Não a querem abraçar? Sempre que vejo a Audrey Hepburn apetece-me abraçá-la... Ela é, afinal, uma woobie! Pelo menos no Breakfast at Tiffany's (1961).
Blake Edwards viria a ficar famoso pelas suas comédias, nomeadamente os filmes da Pantera Cor-de-Rosa e o fantástico The Party (1968), todos com Peter Sellers.
Mas mais para o início da sua carreira, quando ainda não se tinha estabelecido como realizador de comédias, fez esta pérolazinha de filme que é o Breakfast at Tiffany's.
Baseado num romance de Truman Capote, Breakfast at Tiffany's conta a história de Holly Golightly e Paul "Fred" Varjak.
Holly (maravilhosamente interpretada por Audrey Hepburn) é uma socialite/acompanhante, uma espécie de prostituta de alta sociedade que cobra pelo simples facto de ser vista em público a acompanhar outra pessoal, cujo objectivo vago é ganhar muito dinheiro. Para isso vai fazendo o jogo da alta sociedade, a saltar de homem em homem, numa vida caótica. Agora, contrariamente ao que possam pensar, a personagem dela não é cínica, nem fria nem sequer calculista. Passa a maior parte do filme sem dinheiro e a sentir-se magoada pelos "ratos" da corrida. Mas também não é parvinha nenhuma. Apercebe-se profundamente do cinismo e hipocrisia do que faz e das pessoas à volta dela. Só que dá-lhe mais jeito que as pessoas achem que ela é parvinha.
Depois há Paul Varjak (George Peppard), que se muda para o apartamento de Holly, e se vê enredado na vida dela. Paul é um escritor que não escreve nada há vários anos, e é sustentado por senhoras de alta sociedade que têm pena dele (é sugerido várias vezes no filme que ele também funciona como prostituto). Também ele é consciente do jogo que joga, e isso também lhe desagrada.
Por não terem nada à partida que o outro queira, Holly e Paul conseguem criar uma amizade honesta, algo que nas suas vidas parece ser raro.
A história progride a partir daí, mostrando pequenos vislumbres da vida de um e de outro, e da forma como se vão tornando cada vez mais próximos. Mas, sem dúvida, a estrela do filme, a personagem central é Holly. Mais uma vez, devido à interpretação fantástica de Audrey Hepburn.
A mulher tem tanto, mas tanto estilo! Exuda glamour e elegância, mesmo quando é suposto estar bêbeda ou descontrolada! É impossível não admirar esta personagem. E é fantástico como, através destas camadas todas, Audrey Hepburn ainda consegue dar à personagem uma fragilidade extrema, a transparência de que debaixo de todo aquele glamour há imenso sofrimento de que a personagem quer fugir.
Não vou contar o resto da história, mais vale ser vista.
Adicionalmente, temos uma visão muito gira da América pré revolução hippie, um estereótipo japonês, e a fantástica canção Moon River, escrita por Henry Mancini de propósito para Audrey Hepburn
Ps: vendo agora este trailer, apercebo-me que mostra mais da história do que eu gostaria, mas vou deixá-lo ficar, porque acho que é deliciosamente representativo do estilo de cinema do início dos anos '60!
EDIÇÃO ESPECIAL DE I'LL SEE YOU IN MY DREAMS NO MOTELx
EU VOU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"A curta-metragem I'll see you in my dreams, abalou o cinema português em 2003, ao trazer para o grande ecrã os primeiros zombies portugueses. Contou com um elenco de luxo: Sofia Aparício, Adelino Tavares, São José Correia, Rui Unas, entre outros.
No ano em que o MOTELx promove o Prémio Melhor Curta de Terror Portuguesa, o filme de terror português mais popular de sempre terá uma edição especial numerada de 1000 exemplares, que incluirá a oferta de um fotograma original do filme. Este DVD estará disponível para compra a preço especial durante o festival, de 2 a 6 de Setembro, no Cinema São Jorge.
