A essas pessoas eu dou desde já os meus mais sinceros parabéns por quererem manter a sensação de descoberta e expectativa de ir ver um filme novo num mundo onde somos atacados por trailers, resumos e sinopses para onde quer que olhemos.
A essas pessoas aviso também para não continuarem a ler e convido-as a voltarem aqui ler o resto depois de terem visto o filme.
Já se foram embora?
Última oportunidade!
Não digam que não vos avisei...
Dawn (Jess Weixler) é uma adolescente que descobre que tem uma condição denominada Vagina Dentata. Ou seja, tem pequenos dentes afiados implantados na entrada do canal vaginal.
Esta é, por excelência, uma ideia digna de um filme de terror série-b! Imaginem, uma rapariga com dentes na vagina, que arranca o pénis a qualquer um mais incauto que a ofenda ou magoe!
Nos filmes slasher dos anos '70 e '80 as personagens que tinham sexo durante o filme acabavam, inevitavelmente, por morrer às mãos do monstro/assassino/psicopata. Era uma forma velada de criticar o sexo na adolescência, ou de dar um carácter menos virtuoso a personagens que de qualquer forma teriam de morrer durante o filme. Mas fossem quais fossem os motivos que levaram à criação desse padrão, a verdade é que esse padrão se tornou tão repetitivo que se tornou não só previsível como uma própria característica identificativa desses mesmos filmes.
Em Teeth essa ideia é revisitada de uma forma pervertida, sendo que o monstro/assassino/psicopata é removido da história e é o próprio acto do sexo que é violento e homicida! Como se em todos os outros filmes slasher o monstro/assassino/psicopata tivesse sido sempre um intermediário que agora, finalmente, podemos dispensar e ir directamente ao assunto.
Mas isto sou só eu a divagar.
A história de Teeth está extremamente bem contada, sem exageros nem clichés.
Há sangue e gore, mas não em demasia, só o suficiente para nos fazer sentir arrepiados.
As interpretações também estão invulgarmente boas para um filme independente.
A personagem de Dawn, particularmente, está muito bem criada. É mostrada inicialmente como uma jovem que dá palestras sobre as vantagens e o orgulho da abstinência sexual. Sempre com tons religiosos (que nunca são explícitos) esta obsessão invertida com o sexo nunca é criticada durante o filme, mas é mostrada, em determinados momentos, quase como fanatismo (sobretudo na cena em que há um coro de crianças pré-adolescentes a repetirem a palavra "pureza" e "serpente"... assustador).
É exactamente quando Dawn quebra o seu voto de abstinência, e o rapaz com quem está começa a tornar-se violento que os "dentes" se revelam pela primeira vez (!?), com os resultados esperados. (sim, um pedaço de pénis decepado é mostrado)
Por outro lado o filme pode ser visto como um hino ao feminismo, uma vez que Dawn, inicialmente assustada pela sua Vagina Dentata, acaba por se aperceber do poder que o seu dom lhe traz e começa a usá-lo de uma forma não só protectora como também justiceira (ou vingativa, conforme queiram olhar para a coisa). O medo masculino de que uma mulher feminista de atitudes fortes e irreverentes poderá desmasculinizá-lo, neste filme toma uma dimensão completa e assustadoramente literal.
Finalmente, a música surpreendeu-me positivamente, porque não é de todo o que se esperaria para este tipo de filme. É uma mistura de música tribal com electrónica que transmite uma atmosfera de bizarria. Gostei sobretudo do facto de que sempre que Dawn se prepara para expressar o seu feminismo (isto foi um eufemismo para querer dizer que ela arranca o pénis aos homens à dentada - dentadas de vagina (não acredito que acabei de escrever isto)) começam a ouvir-se tambores africanos, como que para transmitir o carácter primitivo e ritualista do que se vai passar.
Em suma, é um bom filme, não é brilhante, mas é bom.
Pega numa ideia e explora-a de uma forma eficiente e directa, sem grandes subterfúgios nem artifícios.
Vale definitivamente a pena ver.
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