domingo, setembro 21

Tropic Thunder

raios não sei como é que hei-de começar este texto, raios para isto de escrever textos com um início credível, começo com a sinopse do filme, ou com a filmografia do realizador ou... Porra!!! estou outra vez a escrever os meus pensamentos!


Há filmes que são paródias a outros filmes ou géneros. Esses filmes quebram alegremente todas as regras dos filmes que parodiam e, ao fazerem-no, chamam atenção a essas regras tornando-as visíveis e, assim, perde-se a suspensão da incredulidade, perde-se a imersão completa no filme e na ideia de que o que se passa no filme não é realmente um filme.
As paródias são filmes auto-conscientes. Filmes que sabem que são filmes e divertem-se a brincar com as regras dos filmes.
O melhor exemplo disto são os Scary Movie todos.

Há filmes que são homenagens. Ou seja, filmes que pegam em estilos e correntes estéticas de outros filmes, e as exageram, trazem-nas para primeiro plano, de tal maneira que o mais importante do filme é a sua estética (visual ou de enredo) do que propriamente a qualidade do seu argumento ou das interpretações.
O Kill Bill é um bom exemplo disto.

Tropic Thunder realizado por Ben Stiller, consegue ser uma mistura das duas coisas.
Eu ainda não consegui perceber como é que esse equilíbrio foi atingido. Provavelmente tenho de voltar a ver o filme mais algumas vezes.

Porque tenho de admitir que fui apanhado de surpresa. Não estava à espera que o filme fosse tão bom.

Há imensos pormenores, imensas nuances e imensas ideias a serem atiradas ao mesmo tempo.

Bem, a sinopse, então:

Com o objectivo de fazer o maior filme de guerra alguma vez feito, um produtor de Hollywood chamado Les Grossman (Tom Cruise, irreconhecível), arranja um novo e promissor realizador (Damien Cockburn - Steve Coogan) e três estrelas do cinema: a estrela dos filmes de acção, Tugg Speedman (Ben Stiller) o grande actor dramático Kirk Lazarus(Robert Downey Junior) e o palhaço de filmes de comédia de humor de casa de banho Jeff Portnoy (o grande Jack Black).

Só que o filme começa a correr mal porque os três actores principais são uns betinhos mimados que não conseguem trabalhar juntos.

Por isso o autor do livro - Four Leaf Tayback (Nick Nolte) no qual o filme se baseia sugere ao realizador levar os actores e metê-los no meio da floresta e assustá-los com explosivos e fazer um filme ao estilo do Blair Witch Project.

No entanto, as coisas fogem ao controlo quando os actores, no meio da floresta, se deparam com traficantes de droga a sério, com armas a sério.

Há dezenas de referências a filmes como Platoon e Apocalypse Now, sendo que eu tenho a certeza que só apanhei para aí metade. Este é um dos aspectos de paródia do filme. A inserção de momentos e pormenores que são claramente cópias gozonas de outras cenas que já conhecemos.

As personagens são maravilhosamente estereotipadas, sobretudo a de Tugg Speedman que é o actor de filmes de acção totalmente bronco, mas que pelo meio da carreira tentou fazer um filme sério interpretando um atrasado mental num filme chamado Simple Jack.

Nota especial para Robert Downey Junior que encarna uma personagem de raça negra, e fá-lo extremamente bem (ou mal, como o quiserem ver).

Jack Black encarna um Eddie Murphy branco, e a personagem que é o tributo ao Soldado Pyle do Full Metal Jacket.

Este filme também faz algo que me impressionou profundamente, e que eu nunca tinha visto em mais nenhum outro filme, e que, tanto quanto sei, nunca foi feito antes.

O filme brinca com a fotografia. Ou seja: há, por exemplo, neste filme uma cena em que Jeff Portnoy está a explicar o seu plano de mestre para infiltrar o campo dos traficantes de droga. Há um grande close-up da sua cara e uma música épica a criar ambiente.
De repente quando se percebe que o seu plano é uma estupidez, a música é subitamente parada, o grande plano quebra-se e é mostrada a expressão de incredulidade dos seus amigos, destruindo assim, de uma forma cómica, a atmosfera criada anteriormente.

Agora imaginem a mesma piada, mas recorrendo exclusivamente à iluminação do filme. Há uma cena em que Tugg Speedman se envolve demasiado com os traficantes de droga e já quer ficar com eles, e está a passar água pela cabeça de uma forma reminiscente do Marlon Brando como Coronel Kurtz no Apocalypse Now, enquanto que o Kirk Lazarus está a tentar convencê-lo de que ele endoideceu.
Apesar de estarem no mesmo espaço físico, quando a câmara se centra em Tugg Speedman, a luz é dessaturada, muito contrastada e extremamente nítida, ao passo que quando mostram Kirk Lazarus a luz está perfeitamente normal e igual ao resto do filme.

Isto é genial. É estar a brincar e a parodiar com toda a estilística visual de outros filmes de uma forma muito mais subtil do que o normal.

No entanto Tropic Thunder é também uma homenagem aos filmes de guerra.
O filme não tem medo de exagerar nas explosões, nem nos planos de helicópteros, nem nas cenas de tiroteio inacreditáveis que vemos nos outros filmes de guerra, porque são fixes e são essas coisas que tornam um filme de guerra aquilo que viemos a esperar de um filme de guerra!

A música toma um papel muito importante aqui, recorrendo a temas do rock clássico para criar momentos e ambientes totalmente característicos.

Como cereja em cima do bolo, o filme está cheio de pequenos cameos deliciosos.
Temos Tobey Maguire a fazer de monje homossexual, temos o Matthew McConaughey a fazer de agente yuppie, temos Tom Hanks e Jon Voight em momentos quase invisíveis.

Mas o melhor de tudo é Tom Cruise. Tom Cruise interpreta Les Grossman, o Produtor Tubarão de Hollywood, pronto a vender tudo e todos para ter uma margem de lucro.
É delicoso como Tom Cruise se dispôs a fazer uma personagem que é, no fim, totalmente ridícula e ofensiva, dando uns monólogos de insultos e palavrões deliciosos na sua fúria e raiva.

Tropic Thunder vale definitivamente a pena ser visto!

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