domingo, junho 29

Não saindo do cinema, mas agora não é o Raven!



Slavoj Žižek explica porque é que "Música no Coração" é um filme racista.

The Last of The Mohicans

The Last of the Mohicans (1992) conta a história de Nathaniel Poe (Daniel Day-Lewis), um branco que foi criado por um caçador índio, durante a guerra Anglo-Francesa pelo território Americano.

Nathaniel e o seu irmão e pai índios intervêem quando uma brigada de soldados ingleses é atacada por um grupo de índios Huron. A brigada inglesa estava a escoltar Cora (Madeleine Stowe) e Alice Munro (Jhody May) ao Forte comandado pelo seu pai.

Durante o cerco feito ao Forte pelos franceses, Nathaniel e Cora apaixonam-se, e têm de lutar para se manterem juntos e vivos enquanto fogem dos franceses, dos ingleses e dos índios Huron.

(whew, isto de escrever sinopses é mais difícil do que eu pensava)

Michael Mann (Ali (2001) e Miami Vice (2006)) realiza em 1992 The Last of the Mohicans, e fá-lo muito bem.

O Último dos Moicanos é, estilisticamente, um cruzamento entre o Dances With Wolves (1990) e o Braveheart (1995), conseguindo simultaneamente dar-nos cenas de imensa beleza e atenção ao pormenor e cenas de espadeirada e sangue e tripas.
Os cenários são lindíssimos e as cenas de batalha são grandiosas e extremamente bem orquestradas (sobretudo numa altura em que ainda não se fazia tudo do conforto de um computador com programas como o Massive).

O filme também consegue equilibrar muito bem o enredo político das manigâncias francesas e inglesas para tomar conta do território com o choque cultural entre índios e europeus, e ainda dar atenção ao par romântico do filme (que acaba por ser bastante credível).

As interpretações de Madeleine Stowe e Daniel Day-Lewis são sólidas e intensas. Apesar disso, Daniel Day-Lewis não está no seu melhor (afirmação que tem de ser interpretada levando em conta o seu melhor).

Por fim, a música do filme é lindíssima e assenta-lhe que nem uma luva. Contribui para tornar o filme mais forte e torna a cena final duplamente intensa.

Em suma: Um bom filme para quem aprecia o género. Nada de imperdível, mas vale definitivamente a pena ser visto.

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sábado, junho 28

This is Spinal Tap

Tive o impulso de avisar que vou estragar a história do filme dentro de poucas linhas, mas achei que era ridículo.

Ainda assim, quem quiser ver este filme sem saber o que o espera (algo que, neste caso, é totalmente recomendado) não leia mais.


Imaginem os Led Zeppelin misturados com Black Sabbath, Kiss e uns cheirinhos de David Bowie, Queen e Meat Loaf. O resultado é Spinal Tap.
Spinal Tap aglomera 20 anos de sexo drogas e rock and roll numa única banda que consegue simultâneamente parodiar e homenagear as duas décadas mais prolíficas da música em lingua inglesa.

This is Spinal Tap (1984) , realizado por Rob Reiner, é um documentário acerca do último Tour nos Estados Unidos da banda de rock Spinal Tap.
Misturando excertos de actuações ao vivo, entrevistas com os músicos e filmagens de bastidores, This is Spinal Tap dá-nos um retrato de uma das bandas mais carismáticas dos anos '60 e '70...

...que nunca existiu.

This is Spinal Tap é um mockumentary (gozomentário, traduzido à força para português). A banda Spinal Tap é fictícia, os músicos são actores, as canções foram escritas de propósito para o filme.

E no entanto, apesar de sabermos (?) que o documentário não é um verdadeiro documentário, acreditamos nele!
Está de tal maneira bem escrito, bem caracterizado, bem interpretado que somos levados a crer, talvez não na verdade da situação, mas na sua plausibilidade.

As situações, as personagens, são, todas elas, caricaturas de clichés do mundo da música: vocalistas que dizem intelectualidades incompreensíveis acerca das letras que cantam, guitarristas que se comportam como prima-donas com os seus solos de guitarra, capas de discos que são demasiado obscenas para serem editadas, competição entre bandas, namoradas que fazem com que a banda se separe.
Até a personagem do realizador do documentário parece uma amálgama de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e Federico Fellini.

A vasta maioria dos diálogos presentes no filme foram improvisados no momento. Aos actores era apenas dada uma situação e um tema da conversa, e o resto era criado no momento.
É este aspecto que dá ao filme a sua sensação brilhante de espontaneidade e que nos faz realmente acreditar nas personagens.
Também ajuda o facto de todos os actores serem músicos experientes e de, de facto, tocarem eles mesmos todas as músicas presentes no filme.

Esta banda PODIA ter existido. Esta banda de facto existiu, mas diluída em todas as outras que conhecemos.

Absolutamente imperdível.
E não se esqueçam: cheguem ao 11!

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quarta-feira, junho 25

Aria em Sol - que se lixe cirurgia...

Não é cinema... pronto, eu meto cinema.

Discordo do Alexander Delarge.

Não é a Quinta do Beethoven, é a Aria em Sol do Bach.

"Gorgeousness and gorgeousity made flesh!"

