Aqui estamos de novo. Novo ano lectivo, novos caloiros e as MESMAS praxes. Pois é, não passará despercebido a quem, pacatamente, se desloque às instalações da FML, que as tão conhecidas praxes decorrem esta semana. De acordo com alguns protagonistas destas andanças “não há mal nenhum”. Um olhar mais atento, no entanto, revela uma realidade bem diferente. Desde indivíduos de cabeça baixa a girar sobre o próprio eixo ao som das gargalhadas de alunos do segundo ano até, acredite-se, meninos de tronco nu a servirem de alvo a iogurte arremessado por meninas pintadas com a média de entrada. 18,63 nas costas de alguém. E agora digam-me, por favor e se forem capazes, se nos devemos incomodar com tudo isto. Em princípio diria que sim, que a dignidade humana seria um valor a preservar. Vi quem tentasse, mas argumentar contra alguém que nos diz “é coacção mas não faz mal” torna-se quase ridículo. Isso e tentar lutar contra uma organização sem chefia, cujos membros surgem do chão como cogumelos. Vestem de preto e são mais que muitos. Os outros, nós, somos poucos e não temos credibilidade.
Quero defender um sim nesta situação mas o que vejo são corpos desprovidos de alma. E queria acreditar que 18,63 conferem inteligência. Mas não. E devo eu querer ajudar quem não se importa de ser praxado? Porque me parece, verdadeiramente, que por muito humilhante que seja, os novos alunos não se importam – até agradecem – por se sentirem membros da “melhor faculdade do país” (segundo as palavras de uma nossa colega). Será que anos de estudo com um – este – objectivo toldam assim o pensamento e os valores das pessoas? Não tenho resposta. Resta-me apelar a todos os que ainda se indignam que nos venham ajudar. Não a tentar que quem quer ser praxado não seja, mas sim, defender os poucos que não querem.
Decepção e uma ideia: experimentem exigir aos novos alunos que participem nas RGAs ou em manifestações estudantis (pode ser que a coacção, que não é má, os motive).