Para além do DVD, o MOTELx está a preparar uma surpresa relacionada com o filme I'll see you in my dreamspara a sessão de encerramento do festival.
Comentário de Filipe Melo, produtor, actor e argumentista
"Passaram cinco anos desde a primeira edição em DVD do I´ll see you in my dreams. Escrevo estas linhas em Tondela, na mesma mesa onde há sete anos escrevi a curta-metragem, e não posso deixar de confessar que sinto uma enorme nostalgia. Nesta sala, ainda consigo imaginar a equipa de efeitos especiais a maquilhar os meus amigos e a equipa de produção a correr de um lado para o outro. Entretanto, o bosque onde filmámos a sequência inicial ardeu e a casa de Lúcio foi demolida. A equipa não se voltou a juntar: alguns seguiram com as suas vidas no cinema, outros seguiram com as suas profissões habituais nas outras áreas. Tenho a certeza, no entanto, que esta curta metragem marcou todos os que por ela passaram - o espírito de união, de crença no resultado final e a total entrega a uma causa que a todos parecia irracional. Está tudo aqui, resumido numa caixinha, gentilmente reeditada pelo MOTELx. Sei que, por causa deste filme, passarei uma vida inteira dedicada ao cinema e às artes do fantástico, porque percebi o quão necessário isso se tornou para mim. É gratificante saber que, ao longo dos tempos, cresce uma comunidade portuguesa dedicada ao terror e ao imaginário. Em breve seremos muitos, e cada vez melhores."
Comentário dos organizadores do MOTELx
(Carlos Pontes, Catarina Ramalho, João Monteiro, João Viana e Pedro Souto)
"O MOTELx surge de uma grande vontade de partilhar uma afeição pelo cinema de terror e também da ambição de contribuir, de alguma forma, para a implementação do cinema de terror português. I´ll see you in my dreams, é já uma das mais importantes curtas-metragens nacionais de sempre pela forma como se destacou e abalou um pouco o panorama do cinema português, e também enquanto fonte de inspiração para jovens cineastas no género: trata-se de uma obra nascida do mais puro amor pelos filmes de zombies e, como manda a história, produzido graças à determinação de alguém consciente de pouco lucrar com esta demanda. Quando o Filipe Melo se dirigiu a nós para reeditar a curta em DVD, parecia que um círculo se estava a fechar. No ano em que iniciamos o Prémio MOTELx - Melhor Curta de Terror Portuguesa, participar na reedição em DVD do primeiro filme de terror português pareceu-nos não só óbvio, mas obrigatório. E para tornar esta edição mesmo especial passámos uma memorável noite a cortar uma das bobines do filme, para que cada caixa tenha um fotograma original e exclusivo de zombies portugueses."
Edição Especial MOTELx do filme I'll see you in my dreams
1.000 exemplares com oferta de fotograma do filme
Extras do DVD: Menus animados; Documentário O Homem que Gostava de Zombies; Making of "A Curta + Longa"; Videoclip dos Moonspell; Making of do Videoclip; Cenas cortadas; Comentário audio; Comparação destoryboard; Trailer de Cinema; Galeria de Imagens, Festivais.
Produtora: Pato Profissional
Realização: Miguel Ángel Vivas
Argumento: Filipe Melo e Ivan Vivas
Actores: Adelino Tavares, São José Correia, Sofia Aparício, Manuel João Vieira, João Didelet, Rui Unas, David Almeida
Ano: 2003
Duração: 20'
À venda durante o MOTELx a preço especial de 10€.
O MOTELx é organizado pelo CTLX - Cineclube de Terror de Lisboa em parceria com a EGEAC, E.E.M. e em co-produção com o Cinema São Jorge. "
Uma pessoa com quem vi o filme, disse-me no fim que o Woody Allen fazia sempre o mesmo tipo de filme. Sempre o mesmo tipo de história, sempre o mesmo tipo de diálogos, sempre o mesmo formato.
