Il Deserto Dei Tartari
Etiquetas: Ennio Morricone, Il Deserto dei Tartari, Jacques Perrin, Max Von Sydow, Philippe Noiret, Valerio Zurlini
Il Deserto dei Tartari de 1976 é um filme realizado por Valerio Zurlini, uma produção francesa-italiana-alemã, baseada no romance homónimo de Dino Buzzati.
Tem um cast de estrelas, entre as quais Jacques Perrin, Philippe Noiret e Max Von Sydow.
Para começar, é um filme franco-italiano, dos anos 70, por isso é grande e chato, tal como a maioria dos filmes franco-italianos dos anos 70.
É extremamente lento, muito contemplativo, com pouquíssima acção e diálogos minimalistas.
Então porque é que este filme é bom (arriscar-me-ia a dizer muito bom) ou no mínimo, digno de nota?
Bem, a sinopse: O Tenente Drogo, recém formado pela escola de oficiais, é enviado por engano para o Forte de Bastiano, uma fortaleza numa das fronteiras mais remotas do Império, rodeada de deserto e montanhas. O objectivo desta fortaleza avançada é ser o primeiro bastião de resistência e alerta para quando o Inimigo do Norte vier.
Drogo chega ao Forte de Bastiano, e encontra uma colecção alargada de soldados e oficiais, todos eles altamente hierarquizados e militarizados, cuja função é, e sempre foi, esperar pelo Inimigo.
Os seus dias passam-se em exercícios militares, jantares entre outros oficiais, isolado de todo o mundo no forte de fronteira, à espera do Inimigo.
Todos eles à espera do dia em que o Inimigo decida atacar.
O filme é brilhante em vários aspectos.
Primeiro; na atmosfera que consegue criar. Filmado no Irão, a paisagem que rodeia o Forte Bastiano é desoladora e completamente inóspita, transmitindo verdadeiramente uma sensação de isolamento. Depois o próprio Forte Bastiano é um forte de tijolos, lama e terra, monocromático, com os interiores esquálidos e vazios, paredes vazias, corredores vazios, quartos minimamente mobilados, verdadeiramente opressivos. Para além disso, há referências constantes ao Inimigo que está à espreita e pode atacar a qualquer momento. É pervasiva durante o filme todo uma sensação de paranóia e antecipação, que passado algum tempo se torna completamente cansativa, e que contribui para a sensação geral do filme.
Segundo; as relações entre Drogo e os outros oficiais estão extremamente bem conseguidas, com diálogos minimalistas e representações fortíssimas que conseguem transmitir toda uma gama de emoções extremamente fortes (raiva, desespero, tristeza, frustração e até loucura) oprimidos pelo sistema militar imposto.
Terceiro; o filme é uma ode anti-militarista. Partindo da ideia brilhante de nunca identificar a que exército ou nacionalidade pertence a companhia de Drogo, ou sequer a nomear o país em que estão ou a nacionalidade do Inimigo, o filme deixa bem claro que esta é a unidade militar para representar todas as outras unidades militares, que este Forte Bastiano é todos os fortes do mundo. E depois mostra como estes oficiais e soldados passam a sua vida inteira (a história do filme desenrola-se durante várias dezenas de anos) em exercícios militares completamente inúteis, na espera interminável de um Inimigo que poderá vir. O filme consegue transmitir realmente a inutilidade militar.
Quarto: Drogo inicialmente quer sair do Forte Bastiano, arranja uma justificação médica, mas por não a conseguir entregar no momento oportuno, não consegue abandonar o Forte, e acaba por passar lá várias décadas da sua vida. É claro que Drogo não gosta do Forte, não gosta de estar lá à espera do Inimigo. No entanto depois de tantos anos, tanta vida sacrificada, tantos anos desperdiçados, a vinda do Inimigo é a única coisa que pode justificar a sua vida.
O ataque do Inimigo é a única coisa que pode salvar a vida de Drogo, é a única justificação possível para ele poder estar em paz com uma vida no Forte Bastiano. Por isso a partir de determinada altura Drogo já não quer sair do Forte Bastiano, e deseja ardentemente o ataque do Inimigo, pois essa é a sua única salvação.
É um filme opressivo, porque conseguimos sentir o desespero de Drogo em querer justificar a sua vida, em querer que ela não seja um completo desperdício, conseguimos sentir a importância do ataque do Inimigo.
O filme é muito pesado, e as interpretações, o cenário e a própria duração do filme contribuem excelentemente para isso.
Se conseguem tolerar 140 minutos de filme minimalista, é definitivamente um filme a ver.
O trailer é em italiano, e, como todos os trailers dos anos 70 (sobretudo os europeus) bem mauzinho. Para além disso está em italiano e sem legendas, mas é o melhor que se arranja, por isso não se queixem.
De fazer notar ainda, que a banda sonora do filme foi escrita pelo grande Ennio Morricone, e consegue ser absolutamente assombrante.
4 comentários:
É preciso esperar por um filme europeu pré-anos 80 para ver o The Raven poupar nos adjectivos. Quer dizer, eu não diria apenas bom, talvez muito bom, ou melhor, "digno de nota"... Ora aqui está um cinéfilo politicamente incorrecto, que não se curva ao primeiro "filme de autor" europeu!
Mas não falta muito para a vermos elogiar o Bergmano ou (cruzes) o nosso Manoel, e talvez quiçá rever as suas postas sobre o "2001- odisseia no espaço"...
O filme é muito bom, mas tem as suas falhas como qualquer outro filme, e eu mencionei-as. Se há uma reverência exagerada aos realizadores europeus, que são autênticas vacas sagradas de quem não se pode dizer mal? Há. (basta ver as críticas do expresso, sempre que alguma vaca sagrada aparece, as críticas, geralmente muito díspares em relação umas às outras são todas iguais (não se pode dizer mal das vacas sagradas).
Mas será que eu não aponto os defeitos dos filmes pós-anos-80 com frequência suficiente? Talvez, ser acharem que sim, digam-no que eu rectifico!
Para minha grande mágoa e vergonha eterna tenho de confessar que nunca vi Bergman, mas que tenho imensa vontade de ver e de ver se é mesmo isso tudo que dizem dele.
Quanto ao 2001, já fiz a minha "crítica" na revista :P
Agradeço imenso o feedback!!!
Anónimo sucks cocks in hell
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