domingo, abril 23

Maxime Cabaret

Numa sexta-feira que antecede um fim de semana grande, numa livraria qualquer de uma rua qualquer da capital, um homem que exerceu de vários modos o ofício de comunicar (também um bom malandro e empatado da vida) apresenta ao público um livro cujo título dita uma moda que tem vindo a cair em desuso: Primeiro as Senhoras. No decurso do lançamento, este homem começa a contar uma história.
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No dia seguinte, véspera do Dia Mundial do Livro, no auditório da biblioteca de uma pequena cidade não muito distante, outro homem, no decurso de uma conversa em que as palavras iam caindo como cerejas (a propósito de cerejais, também se falou em Tchekov), pegou nesta mesma história e acabou de a contar.
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Cabe-me agora a mim escrever-vos, em tom de crónica, esta história que vale pelo pitoresco e pela amoralidade.
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...Dois ilustres senhores, casados e com filhos, têm uns assuntos a tratar. Como homens de letras que são, a solução é tertuliar, num afamado estabelecimento lisboeta (que, de acordo com informação de fonte fidedigna, foi recentemente remodelado, estrutural e funcionalmente, pelo vocalista de uma conhecida banda nacional. Estes homens, quando abordados pelo dueto Arlete & Suzete (nomes prototípicos das funcionárias exemplares deste estabelecimento), não têm alternativa senão apresentarem-se com nomes falsos, para abafar o eventual escândalo:
- O meu nome é Ramalho Ortigão e este é o meu amigo Eça de Queiroz. - diz um deles.
Arlete & Suzete, raparigas ocupadas, não têm tempo para essas parvoíces de leituras. Pelo que a convivência episódica entre os dois duetos (o que perfaz um quarteto) se prolongou na assunção convicta de que tanto os nomes prototípicos como os nomes falsos correspondiam aos que constavam no B.I..
Numa noite propícia ao negócio, as mesas ocupadas propiciaram um contacto centrífugo aos eixos cruzados deste quarteto.
- Você não se importa que ocupemos esta mesa? - perguntou Suzete ao habitué que habitava a mesa com os últimos lugares vagos no salão de convívio.
- Pois com certeza que não, façam favor!
Arlete - a quem, para além de outros atributos, deus e o patrão haviam conferido a cordialidade e o domínio das relações públicas, respectivamente - promove os apertos de mão. E eis que apresenta (entre cinco copos numa mesa de uma sede de actividades de natureza dúbia), Ramalho Ortigão & Eça de Queiroz a outro homem, provavelmente também de letras, quiçá Luís de Camões ou o Padre António Vieira, que aguardava talvez a sua Odete...
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Intrigados? Pois não se trata de ficção! Aconteceu em... http://literaturapoucodebranco.blogspot.com/2006/04/sbado-22-de-abril-16-horas.html

1 comentários:

a 23 abril, 2006 22:24, Blogger R. disse...

E ele era um senhor que falava da auto-estima como se fosse uma piada que passa de boca em boca. E ele dava beliscões nas frases que atirávamos por cima da mesa do café para brincar com elas como uma criança faz castelos de plasticina. Depois, muito sério (mas sempre com o sorriso maroto)fixava-nos, esperando para saber se a matéria de que éramos feitos era daquela que tem memória e conseguia voltar ao sítio depois de transformada por ele. Malandro, senhor, traquina, traquina.

 

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