E é verdade!
O Woody Allen repete-se imenso, experimenta sempre à volta do mesmo tema, faz todos os seus filmes com o mesmo tipo de diálogo, o mesmo tipo de humor, o mesmo tipo de ritmo e cinematografia.
Isso diz-nos dele que é um realizador rígido, sem grande capacidade de evolução, sem flexibilidade e vontade de experimentar coisas novas.
O que não invalida que os filmes dele sejam muito muito bons!
Vicky Cristina Barcelona (2008) é o penúltimo dos seus filmes (raios que o homem não pára! Um filme por ano, quase sem falhas, desde os últimos 40 anos!!!). E é muito bom!!!
No seguimento dos seus últimos filmes, este é também um filme escuro, apesar de não parecer.
Começando com Melinda and Melinda (2004) e estabelecendo-se com Matchpoint (2005) Woody Allen tem feito filmes com temas mais pesados ou com finais tristes.
Vicky Cristina Barcelona abre com a apresentação das duas personagens principais Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) que decidem ir passar as férias de verão a Barcelona (não surpreendentemente).
Vicky é apresentada como sendo realista, estável e à procura de seriedade. Cristina como romântica trágica, sem saber ao certo o que procura.
Chegadas a Barcelona encontram Juan Antonio (Javier Bardem) um artista, e a relação de ambas com ele vai pôr em causa aquilo em que ambas acreditam.
Pelo meio, para complicar as coisas surge a ex-mulher de Juan Antonio, Maria Elena (Penélope Cruz).
A história desenrola-se na relação entre estas quatro personagens. E à medida que o filme progride, que a história se expõe, percebemos quão profunda cada uma destas personagens é, e quão complexa é cada uma das relações que estabelecem. A escrita é da melhor que tenho visto nos filmes do Woody Allen, ou em qualquer outro filme, e as personagens (e as suas relações) são perfeitamente credíveis.
Para isto contribui imenso a interpretação de cada um dos actores. Todos os quatro, Rebecca Hall, Scarlet Johansson, Javier Bardem e Penélope Cruz, estão no seu melhor!
Sem querer contar o desfecho da história, Vicky Cristina Barcelona funciona como conto, como fábula, uma cautionary tale!
O controlo obsessivo e a atenção ao detalhe, típicos de Woody Allen, são muito visíveis durante o filme todo, seja na banda sonora meticulosamente escolhida, aos locais e cenários seleccionados para filmar.
A fotografia é lindíssima.
Se gostam de Woody Allen, vão gostar deste filme! Se não gostaram dos outros filmes do Woody Allen, então... a Scarlett Johansson e a Penélope Cruz beijam-se!
O que é que se passa aqui, e porque é que é interessante?
O que se passa é que Sacha Baron Cohen, inventa uma personagem, neste caso um homossexual assumido (mais especificamente uma bicha histérica), e depois deixa-a livre para percorrer o mundo.
Depois filma as reacções do mundo.
O filme tenta ter piada de duas maneiras diferentes: a mais simples é pela própria personagem que é uma caricatura exagerada, e cujas idiossincrasias e exageros tentam produzir o riso.
Infelizmente rirmo-nos dos homossexuais é mais velho que cuspir na sopa, e nem os enormes exageros a que a personagem é levada por vezes conseguem ter piada. A personagem simplesmente não é original. Está bem construída, bem interpretada, mas não tem nada de original.
A segunda forma pela qual o filme tenta ter piada é pela reacção do mundo à personagem.
Aqui sim está o aspecto interessante do filme, quase como retrato social.
O filme está construído como falso documentário que funciona como documentário a sério (!?!).
Neste caso, Brüno, a personagem titular, percorre a américa profunda e vai chocando muitas pessoas, mas mais que isso, elicitando respostas e reacções inacreditáveis (desde os padres que querem curar homossexuais a mães que deixam fazer lipo-aspiração aos bébés).
