sábado, dezembro 30

Memorial para um Movimento

Ainda em 2005...
“ - Mas então, foste tu que mandaste o mail para o DES1BIGA?”
“ - Fui! Ah! Então és tu...?”
E ali, no meio do átrio do Edifício Lobotómico, confirmámos apressadamente a data da reunião marcada. E lá estávamos – fiquei surpresa, éramos mais do que naquele jantar na cantina que tinha precedido o número anterior (nesse, estava eu, o Gama, o Pedro e o Cristóvão). E havia ideias: os sete poetas malditos, entrevistar o Saramago, que por acaso ia à escola no dia seguinte, secções novas com artigos clubistas. Falou-se de Baudelaire, Pessoa, Rimbaud, Al Berto, Morrison, e um tal de Ginsberg de quem eu nunca tinha ouvido falar. E havia um projecto de capa com recortes de jornais e dois olhos assustados no meio: “O MEDO”, era o tema do número dez. E a mostrar-nos esses olhos, uma menina que faz cócegas na alma (a expressão não é minha).
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E então, quem é que escreve o parágrafo seguinte?

sexta-feira, dezembro 29

Mário Cesariny à 6ª

Transcrevo o primeiro parágrafo da Editorial do suplemento da edição de hoje do Diário de Notícias, "".

"É habitual a hora de balanço ao fim de cada ano. Contam-se os livros, os filmes, os discos que se leram, viram, escutaram. Evocam-se notícias, assinalam-se chegadas e partidas. E destas, a mais sentida para a cultura portuguesa é a de Mário Cesariny. Daí a opção de assinalar o fim de ano não com um balanço formar, transversal, generalista, do deve e haver de mais 365 dias, mas com um conjunto de olhares, retratos, memórias, reflexões, poemas e imagens à volta de um mesmo protagonista, Mário Cesariny."
Nuno Galopim

quinta-feira, dezembro 28

The beautiful game

O jogo ainda não começou e parece-me mentira que o espectáculo vá desenrolar-se em baixo quando lá em cima, nas bancadas repletas e ardentes, estão a acontecer tantas coisas. Troncos nus, braços ao céu e um grito que é um canto coral e apaixonado, que nunca pára de animar. E depois corre uma bola e correm os jogadores atrás dela e correm os olhos ansiosos da multidão atrás de bola e dos jogadores... Que simplicidade, não é verdade? Tem o poder de fazer esquecer a pobreza, a frustração, o desespero. Chama-se futebol e não é preciso dizer mais nada.

Jorge Valdano



quarta-feira, dezembro 27

Slides deprimentes da FML .2

Reparem como, apesar de o conceito de "não dipper" nos parecer relativamente simples, a coisa se complexifica quando se tenta definir um "dipper".
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Releiam agora as duas afirmações e notem como a frase que define "dipper", para além de, quando isolada, não dizer rigorosamente nada, se torna imperscrutável quando articulada com a frase anterior. Salienta-se ainda a elegância filosófica com que estes conceitos se sobrepõem.
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Ok, ok, os erros ortográficos fazem parte do nosso quotidiano.
Mas quando vêm de malta qualificada, pertencente a um quadro académico, conservam o encanto, não?

segunda-feira, dezembro 25

Vinte-Cinco

sábado, dezembro 23

FELiZ NATAL, CAMBADA!


* a iluminação da árvore de natal do millenium bcp, a maior árvore metálica da europa, sita na praça do comércio, implica o consumo de 50 mil litros de gasóleo (o correspondente ao consumo anual de 170 lares com um agregado familiar de 3 pessoas) e a emissão de 132 toneladas de CO2 equivalente, agravando o nosso incumprimento do protocolo de quioto em 3650€. (fonte: gaia.org.pt)

mas..vale a pena, catano!

terça-feira, dezembro 19

A Classe Operária e o Neomalthusianismo

« A classe operária, longe de perecer, cresce, robustece-se, amadurece, une-se, instrói-se e tempera-se na luta. Somos pessimistas a respeito do regime de servidão, do capitalismo e da pequena produção, mas somos fervorosamente optimistas a respeito do movimento operário e seus fins. Estamos já assentando os cimentos do novo edifício e os nossos filhos concluirão a obra.
« Por isso - e só por isso - somos incondicionalmente inimigos do neomalthusianismo, desta corrente própria dos pares médio-burgueses fossilizados e egoístas, que cochicham espavoridos: vivamos como pudermos e o melhor será não ter filhos.
« Naturalmente, isto não nos impede de modo algum de exigir a abolição absoluta de todas as leis que castigam o aborto ou a difusão de obras de medicina em que se expõem medidas anticoncepcionais, etc.
« Semelhantes leis não indicam senão a hipocrisia das classes dominantes. Estas leis não curam as doenças do capitalismo, senão que as tornam particularmente malignas e perniciosas para as massas oprimidas. »
Lenine (1913)

quarta-feira, dezembro 13

O meu menino Jesus pt.1 (um conto de natal)

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo a roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas —
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido." —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Alberto Caeiro



domingo, dezembro 10

Há domingos que se podem tornar alegres!


