sábado, maio 6

Chess is a lovely game III

Um pequeno cálculo leva-o à rápida conclusão que ela sacrifica um peão. Mas a que preço? Concede-lhe a iniciativa do jogo. O que se passa é que ele não vê problemas nisso: é um peão - vantagem material mais que suficiente para ganhar o jogo - contra uma iniciativa que, segundo as suas análises, não traz resultados práticos.
O que lhe incomoda é a imposição dela. Tem-lhe demasiado respeito (aliás...medo. Sempre teve medo dela) para menosprezar um lance sobre a qual ela pensou tanto, mas recusar o sacrifício seria acreditar mais nela do que nele. Era como sacrificar o seu amor - próprio. Uma e outra vez, re-capitulava o seu cálculo, à procura da armadilha que ele podia ter preparado.
Ela está sentada e está concentrada como se fosse elaa jogar. Sabe, de uma maneira feminina, (e logo, manipuladora) que ele vai aceitar o peão. Conhece-o. Sabe que - para já - não há nada de errado naquele peão. E, no entanto, intui que o mesmo está carregado de veneno. A posição que aí vem está cheia de armadilhas e nuances, a sua especialidade.
Todas as variantes que calcula são à procura de confusão. Os homens são simples: funcionam por pontos finais. Esta posição tem reticências. Ele vai cair. pensa ela, divertida.
E ele, que acho que não acreditar na sua lógica em prol de um bad feeling era tão insultuoso como acreditar em deus, aceitou o sacrifício. Mas, pela primeira vez no jogo, assim que poisou a peça, olhou para ela. Com medo que nos olhos dela se reflectisse uma variante que lhe pudesse ter escapado.

1 comentários:

a 06 maio, 2006 20:00, Blogger Canela disse...

"Os homens são simples: funcionam por pontos finais." Genial...já encontrei alguns que são reticências...esses atraem-me como se de um ponto final ( uma coisa certa...) um abismo incontornável se abrisse e me chamasse sua.
Damhnait

 

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