Para mim, mais incrível que estas pessoas reagirem desta forma, é simplesmente o facto de não questionarem a personagem e aceitarem sem hesitar que ela possa existir no mundo real!!!
Obviamente que nem todas as situações são genuínas, sendo algumas claramente ensaiadas. No entanto é difícil estabelecer claramente uma distinção, o que em si é assustador.
Só por estas razões, Brüno vale a pena ser visto.
No entanto, sou da opinião que o Borat (2007) que funcionava exactamente nos mesmos moldes, tinha mais piada.
E tinha mais piada exactamente porque a personagem principal, nesse caso um jornalista de um país da europa de leste (Borogravia? não me lembro...) vai para a américa com uma data de preconceitos horríveis que não questiona.
Bem mais interessante que uma bicha histérica, que já foi feita dezenas de vezes.
De acordo com a wikipedia, o Grito de Wilhelm foi gravado originalmente para o filme Distant Drums de 1951.
Era um efeito sonoro usado na cena em que um homem é comido por um crocodilo.
Por alguma razão, o efeito sonoro foi sendo usado esporadicamente em vários filmes ao longo dos anos, até que Ben Burtt, o editor de som no Star Wars Episode IV: A New Hope o usou, e passou a usar em muitos filmes da dupla Lucas-Spielberg.
Desde então que, se prestarem atenção, e sobretudo se souberem ao que estar atentos, podem ouvir este efeito sonoro em dezenas de filmes.
É como as velhas questões: gatos vs cães, baunilha vs chocolate, Beatles vs Elvis, cuecas vs boxers, bolo vs tarte, cuspir vs engolir, Piratas vs Ninjas.
Até podemos gostar dos dois, mas gostamos sempre mais de um do que do outro. E isso define-nos enquanto pessoa, pelo menos um bocadinho.
E os filmes passados em Nova Iorque ou em Los Angeles são definidos, pelo menos um pouco, pela escolha da cidade em que são filmados.
Isto dava todo um artigo (e possivelmente vá dar, não sei) mas resumidamente: Nova Iorque é uma cidade claustrofóbica, suja, com pouco espaço pessoal, íntima, em que tudo é tomado pessoalmente, que cresceu como um organismo vivo, em que a sujidade e a lama e o sangue fazem parte do cimento que segura os velhos prédios de apartamentos e as decrépitas esquadras de polícia. Los Angeles, por outro lado, é uma cidade grande, aberta, desenhada, construída, impessoal, estéril na sua corrupção, fria no seu calor de deserto, com os seus prédios de plástico e vidro a reflectirem uma população que não se importa, que está dessensibilizada.
Eu vi na semana passada o Public Enemies e não escrevi acerca dele porque tinha acabado de sair dos exames e não me apeteceu. Mas pensei que o filme sestava muito bem realizado, e pus-me a pensar nos outros filmes que o Michael Mann tinha feito, e decidi rever o Collateral.
Isto é mentira, obviamente. Eu estava a procurar na prateleira dos DVDs e apeteceu-me voltar a ver o Collateral outra vez, e depois é que me lembrei que o Michael Mann também tinha realizado o Public Enemies, mas pronto...
Há três histórias a decorrerem no Collateral.
A primeira é o enredo. Max (Jamie Foxx) é um taxista em Los Angeles, que apanha Vincent (Tom Cruise) ao início da noite. Na primeira paragem, Vincent revela-se como assassino, e contrata (obriga) Max a conduzi-lo durante o resto da noite enquanto ele vai atrás de cada alvo na sua lista. A história progride como seria de esperar, com um polícia atrás deles (Mark Ruffallo), bandidos (Javier Bardem, numa aparição curta mas intensa) e até uma donzela em perigo que tem de ser salva (Jada Pinkett-Smith).
