The Dark Knight
Em primeiro lugar quero esclarecer que o meu objectivo não é comparar este filme, ou as suas personagens, com a banda desenhada original. Etiquetas: "vegetais", Aaron Eckhart, Batman, Bladerunner, Christian Bale, Christopher Nolan, Gary Oldman, Heath Ledger, Maggie Gyllenhaal, Michael Caine, Morgan Freeman, The Dark Knight, Tim Burton, Val Kilmer
Primeiro, porque acredito que qualquer filme pode, e deve, sempre ser avaliado isoladamente das suas origens ou inspirações.
Segundo porque não conheço a banda desenhada original ao ponto em que me sinta confortável a fazer comparações entre a mesma e o filme que nela se baseia.
Terceiro porque acho que o M. conseguirá fazer estas comparações muito melhor do que eu alguma vez esperaria conseguir.
Christopher Nolan, tendo já realizado pérolas como Following (1998) e Memento (2000), e tendo realizado em 2005 o filme Batman Begins, vem mais uma vez afirmar-se como um dos realizadores mais brilhantes da sua geração!
Nolan traz-nos agora The Dark Knight (2008), a sequela directa de Batman Begins.
E raios se o filme não é bom!!!
Eu arriscaria até a dizer que é o melhor filme de super-heróis feito até agora!
Passo a explicar.
Para começar a fotografia, os cenários, o guarda-roupa, a cinematografia, as coisas a que eu chamo os "vegetais" de um filme, estão todos impecáveis! É extremamente difícil apontar-lhes defeitos!
Atenção, em especial, para a fotografia, que consegue transmitir verdadeiramente a sensação de uma Gotham City escura, feia e má! Este filme, como o seu predecessor, vão buscar imenso, em termos de ambiente, ao trabalho de Tim Burton em Batman (1989) e Batman Returns (1992), mas também, se bem me lembro (sobretudo para o primeiro), ao Bladerunner (1982).
De seguida temos as interpretações.
Em papéis secundários temos o fabuloso Michael Caine como Alfred, que nos dá um papel totalmente britânico!, temos Gary Oldman como Comissário Gordon, que convence mais neste filme do que no anterior, temos Maggie Gyllenhaal como Rachel Dawes, muito melhor que Katie Holmes (desculpa Tiago, tinhas razão, não era a Rachel Weisz) e finalmente temos Morgan Freeman como Lucius Fox, uma personagem equivalente ao Q dos 007.
A interpretar o titular Cavaleiro Negro (preto? escuro? sombrio? apagadote?) está Christian Bale.
Ora eu não me consigo decidir se gosto do Christian Bale a fazer de Batman. Gosto imenso do Christian Bale como actor, acho que tem imenso talento. E a verdade é que consegue trazer uma severidade e intensidade à personagem que raramente se tinha visto (o único que andou lá perto foi Val Kilmer no Batman Forever de 1995).
Por outro lado, Christian Bale continua a fazer beicinho... e não digo isto no bom sentido!
Como o meu amigo António me fez notar, Bale tenta disfarçar a sua voz quando faz de Batman, mas o que resulta não é uma voz grave e ameaçadora, mas a voz de alguém que tem um cancro na laringe! Há cenas no filme em que isto é tão evidente que se torna um detrimento para a cena.
Mais um aspecto em que eu acho que ele falha é que a personagem que ele interpreta devia ter um ar mais delirado, ou pelo menos mais intensamente louco (afinal, ele está a interpretar um gajo que se veste de morcego).
Mas não me estou a queixar! Christian Bale tem, à partida, um papel extremamente difícil de interpretar e não falha na sua tentativa.
Só que não está a par dos seus dois co-protagonistas:
Eu já conhecia e apreciava o trabalho de Aaron Eckhart desde que o vi no Any Given Sunday (1999), mas devo dizer que neste filme ele surpreendeu-me.
Eckhart interpreta Harvey Dent, o Promotor Público de Gotham City, e o homem de quem se espera que limpe Gotham do crime!
Como posso correr o risco de estragar a história a alguém que não conheça as personagens, não vou contar grande coisa acerca dele. Digo apenas que Aaron Eckhart consegue transmitir aqueles aspectos de pré-demência que Christian Bale não transmite.
E depois temos a estrela do filme.
Indubitavelmente, maravilhosamente, o filme centra-se e roda à volta da personagem brilhantemente interpretada por Heath Ledger, o assustadoramente (eu tinha de meter mais um advérbio!!!) perturbador Joker.
Heath Ledger (excelente actor, têm de o ver no The Brothers Grimm) passou um mês fechado num quarto de hotel para desenvolver o modo de falar de Joker. E resultou!
Ledger interpreta Joker com uma mestria e credibilidade assustadoras. Cada gesto, cada movimento, cada entoação, cada expressão de Joker foram estudados. Não há nada deixado ao acaso na construção desta personagem!
E faça-se notar que Heath Ledger tinha, à partida, uma fasquia muito elevada a superar. Em 1989 Jack Nicholson tinha interpretado exactamente a mesma personagem com resultados igualmente fantásticos!
Mas ao passo que Jack Nicholson nos mostrava um Joker divertidamente violento, que pregava partidas cómicas (se bem que mortíferas), Heath Ledger mostra-nos um Joker totalmente psicopata e perverso!
Só vendo, para perceber do que é que eu estou a falar.
