sexta-feira, agosto 25

"A época turbulenta da Revolução tinha passado e agora toda a gente, que era nova na sociedade, tratava de se instalar nos moldes que estavam disponíveis e que eram estreitos se não fosse um espírito de lucro que invadia todos os quadrantes. De certo modo era um espírito que vencia a moral comum, para a qual a pobreza era um dom muito poderoso, o que foi bem aproveitado pela marcha do proletariado. O velho Keynes mudara tudo com a sua fórmula da propensão ao consumo que forçava o emprego, fazendo crescer o rendimento das empresas. Com a descoberta de que os caminhos da riqueza são insondáveis, a corrupção entrou em vigor como se fosse um direito. Com a subida inflacionada dos salários, as pessoas criaram novos hábitos de gastos, conforto e desdém pelo aforro. Depressa cederam ao fenómeno do endividamento bancário e entregaram-se a um hedonismo desenfreado."
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Agustina Bessa-Luís, in «Jóia de Família»