A segunda história, bem mais interessante, é a história entre Max e Vincent. Max é taxista há 12 anos, é bom no que faz, mas tem outros planos, outros projectos que adia indeterminadamente. Vincent é um assassino frio, prático, niilista e que gosta de jazz. Durante a noite, Max e Vincent desenvolvem uma relação de cumplicidade relutante, uma vez que precisam um do outro (Max precisa, sobretudo, que Vincent não o mate). Vincent introduz-se na vida de Max e altera-a com a mesma frieza e desligamento com que mata pessoas aleatórias. Ao longo do filme apercebemo-nos da profundidade de cada uma destas duas personagens e de quão defeituosas ou gostáveis conseguem ser. A história nunca nos deixa escolher claramente por quem torcer, mostrando-nos aspectos de um e de outro que nos fazem variar a nossa simpatia. Kudos para Stuart Beattie, escritor.
Finalmente há a história de Los Angeles. Este é um filme passado à noite em Los Angeles, e Michael Mann faz questão de o mostrar. Filmado todo com câmaras digitais (mais sensíveis às baixas luzes), Michael Mann dedica quaste tanto tempo e energia para mostrar a desolação urbana nocturna de Los Angeles quanto a mostrar a história e as personagens. A fotografia é lindíssima, com os néons e os candeeiros de rua, e as luzes fluorescentes dos prédios, os semáforos, um céu ubiquamente cor-de-laranja. Los Angeles à noite é uma cidade deserta, solitária, com estradas semi-vazias e sem vida. Este vazio reflecte, de alguma forma o vazio interior e solidão das duas personagens principais.
A música do filme alterna entre Bach, Miles Davis e música original de James Newton Howard, usada sempre de formas extremamente oportunas.
Tenho definitivamente de comprar este filme em Blu-Ray...
O filme começa com Sam Bicke, no carro, a fazer a barba, a amarrar uma prótese metálica à perna, a pegar na sua mala e a sair do seu carro que está no estacionamento, e a entrar no aeroporto. O realizador decide que isto precisa de mais contexto, por isso o filme volta uma semana atrás no tempo.
Vemos Sam Bicke no seu quarto a escrever uma carta a Leonard Bernstein (o maestro da orquestra sinfónica de Nova Iorque) a explicar porque é que vai matar o Presidente Richard Nixon. O realizador decide que isto ainda não serve de contexto, por isso o filme volta atrás no tempo um ano inteiro.
E vemos a vida de Sam Bicke.
Sam Bicke é um homem honesto. Obsessivamente honesto, intransigente na sua visão do que é correcto e errado no mundo. Sam esforça-se demasiado. Esforça-se por manter o emprego de que não gosta, esforça-se por agradar à ex-mulher, esforça-se por ser um bom pai, esforça-se por subir na vida.
Mas a América dos anos '70 não foi feita para homens como Sam Bicke. No filme a América é mostrada pelos olhos honestos e íntegros de Sam, cada corrupção, cada desonestidade são monstruosidades intoleráveis para ele. Sam Bicke vê-se confrontado com a necessidade de trair aquilo que para si são os seus princípios mais sagrados, mais basilares, para poder continuar a funcionar como a sociedade espera que ele funcione. Inevitavelmente falha.
Tal como tudo o resto inevitavelmente falha.
O filme é uma progressão lenta e dolorosa de cada fracasso pessoal, de cada humilhação, cada revés, cada frustração, do desmoronar da vida deste homem sofrido.
Sam Bicke esforça-se tanto!
A interpretação de Sean Penn é perfeita, absolutamente perfeita. Todas as nuances, todos os olhares, todos os gestos traem o sofrimento intenso que Sam Bicke sente todos os dias da sua vida.
A honestidade de Sam Bicke levam a que ele se revolte contra os desonestos e os mentirosos. E quem, na América dos anos '70 era mais desonesto e mentiroso que Richard Nixon?
Sam desenvolve uma obsessão doentia por curar o cancro do sistema, por mostrar aos poderosos que mesmo um zé-ninguém como ele tem poder, e que pode abalar as coisas.
