quarta-feira, maio 10

Chess is a lovely game V

O bispo em h6 tornou-se um líder espiritual. Libertou a casa onde se encontrava para a torre e controla uma temível diagonal com tanta força que parece fazer vento sobre a mesma. As peças negras são livres e vão fazer estragos que as brancas não podem remediar.
Ele está lívido. Procura uma solução sem esperança alguma. Sabe que está perdido, que a posição ficou, num só lance, sem ponta por onde se lhe pegue. Perdeu. Todos os seus lances serão os gestos degradantes de um moribundo.
Põe tudo em causa. Onde é que errou? Será pior do que ela? Aquele lance duvidoso dela era bom ou ele é que continuou mal? Ele pior do que ela? Um jogo de xadrez é sempre uma metáfora sobre a vida, e esta derrota era uma analogia com a queda do seu modus vivendi. Como o ateu que descobre que afinal há uma entidade divina ou como o religioso que sente que não pecou em vão, ele sentia que nada fazia sentido. Sentia-se vazio, como se lhe tivessem tirado os órgãos todos.
Ela calcula, divertida, as diferentes formas de ganhar. Com mais ou menos estética, dependendo do que ele escolhesse jogar, ganhará o jogo. Mas, ao contrário dele, diverte-se mais com o facto de ter ganho sem medos, dançando com as suas peças, como se fosse uma delas, do que propriamente com a vitória em si. Aquilo fazia-lhe cócegas na alma e ela ria-se. A vitória era uma coisa boa, é certo, mas aquela empatia com o jogo sabia-lhe infinitamente melhor. Dentro da sua cabeça toca a I`ve got you under my skin de Frank Sinatra e, sem dar por isso, começa a mexer a cabeça ao ritmo da música.
Ele não consegue dar a volta. Não tem força para isso e nem sequer tenta especular com a posição. Arrasta as peças como se estivesse zangado com elas (como se a culpa fosse das peças) e vê, com olhos duros, como ela recupera o peão e ainda mantém o seu rei contra as cordas.
Abandona alguns lances depois e cumprimentam-se. Ele com olhos de quem só quer sair dali, e ela trauteando “don`t you know, blue eyes, you never can win…”.

(Há quem diga que aquilo foi só mais um jogo.
Outros dizem que eles estavam apaixonados e que namoravam (e que quem perdesse pagava um jantar). (outro happy end dá-lhes uma cerveja num bar qualquer)
Uma terceira versão reza que ele gostava dela e que nunca lho tinha dito. (contam que foi fumar a derrota para a praia)
Mas há quem continue a dizer que foi só um jogo.)

6 comentários:

a 12 maio, 2006 16:35, Blogger Canela disse...

Não há finais felizes. Life is a cabaret!

 
a 19 maio, 2006 14:36, Anonymous Anónimo disse...

Very pretty site! Keep working. thnx!
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a 19 maio, 2006 18:35, Anonymous Anónimo disse...

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a 20 maio, 2006 18:54, Anonymous Anónimo disse...

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a 07 julho, 2006 06:53, Anonymous Anónimo disse...

Muito fixe! =)

 
a 08 agosto, 2006 21:45, Blogger T. disse...

I've got ya under my skin! =)

 

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