quarta-feira, maio 12

David Caruso

Há razões pelas quais eu não vejo televisão.

De vez em quando esqueço-me delas, vejo televisão e relembro-me muito depressa.

Uma delas é o CSI: Miami.

Podia passar aqui uma meia hora a dizer mal da série, dos actores, da escrita... mas acho que este vídeo diz tudo o que eu quero dizer:

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domingo, maio 9

Nine


Ora o Nine...

É um musical, e eu até gosto de musicais!

E gosto muito do Daniel Day-Lewis, e da Judi Dench, e da Kate Hudson, e da Penélope Cruz, e até tem a Sophia Loren e uma gaja qualquer chamada Stacy Ferguson, que me dizem que canta numa banda de hip-hop qualquer...

E o filme tem imensa pedalada, umas coreografias porreiras, personagens interessantes e até mulheres em trajos menores!

Então porque é que eu não gostei deste filme?

Se calhar "não gostar" é demasiado forte... Porque é que este filme me desiludiu? é uma melhor pergunta.

Porque dado isto tudo (Musical cheio de energia com o Daniel Day-Lewis, coreografias, personagens interessantes e mulheres semi-nuas) eu esperava muito mais!

As músicas não ficam no ouvido, as letras não são particularmente engraçadas, acabando todas por ser só descritivas (as personagens cantam "oh meu deus aconteceu isto e agora vai acontecer aquilo").

As personagens, por muito boas que sejam (e algumas são extremamente interessantes) simplesmente não são desenvolvidas.

O Daniel Day-Lewis faz uma boa interpretação, o que no caso do Daniel Day-Lewis é uma desilusão porque do Daniel Day-Lewis esperam-se interpretações absolutamente fantásticas.
Actrizes como a Judi Dench, a Penélope Cruz, a Nicole Kidman, são completamente desaproveitadas, tendo pouquíssimo tempo em cena.

Não me interpretem mal... o filme é giro! É uma confusão de ideias e energia com pouca forma e contexto, mas é um filme giro...



PS: se se estão a interrogar porque é que o filme se chama Nine, é uma referência ao filme do Fellini, .

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terça-feira, maio 4

Up In The Air



Eu vi este filme quando ele estreou, com dois amigos meus (Hey Cláudia! Hey Ricardo!), mas por força das circunstâncias (já não me lembro bem quais foram) não escrevi nada na altura, apesar de querer.

Voltei a vê-lo ontem, e por isso...

Up in the Air foi realizado por Jason Reitman, e esteve nomeado para 6 Óscares, entre os quais Melhor Filme, Melhor Realizador, e Melhor Argumento Adaptado.
Poderão lembrar-se de Jason Reitman, porque foi ele que realizou o Juno (2007) e o Thank you for Smoking (2005).
O Up in the Air tem bastante destes dois filmes, se soubermos onde procurar, mas já lá vamos.

Ryan Bingham (George Clooney numa das suas melhores interpretações, o que não é dizer espectacularmente muito, mas pronto...) é um Conselheiro de Transição Ocupacional (é contratado para despedir pessoas), um Orador Motivacional sobre como cortar todas as ligações que nos prendem, e passa grande parte da sua vida em aviões e aeroportos.
O seu maior interesse é acumular Milhas, e o seu maior objectivo é ser a 7ª pessoa a atingir dez milhões de milhas.
Alex (Vera Farmiga) é o seu equivalente feminino e interesse (superficialmente) romântico.
Natalie (Anna Kendrick) é a novata no negócio, que vai aprender uma coisa ou duas.

Há desventuras amorosas, piadas, sexo, muitos despedimentos.

Fim.



Só que não!!!!

É daqueles filmes que se acabasse a 2/3 era uma comédia romântica banal. Nem bem, nem mal feita, só banal.

Mas o filme continua.

É como se de facto fosse uma comédia romântica, mas o realizador decidisse manter as câmaras ligadas mais algum tempo só para ver o que é que acontecia.

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ATENÇÃO! Here be Spoilers!!!
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Ryan Bingham, o homem despegado apaixona-se a sério.

Numa total deconstrução daquilo que metade do filme passou a construir, vemos a personagem cínica a perceber lentamente que não pode realmente passar a vida sozinho.
Vêmo-lo a valorizar as pessoas e os momentos que fazem a vida realmente especial.

Só que por esta altura a comédia romântica já acabou, e à semelhança de outros filmes do Jason Reitman, esta transformação é mostrada sem lamechice, sem exageros. É extremamente subtil, bem narrada e absolutamente credível.

Um filme que parecia não ser nada mais do que banal, subitamente ganha toda uma nova camada de interpretação.

E isso é bom.

Fim




Só que não!!!!

Raios que este filme é bom!!!

Temos Ryan Bingham, ex-tubarão, recentemente transformado num homem novo pelo poder do amor, a ser completamente destruído, a ver as suas esperanças recém-nascidas a morrerem friamente.
A mulher que ele descobriu que amava não o ama a ele. Atinge as dez milhões de milhas que queria, e no entanto esse sucesso só lhe mostra ainda mais quão vazia e desprovida de sentido era a sua vida até esse momento, de maneira que nem sequer pode voltar a ser o que era.

É uma progressão extremamente bem escrita e muito bem contada. Não damos por ela a aproximar-se, de tal maneira que eu passei a primeira metade do filme convencido que era uma comédia romântica banal.

Para além disto temos ainda:

-Sam Elliot e J.K. Simmons, em papéis curtos mas muito memoráveis.
-uma banda sonora excelente, muito à maneira de Juno.
-cenários pornograficamente bonitos
-planos de câmara verdadeiramente belos e bem apanhados

Definitivamente um filme que vale a pena ver.

