quarta-feira, abril 19

MARRAQUEXE pç. das moscas mortas


Vindo de Marrocos, deixo-vos este retrato, escrito pelo Adolfo Luxúria Canibal, da praça onde, definitivamente, tudo pode acontecer.


Ainda corria o vento quente vindo do deserto. No terreiro a que chamam Jamâa El Fna, o acender dos lumes iniciou a montagem de dezenas de restaurantes ambulantes, com o cheiro adocicado das especiarias a invadir toda a praça. Vindos das sombras da Medina, encantadores de serpentes, contadores de histórias, comentadores do Corão, malabaristas, trapezistas, músicos e toda a sorte de batoteiros atraíram uma multidão ociosa, que se arrastava indolente. Em minutos, Jamâa El Fna deixou de ser uma inóspita praça escaldante e empoeirada para passar a fervilhar de actividade, entre o fumo das cozinhas improvisadas, as luzes das lanternas acabadas de acender, o vozear da turba delirante, o batuque dos tambores ou a melopeia encantatória das flautas...
Era o momento de pôr à prova a destreza de mãos e surripiar umas carteiras!