quinta-feira, maio 4

Chess is a lovely game II

Índia de Rei, variante clássica. Ele ataca do lado de dama, em busca de uma vantagem mais posicional do que propriamente material e ela ataca do outro, em busca de nem mais nem menos do que o rei branco.
A questão é que ele é um jogador estratégico, de construção de planos que lhe dêem pequenas vantagens que mais tarde se tornam uma grande. E ela é uma jogadora táctica, uma imaginativa com um óptimo cálculo, que gosta das caças ao rei, de sacrifícios de peças e confusões.
E entretanto, a preparação teórica dele dá os seus frutos e a coisa corre exactamente como preparou milimetricamente em casa. Uma ligeira vantagem de espaço no lado onde ataca e nada de grave no lado onde tem que defender. O tabuleiro começa a agradar-lhe e, confiante, levanta-se para fumar um cigarro (sim, é permitido aos jogadores de xadrez levantarem-se).
Ela não gosta daquilo. Sente que a coisa está branda e que se está a deixar ir nas areias movediças dele. Começa a mexer o nariz como se fosse espirrar (mas não, é só mais um tique) e tem os olhos incomodados, semi – cerrados. Olha para ele, que fuma ao canto da sala, e faz um ar de menina a quem não estão a deixar brincar. Prende os cabelos com o elástico, poisa os cotovelos em cima da mesa, apoiando a cabeça nas mãos e começa a pensar.
Passam-se vinte e cinco longos minutos. Ele fumou e sentou-se à mesa, descontraído, confiante no seguimento do que preparou.
Ela está estranhamente séria e imóvel. E de repente, coloca a mão centímetros acima do cavalo. Hesita primeiro, e depois joga-o vigorosamente. Levanta-se e morde os lábios, contendo o sorriso malandro.
Ele aponta o lance placidamente, como se tivesse sido jogado outro qualquer, enquanto pensa mas que merda é esta?