sábado, maio 31

Goodnight Irene

Epá, uma pessoa não escreve aqui durante uns dias porque está ocupada com um teste de oftalmologia, e vêm logo outras pessoas querer transformar isto noutra coisa que não um blog de cinema.

Bem, vamos lá a ver se pomos isto nos eixos!

Eu tenho tendência a não me pronunciar acerca de filmes portugueses.
Por duas razões muito simples. Um, não conheço muitos filmes portugueses, não conheço os filmes de Manoel de Oliveira ou João César Monteiro, por isso não sinto que tenha uma noção histórica do que já foi feito, de um estilo e ambiente cinematográfico onde possa enquadrar um novo filme que veja. Segundo, tenho um preconceito muito grande em relação ao cinema português (acho que não presta), algo que, muito provavelmente, é explicado pela razão nº1 mas está presente e não há nada a fazer acerca disso.

Por isso levem estes dois factores em conta ao lerem a crítica de hoje.

O que me ocorreu é que posso pura e simplesmente olhar para o Goodnight Irene (2008), de Paolo Marinou-Blanco, como snedo cinema estrangeiro, descontextualizado das limitações portuguesas. Avaliar o filme como se ele não fosse português. Como se fosse mais um filme qualquer. Afinal, porque é que lá por sermos portugueses havemos de receber algum tipo de desconto?

Ora, portanto:

Goodnight Irene conta a história de Alex (Robert Pugh) e Bruno (Nuno Lopes), dois homens cuja vida é tocada por uma mulher chamada Irene (Rita Loureiro). A sua intensidade altera de tal forma a vida destes dois homens que, quando um dia ela desaparece misteriosamente, os dois têm de aprender a sair dos seus pequenos mundos, e aprenderem a lidar um com o outro, para poderem ir em busca de Irene.

Goodnight Irene tem boas ideias. Explora a solidão humana, a efemeridade da vida e como é que é valorizada, a importância das pequenas coisas, o amor, a amizade.
Mas a verdade é que é preciso fazer um grande esforço para encontrar estas ideias!
A história pura e simplesmente não tem ritmo. Podia ser lenta (o que não era mau), podia ser rápida (o que teria sido bom), mas acaba por se atropelar nela própria num momento para se arrastar dolorosamente noutro.

Os diálogos são na maioria das vezes completamente irreais. Não quero dizer que são surreais (são-no às vezes, e isso é bom), mas nos momentos em que seria suposto serem normais e naturais não o são. Ninguém fala daquela maneira na vida real.

Robert Pugh (um ilustre desconhecido dos tele-filmes britânicos) interpreta a personagem de Alex, e fá-lo com uma mestria shakespeariana! Alex é um ex-actor inglês a viver os últimos anos da sua vida em Lisboa. Faz narrações de publicidade turística e está desiludido com a vida. Sofrendo de um cancro terminal, tornou-se amargo e cínico. A interpretação de Pugh é um dos pontos fortes do filme, e é ele que torna o filme suportável.
Só é pena que a personagem seja tão mal escrita. Alex é um poço de frases-feitas e lugares comuns! Acaba por aborrecer e estraga uma personagem que seria, de outra forma, a mais interessante do filme.

Nuno Lopes interpreta Bruno, e conseguiu, para mim, fazer a única cena intensa do filme. Bruno é um homem que faz chaves (chaveiro?) e aproveita as cópias para entrar nas casas das outras pessoas e tirar fotos do interior das suas casas. É uma personagem tragicamente solitária, eternamente observadora da vida das outras pessoas, com medo de viver a sua própria vida. Mas é pena que a personagem seja muito pouco explorada, e Nuno Lopes não brilha como actor porque a escrita não lho permite.

Rita Loureiro, como a Irene titular, é uma má actriz, e a única coisa boa que se pode dizer dela é que a personagem desaparece a 1/3 do filme e não volta a aparecer!

A sensação que me dá é que tentaram fazer um filme que misturasse a energia de um filme do Kusturica (Black Cat, White Cat, por exempl), com a doçura e atenção ao pormenor de um filme do Jean Jeunet (Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain), mas não conseguem e acabam por não fazer uma coisa nem outra.

O filme acaba por se tornar maçador e incoerente, com muitas ideias aos pontapés e a não explorar nenhuma devidamente.

Gostei da música (que faz lembrar, mais uma vez, Kusturica) e a fotografia está fantástica!

Em suma: é um filme que falha em demasiados aspectos ao mesmo tempo para ser satisfatório, e são falhas que não se perdoam (nem sequer a um filme português, podemos não ter dinheiro para efeitos especiais, mas escrever bem não custa dinheiro). Só vale a pena ser visto como experiência de aprendizagem sobre como estragar o que podia ser um bom filme, ou se se gostar de filmes portugueses.

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