Por isso põe em marcha um plano desesperado, um delírio, que ele acredita que vai mudar tudo.
E conta tudo a Leonard Bernstein, acompanhado de música clássica.
The Assassination of Richard Nixon foi, definitivamente, uma das experiências cinematográficas mais dolorosas da minha vida. O filme é absolutamente emocional, e consegue de uma forma soberba transmitir as emoções da personagem principal trágica. Isto deve-se, quase a 100% à interpretação fantástica de Sean Penn.
O filme é imperdível. A não ser, claro, que estejam deprimidos, e nesse caso se virem o filme podem querer suicidar-se. Deixo ao vosso critério.
O filme de polícias para acabar com todos os filmes de polícias! O melhor ao que o género pode aspirar, o ápex, o cúmulo, o clímax dos policiais!
Só é pena que esse pico tenha sido atingido há mais de 35 anos, e desde então nada tenha sequer chegado perto...
Estou a falar de Serpico de 1973.
Frank Serpico é o único polícia honesto numa Nova Iorque corrupta. Todos os polícias são corruptos, todos os departamentos são corruptos, todos os políticos e juízes e jornalistas são corruptos. Serpico decide iniciar uma cruzada pessoal contra a corrupção, contra tudo e contra todos.
A personagem é extremamente intensa e profunda. Brilhantemente interpretada por Al Pacino, Serpico é um homem obcecado com a sua luta, revoltado com o sistema e que a determinada altura deixa de se preocupar com a sua própria segurança. Abdica da sua vida, abdica das várias relações amorosas que poderia ter tido para tentar livrar o sistema policial da corrupção. No entanto toda esta luta é, para ele, altamente destrutiva e dolorosa. As perdas são intensamente sentidas, o cansaço é duramente vivido, a frustração é pálpável.
Começando como mero agente de rua, e subindo numa carreira atribulada pelos vários inimigos que faz na sua cruzada contra a corrupção, Serpico descobre desonestidade em todos os amigos e aliados e desilude-se profundamente com isso. No entanto continua, e leva a sua luta até às últimas consequências. Depois de ter perdido quase tudo, depois de já não ter nada a perder, essa luta é a única coisa que dá sentido à sua vida, e no fim do filme Serpico é um homem quebrado.
O filme é impiedoso na sua descrição da vida deste homem, mostrando cada aspecto da sua vida, em casa, com as namoradas, com os amigos e colegas de trabalho, a combater o crime nas ruas. O filme por vezes parece um documentário. Não é que não tenha uma sequência lógica de eventos, mas todas as cenas parecem separadas umas das outras, sem um fio condutor aparente entre elas, saltando livremente de cenas dentro da esquadra para cenas dentro da casa da personagem. Todas as cenas estão saturadas de pormenores ou informação relevantes. Não há momentos contemplativos, ou de comic relief, ou cenas familiares de conforto. Não é dado ao espectador um momento de descanso, onde recuperar o fôlego. É-nos feito sentir o stress e tensão da personagem de uma forma quase física.
Nova Iorque é mostrada como uma cidade suja e violenta, cheia de chuva e lixo e becos e carros abandonados, onde Serpico se integra com a maior das facilidades. É ridículo dizer que o filme retrata perfeitamente os anos '70, uma vez que foi feito em 1973, mas a verdade é que retrata realmente muito bem os anos '70. O fim do idealismo dos anos '60, a desilusão que se seguiu, as festas onde Serpico vai e onde se sente que toda a gente se está a esforçar demasiado por recapturar a ingenuidade da década anterior.
A música é esporádica, mas extremamente oportuna e intensa.
Serpico é um filme típico dos anos '70, que só podia ter sido feito nessa altura, e nunca nada tão bom dentro do género foi feito desde essa altura. O que é realmente uma pena, ou então só mostra quão bom o filme realmente é!
Ps: revendo o trailer, tenho de fazer notar que o Al Pacino tem o sentido de moda mais fantástico que eu já vi em qualquer filme.