Tropa de Elite
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Depois de pérolas como Cidade de Deus (2002) e Carandiru (2003), chega-nos Tropa de Elite (2007).
Realizado por José Padilha, Tropa de Elite mostra-nos, mais uma vez, a violência da vida nas favelas. Mas desta vez pela perspectiva dos polícias que tentam impor a lei.
O filme é extremamente intenso e muito violento (contrariamente ao que algumas pessoas dessensibilizadas pelo Gears of War, com quem eu fui ver o filme, possam dizer).
Tem um ritmo extremamente acelerado, sendo por vezes difícil apanhar todos os pormenores da história, mas isso só contribui para a intensidade do filme. Tem uma excelente fotografia e a edição está brilhante (teria de ser, para poder manter o ritmo que o filme tem).
À semelhança da Cidade de Deus, o filme recorre a alguns artifícios de contar a história de forma fragmentada, começando a partir de meio e usando flashbacks ou elipses para clarificar determinados pormenores ou histórias de personagens.
Torna-se difícil explicar a história e, para mim, a razão de ser tão intensa sem revelar alguns aspectos muito significativos da história, por isso faço aqui o meu aviso do costume:
Vou revelar dados fulcrais da história, quem não os quiser saber, pare de ler aqui, e volte quando tiver visto o filme.
Ok? Deixo-vos o trailer para aguçar o apetite.
Podem fechar a janela (ou o separador, para as pessoas que usam o Firefox ou a sua cópia barata chamada IE7)
Já se foram embora?
Pronto...
A história centra-se, sobretudo, em Neto e Marias, as duas personagens que são os potenciais substitutos do Capitão Nascimento.
Mostram como eles sobem na hierarquia da polícia, como se desiludem com a corrupção policial, como entram para o BOPE, como são treinados e como as suas vidas são radicalmente mudadas pela profissão que têm.
Por outro lado, do Capitão Nascimento sabemos apenas que pertence ao BOPE há 10 anos, tem uma mulher e um filho. Não nos é apresentado o seu passado, nem as suas relações com outras pessoas nem histórias interessantes nem elipses acerca dele. Existe apenas como agente do BOPE.
No entanto eu acho que ele é a personagem mais importante do filme.
Durante o filme vêmo-lo a desfazer-se enquanto pessoa. Temos a sensação que este homem já viu de tudo, já faz o seu trabalho automaticamente e friamente. A sua única linha de sanidade é a sua mulher e o seu filho, pelos quais ele decide reformar-se e encontrar um substituto.
No entanto, esta procura por um substituto, o processo de os treinar e escolher, acabam por quebrar o que restava do homem.
Ao longo do filme ele vai-se distanciando cada vez mais da mulher, ficando cada vez mais instável, começando a tomar medicamentos e a tornar-se cada vez mais violento.
Um dia, ao chegar a casa explode e grita com a mulher de uma forma absolutamente violenta. E eu achei lindo que essa cena apareça quase isolada, sem seguimento.
Temos essa cena, e depois o filme continua como se nada fosse.
Entretanto Neto (que tinha sido escolhido como substituto) morre e o seu amigo de infância, Matias consegue também estragar completamente a sua relação com a namorada e desistir do seu curso de advocacia.
Mais perto do fim, o Capitão Nascimento chega a casa e encontra-a vazia. A mulher saiu, levou o filho e deixou uma nota que não conseguimos ler. O Capitão Nascimento não reage de forma nenhuma.
No entanto, apesar de ter perdido a mulher e o filho, continua a treinar Matias para ser o seu substituto.
O filme culmina com uma cena em que Matias apanha o traficante de droga que tinha morto Neto. O Capitão Nascimento dá-lhe uma caçadeira para as mãos, e Matias mata o traficante (que já estava capturado, e deitado no chão) com um tiro na cara. Ouvimos voz do Capitão Nascimento a dizer "finalmente tinha encontrado um homem digno de me substituir".
A minha interpretação é que o Capitão Nascimento ficou totalmente desfeito enquanto pessoa pelo tempo em que trabalhou numa profissão tão brutalmente violenta como a sua. Ser agente do BOPE tinha-se tornado simultaneamente um fardo insuportável e uma obsessão.
Perder a mulher e o filho não importam realmente. Acontece, mas ele aceita-o como algo inevitável, como algo que sempre tinha sido inescapável.
No fim, consegue livrar-se do seu fardo passando-o a outra pessoa. Outra pessoa que só é digna desse fardo quando já está, também, inescapavelmente presa ao trajecto de violência e auto-destruição no qual ele própria tinha estado preso.
...
Eu penso demasiado sobre estas coisas...
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