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Por favor aguarde... Paginando...

segunda-feira, maio 3

The Hurt Locker



The Hurt Locker realizado por Kathryn Bigelow, ganhou recentemente o Óscar de Melhor Filme.

Notem que eu não dou grande importância aos Óscares. Percebo bem as políticas e influências e dinheiros por detrás da atribuição dos prémios, e sei que raramente têm a ver com o mérito intrínseco do filme.
O que dou importância é à importância que a maioria das pessoas dá aos óscares.
Ambas estas coisas são importantes de ter em mente ao analisar este filme: a política por detrás da atribuição dos Óscares e a importância que as pessoas dão aos Óscares.

Outra coisa importante a reter desde já para a interpretação deste filme é a citação que surge imediatamente no início do filme e que corre o risco de ser esquecida:

"The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug" - Chris Hedges

The Hurt Locker passa-se em Baghdad, em plena guerra do Iraque, e segue os últimos dias de comissão de três especialistas em minas e armadilhas do exército Americano.

Como a maioria dos filmes de guerra, a sua narrativa caracteriza-se pela descrição de vários episódios ou "aventuras" pontuais que estas personagens vão tendo, e a continuidade da história passa sobretudo pela evolução pessoal das personagens.

A personagem principal é o Sargento William James (Jeremy Renner), que surge para substituir o especialista em bombas que morre nos primeiros 5 minutos de filme.
Contrariamente ao seu antecedente, o Sargento William James é dado a impulsividade, bravado e a correr riscos, aspectos pouco expectáveis num desarmador de bombas.

A sua personalidade emocional e impulsiva vai entrar em choque com a dos seus dois colegas, o sargento JT Sanborn (Anthonie Mackie) e o especialista Owen Eldridge (Brian Geraghty), que só querem sair de Baghdad vivos, e deste conflito surge muita da tensão dramática do filme.

Ou, pelo menos, a tensão dramática que não deriva de desarmar bombas, que, pelo que me dizem, é bastante tenso.

De qualquer modo...

Cada personagem tem as suas idiossincrasias, os seus passados melhor ou pior explorados, há as cenas obrigatórias de bebedeira, o contacto com a criancinha local que inevitavelmente morre, o horror da guerra... nada que não tenhamos já visto em dezenas de outros filmes de guerra.

Correcção: nada que não tenhamos já visto mais bem feito em dezenas de outros filmes de guerra.

Não há nada de realmente espectacular acerca do filme. Nem a fotografia é particularmente bonita, nem as personagens são extremamente interessantes, nem há planos de câmara criativos, nem a edição chama à atenção, banda sonora não é memorável.
É um filme como os outros. Nem particularmente bom, nem particularmente mau.

Agora...

Para realmente analisar o filme, tenho de vos contar o fim, e como de costume, preferia não vos estragar o fim, e aplaudo quem quer que queira ver o filme sabendo o menos possível dele.

Dou-vos o trailer, e depois continuo.



Pronto, já viram?

Há spoilers à frente..

de certeza?

Não digam que não avisei.

Depois de muita tragédia, depois de ver muita gente morrer, depois de se ter pegado com os colegas (e inclusive ter feito com que um levasse um tiro) depois de ter partilhado pormenores da sua vida com os amigos, basicamente depois de ter experienciado o horror da guerra, o Sargento William James vai para casa.

Vêmo-lo num supermercado, a comprar cereais. Vêmo-lo em casa, a cozinhar com a mulher, a brincar com o filho. E depois ele diz assim:

Staff Sergeant William James: [Speaking to his son] You love playing with that. You love playing with all your stuffed animals. You love your Mommy, your Daddy. You love your pajamas. You love everything, don't ya? Yea. But you know what, buddy? As you get older... some of the things you love might not seem so special anymore. Like your Jack-in-a-Box. Maybe you'll realize it's just a piece of tin and a stuffed animal. And the older you get, the fewer things you really love. And by the time you get to my age, maybe it's only one or two things. With me, I think it's one.

E depois vêmo-lo a aterrar no Iraque, de volta a Baghdad, de volta a desarmar bombas.

Este homem, depois de viver os terrores e o pânico da guerra, volta a casa, e descobre que só a guerra é que é especial, e volta para ela.

Fim.





Esperem, o quê? Que é que se passou aqui?

Mas que raio!?

Então... mas... ele... e depois..?

Duas perguntas impõem-se:

1. Que raio é que significa este final?

2. Porque raio é que um filme mediano como este ganha o Óscar de Melhor Filme?


1 - Há duas interpretações que podem ser feitas deste fim.

Uma, baseando-nos na citação inicial do filme "... a guerra é uma droga." é a de que este ser humano foi tão brutalizado pela guerra, que não tem outro remédio senão voltar para ela porque é o único ambiente onde consegue funcionar.

Isto seria uma interpretação extremamente interessante a dar, na linha de grandes personagens como o Capitão Willard do Apocalypse Now Redux.

No entanto acho que esta interpretação não se aplica.
Isto porque a personagem não é demonstrada como brutalizada ou traumatizada ou doida. É apenas um homem normal, com uma família e uns defeitos e umas qualidades.
Depois, as cenas de regresso dele ao Iraque são mostradas como gloriosas e cheias de fixeza.

A segunda interpretação é a de que este fim mostra como a Guerra (por acaso a do Iraque) é uma coisa Fixe e Gloriosa, pela qual vale bem a pena prescindir da Casa da Família e dos Filhos.


Desta maneira acho que também se responde à pergunta número 2.

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