(para aumentar o aspecto perturbador da personagem, Heath Ledger morreu pouco depois das filmagens do filme terem acabado com uma overdose de remédios para insónias, ansiedade e depressão. Tirem daqui as vossas próprias conclusões)
Como se estas coisas não bastassem, a história do filme é extremamente inteligente!
Muito resumidamente, a Máfia de Gotham, farta da interferência de Batman nos seus assuntos, decide aceitar a proposta de Joker para matar Batman. Mas rapidamente o Joker foge ao controlo de tudo e todos e começa a ganhar poder e a tornar-se cada vez mais violento.
Para além de ter um crescendo extremamente interessante, na medida em que durante o primeiro 1/3 do filme a história não se centra no Joker, e vários pontos climaxes, a história consegue tecer alguns comentários extremamente deprimentes.
A história mostra como mesmo os melhores de nós podem ser destruídos e pervertidos, de modo a revelarmos o que de pior temos.
Mostra como uma população precisa de idolatrar os seus heróis e desprezar os seus vilões, e de como, se os papéis se inverterem, as pessoas ficam felizes na mesma desde que possam continuar a idolatrar uns e a desprezar outros.
Sobretudo o filme é um comentário à vida organizada da sociedade e de como ela nos cria dessensibiliza dos horrores que se passam á nossa volta. Joker é o agente do caos, auto-proclamado, que quer destruir essa sociedade, esse esquema, e introduzir alguma anarquia.
Há um monólogo do Joker mais para o fim do filme que é brilhante, e que tem uma frase que eu acho que ilustra muito bem toda a ideia do Joker:
"You see, nobody panics when things go according to plan. Even if the plan is horrifying. If I told people that a gangbanger was going to get shot, or a busload of soldiers was going to get blown up, nobody would panic. Because it's all part of the plan. But tell people that one tiny little mayor is going to die and everyone loses their minds!"
Sobretudo, o filme roda muito à volta do triângulo formado entre o Joker o Batman e o Harvey Dent.
Harvey Dent é a personagem bonita, aberta, gostável e legal que contrasta com a escuridão, desconfiança e ilegalidade de Batman.
Por outro lado Joker é a anarquia e violência, enquanto que Batman é a justiça e a ordem.
É um filme brilhante. Extremamente inteligente, com acção e efeitos especiais na medida certa e com interpretações fantásticas!
Para os fãs do género é imperdível. Para quem pensa que não gosta do género, vale a pena ir ver na mesma, porque tem muito mais do que o que estão à espera!
Edit: entretanto o trailer que eu tinha metido desapareceu, por isso substituí-o por este (não se assustem com o tempo, eles têm de o fazer enorme para poder ter a alta definição)
2 comentários:
Em primeiro lugar, subscrevo o The Raven, este filme é bom. Mesmo para quem não gosta de BD, o filme é bom. Muito bom, mesmo. (As várias pessoas que acompanharam as minhas horas de pulinhos de expectativa antes do filme e que o viram comigo também gostaram)
Passando a interpretação para BD, dado que o The Raven é O especialista em cinema e não toco mais nesse lado da crítica, a opinião geek é a seguinte:
- Há um amontoado gigante de referências a histórias do Batman em BD. Mas ao contrário dos restantes filmes de super heróis (sim, este é mesmo o melhor de sempre do género), o "recorta e cola" está óptimo. O triângulo Gordon (muito mais explorado do que no primeiro Batman) - Dent - Batman parece-me vir do The Long Halloween. A vida na esquadra de Gotham tem muita coisa do Gotham Central, uma série do genial Greg Rucka acerca dos polícias na cidade onde há mascarados aos saltos no telhado.
Mas mais que isso, e essa para mim é a grande vitória do filme, há um pegar em vários temas até recentes das personagens. A relação Batman - Joker está absolutamente perfeita. O facto do Joker querer saber que Batman não o matará e provocá-lo com isso é fabulosa. Julgo que há mesmo a frase "nós vamos brincar os dois muitos anos", o que é uma requintada amostra da ambiguidade que Batman vive quando enfrenta o seu mais temido vilão: quer limpar a cidade e tem um sentido quase unilateral de justiça, mas não sabe o que fazer quando enfrenta um ladrão irrecuperável.
Depois, o Dent. A personagem está tudo aquilo que devia ser. Sem querer revelar o seu fim (óbvio para qualquer geek como eu), o filme mostra bem aquilo que, como dizia no outro post, enriquece todas as personagens: passado. Dent vale muito mais pela história passada do que pelo que passa a ser (e esse é o enorme erro do terceiro Batman, explora mais a outra faceta).
Por último, o Joker é tudo aquilo que qualquer fanático de BD e do Batman quer ver: um psicopata. Um louco. E que vale muito pela ser incomprrensível, justamente por não ter um passado definido, uma história freudiana que justifique tantos crimes (mais uma vitória deste filme sobre os outros). Joker é um enigma, é caos sem explicação. É - como em todas as BD - a antítese do herói. Batman é negro, obstinado, só pensa em vingar o seu passado. Joker é um louco colorido que faz as coisas porque sim.
Heath Ledger está perfeito. A voz, a face, os tiques, tudo. The Clown Prince of Crime.
Adorei.
Obrigado, M., pelo teu comentário!
Complementa o meu texto de uma forma ideal!
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