Não sei o que adicionar a esta imagem. Conota tanto.

Já foste pequenino, cagáste nas calças e mijavas fininho. Foi o teu pai que te bateu? Ou já eras filho da puta, assim de mansinho? Quem me dera não ser ateu..

E alegro-me do mundo se ver livre de ti e anseio a morte de muitos outros, assim, terrífica, obscena, sem pudor.



sábado, dezembro 9

Disparidades

Foi apresentado em Helsínquia, na passada terça-feira, um relatório das Nações Unidas intitulado "Estudo Sobre a Distribuição da Riqueza nas Famílias".

Os números são claros, a nossa percepção é que pode ter dificuldades em registar a obscenidade.

os que estão entre o 1% mais rico (37 milhões de pessoas) possuem 40% de toda a riqueza global,
os 2% mais ricos da população possuem 50%,
os 10% mais ricos, 85%...

já os 50% mais pobres (portanto, mais de 3 mil milhões de pessoas...) possuem 1%.

existem 13 milhões de pessoas no mundo que têm 1 milhão de dólares, 451 mil que têm 10 milhões, 15 mil que têm 100 milhões e 499 que têm 1000 milhões de dólares.

ter 1700 euros em bens (este portátil onde estou a escrever vale isso) equivale a estar entre os 50% mais ricos.

ter 50 mil euros (um T0 usado) coloca o seu dono nos 10% mais ricos.

ter 384 mil euros (um T3 em Telheiras), só para os 1% mais ricos do planeta.


É apenas um retrato estatístico do mundo que temos.

sexta-feira, dezembro 8

o poder das memórias o poder dos romances

"É um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo, talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto. Alguma coisa seria que não pôde ser nunca. Recordo aquelas noites mornas de verão, quando dormíamos debaixo da figueira grande, ouço-o falar da vida que teve, da Estrada de Santiago que sobre as nossas cabeças resplandecia, do gado que criava, das histórias e lendas da sua infância distante. Adormecíamos tarde, bem enrolados nas mantas por causa do fresco da madrugada. Mas a imagem que não me larga nesta hora de melancolia é a do velho que avança sobre a chuva, obstinado, silencioso, como quem cumpre um destino que nada poderá modificar. A não ser a morte. Este velho, que quase toco com a mão, não sabe como irá morrer. Ainda não sabe que poucos dias antes do seu último dia terá o presentimento de que o fim chegou, e irá, de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os troncos, despedir-se deles, das sombras amigas, dos frutos que não voltará a comer. Porque terá chegado a grande sombra, enquanto a memória não o ressuscitar no caminho alagado ou sob o côncavo do céu e a eterna interrogação dos astros. Que palavra dirá então?"

In As Pequenas Memórias de José Saramago

quarta-feira, dezembro 6

Momentos deprimentes da FML .1

Inspirada pela secção "Momentos Deprimentes da Televisão Portuguesa" do programa "Diz que é uma Espécie de Magazine", achei que esta pérola, projectada por um elemento do nosso corpo docente de Cardiologia, devia ser registada. Notem a combinação das cores - que é, por si só, engraçada. Depois, tentem identificar o erro científico. O desafio destina-se não só à comunidade discente de Medicina - alarga-se a qualquer um que tenha alguns conhecimentos de Fisiologia e, talvez até, quem sabe, umas luzes de Ciências da Terra e da Vida.

E então, encontraram? A associação entre a Síndrome Coronária Aguda com a "redução (...) da necessidade de O2" foi algo que me intrigou. Tentei esclarecer a intriga com o dito docente, que confirmou a afirmação exposta no slide, sem se preocupar em esclarecer mais pormenores fisiopatológicos. Para além desta pequena imprecisão, fomos confrontados com a substituição coloquial de "regurgitação mitral" por "coisa mitral".

segunda-feira, dezembro 4

ceportém 0 Benfica 2


O jogo acabou.


Ganhámos?


Não...


Levámos dois zero.