domingo, junho 15

Não tem nada a ver com cinema

É, eu consigo escrever coisas sem ser por cinema.

Se bem que, quem me conhece diria que quando eu não falo de cinema, falo disto, mas pronto...

Estava eu em casa, hoje de manhã, e tocam-me à porta. Vou à porta e dá-se o seguinte diálogo:

Eu: Bom dia?
Não-Eu: Bom dia! Gostaria de falar sobre a Bíblia?
Eu: Não, obrigado. Bom dia!

Só que o bizarro disto é que do outro lado da minha porta, não estava uma velhinha de aspecto pacato com revistas na mão. Não estava um homem de meia idade, com aspecto de pregador.

Do outro lado da minha porta estava um puto de 13 anos.

A sério!!! Um puto de 13 anos!!! Daqueles que têm borbulhas na cara, estão a dar o salto de crescimento e ainda não deixaram de ter falsete na voz!

Estava todo engravatado, e atrás dele estavam os caricaturais pregador e velhinha pacata de revistas na mão.

Mas era uma criança.

A perguntar-me se eu queria falar sobre a bíblia!

Só a mim é que isto choca?
Só a mim é que isto enoja?

É como ter crianças combatentes, é como abusar sexualmente de crianças. É obsceno!

É obsceno engravatar uma criança de 13 anos e pô-la a evangelizar pessoas.

É como pôr bombas numa criança e mandá-la para as linhas inimigas!

Quer dizer, o puto mal tem idade para decidir exactamente de que clube de futebol é que gosta, e já lhe estão a lavar a cabeça com religião!

Quem quer que faça isso a uma criança não é melhor que um pedófilo.

E eu? Que podia eu fazer?

Ir lá e meter-me na vida de outras pessoas? Pregar-lhes as minhas convicções sobre a teoria da evolução e sobre ciência?

Tentar salvar aquela criança da fé? Ensiná-la que ela pode pensar pela sua cabeça, que há mais do que uma verdade, que ela pode decidir o que é que ela acredita que é certo ou errado?

Meter-lhe dúvidas na cabeça, para que daí pudessem surgir ideias próprias?

Que é que eu podia fazer?

Acabei por não fazer nada... cobardemente... tive imensas razões legítimas para não o fazer... "não tenho nada a ver com as maluqueiras de outras pessoas", "tenho mais que estudar", "não ia valer de nada porque depois o miúdo ia voltar para casa com aquelas pessoas outra vez".

Mas a verdade é que não fiz nada para tentar resgatar aquela criança de uma vida de crença cega e dogmatismo absoluto.

Sou só humano... e nem isso é uma desculpa de jeito...

Etiquetas: ,