sexta-feira, agosto 15

Extras

Comecei por escrever este texto com uma auto-crítica aos meus posts habituais, mas depois cheguei à conclusão que estava a ser tão honesto e preciso que se tornava demasiado deprimente.
Por isso vou assumir que se me lêem é porque me acham piada e estão de alguma forma interessados no que tenho a dizer.

(a não ser que sejam daquelas pessoas que viam o João Baião no Big Show Sic só para terem o prazer de poder passar uma hora e meia a queixarem-se de quão maricas ele era. sempre achei que isto era mais ou menos como cheirar rapé - enfiar propositadamente um produto irritante pelo nariz acima só para ter o gosto de o expulsar num espirro animalesco)

De qualquer modo.........

Extras (2005) é a segunda série de Ricky Gervais (que antes tinha escrito e participado na maravilhosa série The Office de 2001).

Extras segue Andy Millman (Ricky Gervais) e Maggie Jacobs (Ashley Jensen), dois figurantes profissionais, que lutam por se tornarem actores a sério.
Andy e Maggie são as caras que estão nas multidões, são o carteiro que tem uma fala no filme e a cortesã que segura a saia da rainha. São as caras de que nunca nos lembramos quando vemos um filme.
Estão nos estúdios de filmagens, mas ninguém lhes liga nenhuma porque são só figurantes, são maltratados e minimizados porque não são actores a sério.
Maggie não é tola, simplesmente não pensa muito nas coisas. Andy é um actor a sério, e só é um "artista de segundo plano" (como se chama a si próprio) porque está à espera da sua grande oportunidade para entrar num filme.
Durante os 6 episódios da primeira série de Extras, Andy e Maggie participam em várias produções cinematográficas, encontram variadas estrelas do cinema e da televisão e conseguem, sistematicamente, estragar todas as suas oportunidades para subirem na carreira.

À semelhança de The Office (que, a sério, é uma verdadeira pérola, e quem não viu não sabe o que está a perder) Extras vive à custa do humor constrangedor.
Não há piadas, não há punchlines, não há exageros.
Só há situações dolorosamente verossímeis de desconforto social, de conversas surreais, de pessoas a meterem os pés pelas mãos e a dizerem a pior coisa possível no pior momento possível e ainda assim a tentarem safar-se airosamente, mas a falharem inevitavelmente.

Imaginem-no assim: sabem quando nas comédias românticas a personagem masculina queridamente desajeitada se aproxima da personagem feminina inicialmente relutante, e diz algo do género "Comprei-te flores" e ela responde "O cartão diz És a Melhor Mãe do Mundo!?" e ele diz "Whoops!" ela ri-se enternecida com o erro dele e subitamente mudam de tema de conversa?
Em Extras ela não se riria, e ele teria de tentar arranjar uma desculpa honesta para se ter enganado, enterrando-se a cada palavra.

É extremamente difícil de escrever comédia desta forma, mas Ricky Gervais e Stephen Merchant fazem-no com uma mestria e uma precisão apuradíssimas.
Acabamos por nos rir da piada que não está lá. Rimo-nos de quão dolorosa e embaraçosa aquela situação é para a personagem!

Para além disto, Extras consegue ter em cada episódio, um actor verdadeiro a fazer de si mesmo!
Na primeira série entram Ben Stiller, Kate Winslet e Samuel L. Jackson entre outros, com quem Andy e Maggie acabam por interagir, dizendo sempre as coisas mais inapropriadas (o diálogo sobre racismo com o Samuel L. Jackson está particularmente delicioso).
Mas o mais giro é que estes actores aceitam fazer caricaturas de si mesmos. E o mais assustador é que mais uma vez estas caricaturas são plausíveis!

Eu podia passar o resto da noite a escrever, mas é muito difícil transmitir o humor de uma série que não tem piadas.

Deixo-vos com alguns excertos:








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