Rachel Getting Married
Etiquetas: Anne Hathaway, Bill Irwin, Debra Winger, Jonathan Demme, Rachel Getting Married, Rosemarie DeWitt
Vi este filme sem grandes expectativas.
Inicialmente pensava que era uma comédia romântica e pu-lo imediatamente de parte, mas depois várias pessoas disseram-me que não era bem assim, e por isso lá o vi.
É bom ver filmes sem expectativas.
Porque não estamos preparados, não temos preconceitos, não podemos levantar barreiras emocionais porque não sabemos o que lá vem. E acho que isso é preciso para ver este filme.
Muito basicamente, Kym (Anne Hathaway) passou os últimos 10 anos dentro e fora de reabilitação de toxicodependência, mas no dia do casamento da sua irmã Rachel ( Rosemarie DeWitt) regressa como enfant terrible que é, para revolver um pouco as coisas.
Desta premissa poder-se-ia esperar uma comédia, mas o filme é tudo menos uma comédia.
Mas também não é um filme de acção, nem um filme de aventuras, nem de ficção científica, nem de nada desse género. É um filme de personagens e de relações entre personagens. Por isso se não são capazes de tolerar um filme inteiro só com pessoas a falarem umas com as outras (às vezes a gritar e a chorar) este filme não é para vocês.
Para as 5 pessoas que ainda me estão a ler, e que têm alguma sensibilidade no que toca à condição humana e a filmes bons, deixem-me dizer-vos que este filme é uma bomba. É um murro no estômago emocional.
As relações entre Kym e o Pai (Bill Irwin), Kym e a Irmã Rachel, Kym e a sua Mãe (Debra Winger) são altamente carregadas, com multifacetadas e com vários níveis.
O filme consegue transmitir o impacto do regresso da irmã toxicodependente a um ambiente familiar que se esforça por a acolher, sem saber bem como, e como ela se tenta adaptar, sem saber bem como.
Mostra como a irmã "boa" que sempre foi posta de lado em detrimento dos problemas da irmã, se revolta por querer que o seu dia de casamento seja só para si.
Mostra um pai devastado pelo distanciamento dos filhos, que não sabe bem como lidar com isso.
Mostra uma mãe que se afastou pela morte do filho (eu falei em distanciamento, incluindo isto, mas não digo mais) e que já não se sabe relacionar com as filhas.
Mostra, sobretudo relações de amor deturpadas por anos de culpas e dores infligidas mais ou menos propositadamente.
É muito intenso.
Anne Hathaway tem uma interpretação fortíssima, extremamente credível, e que a distancia completamenta das comédias tolas que caracterizam a sua carreira até agora.
O realizador é Jonathan Demme, que realizou em 1991 The Silence of the Lambs mostra-nos este filme de uma forma intimista. A câmara alterna-se entre uma que segue as personagens por cima do ombro delas, que simplesmente as persegue pela casa, como se não houvesse grande guião a ser seguido, e as filmagens amadoras que os vários convivas fazem durante o casamento.
Tudo isto se conjuga para nos inserir dentro do filme, dentro daquela casa e daquela família, mas nunca como membro, apenas como observador externo.
Tornamo-nos voyeurs desta família disfuncional.
E há momentos, discussões, cenas que estão de tal maneira bem escritas, bem interpretadas e bem filmadas, que sentimos constrangimento por estarmos a ver coisas tão íntimas, como se não devêssemos ali estar, como se devêssemos sair e dar privacidade para que aquelas pessoas pudessem falar sobre a dor e raiva entre elas.
Um filme que passa despercebido entre os Óscares e os Blockbusters de verão.
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