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Adagio para Cordas - Ou porque é que a música é essencial aos filmes - ou porque é que eu sou doido

A resposta à última é simples: porque amanhã tenho exame prático de cirurgia às 9:00 da manhã e estou para aqui a escrever isto.

Não vi o filme recentemente, mas estava a ouvir um disco de músicas de bandas sonoras e voltei a dar de ouvidos com esta.

Para mim esta música estará sempre, inevitavelmente, associada ao Platoon.

Não leiam a partir daqui porque há spoilers à frente. Se não viram o Platoon, de que é que estão à espera? Não viram um filme de guerra até terem visto o Platoon!

Ainda podem voltar atrás.

Última hipótese!

No fim do filme, depois de toda a guerra, de todo o sangue, de toda a lama, de todos os tiros, depois de toda a violência, depois de toda a merda, depois de todas as desilusões, de todos os traumas... o Oliver Stone mete esta música.

Quando a personagem principal está finalmente a ser tirada do inferno verde em que tinha vivido, toca o Adágio para cordas do Samuel Barber.

E a música é o climax do filme, não a cena, apesar de a cena já ser intensa de si. Mas é a música que dá o soco no estômago final, é a música que nos faz sair do filme sem palavras, fisicamente cansados.

A música é dolorosamente, excruciantemente bela.

Adagio para cordas, de Samuel Barber:

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domingo, junho 22

Le Plat Pays - Ou porque é que o Jacques Brel é o melhor singer-songwriter que alguma vez existiu!

Em primeiro lugar porque escrevia e compunha todas as suas canções.

Segundo porque as interpretava ele mesmo.

Terceiro porque o fazia sem espectáculo. Vestia um fato preto, entrava em palco sem fazer discursos ou conversa fiada, havia uma única luz que o focava a ele, não falava entre as canções, no fim do espectáculo não fazia encores, nem ficava para receber ovações.

Quarto porque os poemas que escrevia são os melhores poemas de canções alguma vez escritos, sem dúvida alguma nem nenhuma discussão possível.

Quinto, porque não apenas cantava, ele interpretava as músicas. Vivia-as com uma intensidade exasperante.



Jacques Brel
LE PLAT PAYS
1962


Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
Et des vagues de dunes pour arrêter les vagues
Et de vagues rochers que les marées dépassent
Et qui ont à jamais le coeur à marée basse
Avec infiniment de brumes à venir
Avec le vent de l'est écoutez-le tenir
Le plat pays qui est le mien

Com o mar do Norte como último descampado
E vagas de dunas para impedir as vagas
E vagas rochosas que as marés ultrapassam
E que têm para sempre o coração na maré baixa
Com nevoeiros infinitamente a chegar
Com o vento de Leste, escutem-no agarrar
O País-Baixo que é o meu

Avec des cathédrales pour uniques montagnes
Et de noirs clochers comme mâts de cocagne
Où des diables en pierre décrochent les nuages
Avec le fil des jours pour unique voyage
Et des chemins de pluies pour unique bonsoir
Avec le vent d'ouest écoutez-le vouloir
Le plat pays qui est le mien

Com catedrais por únicas montanhas
E negras torres com sinos como mastros de abundância
Ou diabos em pedra que arranham as nuvens
Com o fio dos dias por única viagem
E os caminhos de chuva como único boa-noite
Com o vento de Oeste, ouçam-no desejar
O País-Baixo, que é o meu

Avec un ciel si bas qu'un canal s'est perdu
Avec un ciel si bas qu'il fait l'humilité
Avec un ciel si gris qu'un canal s'est pendu
Avec un ciel si gris qu'il faut lui pardonner
Avec le vent du nord qui vient s'écarteler
Avec le vent du nord écoutez-le craquer
Le plat pays qui est le mien

Com um céu tão baixo que um canal se perdeu
Com um céu tão baixo que dá humildade
Com um céu tão cinzento que um canal se enforcou
Com um céu tão cinzento que é preciso perdoar-lhe
Com o vento do Norte que acaba de se desfazer
Com o vento do Norte, ouçam-no quebrar
O País-Baixo, que é o meu

Avec de l'Italie qui descendrait l'Escaut
Avec Frida la blonde quand elle devient Margot
Quand les fils de novembre nous reviennent en mai
Quand la plaine est fumante et tremble sous juillet
Quand le vent est au rire quand le vent est au blé
Quand le vent est au sud écoutez-le chanter
Le plat pays qui est le mien.

Com a Itália que desceria pelo Escaut (rio)
Com Frida a loura, quando ela se transforma em Margot
Quando os filhos de Novembro nos regressam em Maio
Quando a planície fumega e treme debaixo de Julho
Quando o vento está no riso quando o vento está no trigo
Quando o vento está no Sul, ouçam-no cantar
O País-Baixo, que é o meu

Austin Powers

Eu nunca tinha visto os filmes do Austin Powers porque achava que não tinham piada. E agora que penso nisso, não me lembro de onde é que tirei esta ideia! Acho que alguém mo disse, e nunca tive vontade de os ver.

Recentemente, também não sei porquê, decidi dar-lhes uma oportunidade e vi os três filmes de seguida.

São bons! São muito bons!

Mike Myers que iniciou a sua carreira no Saturday Night Live e que antes destes filmes tinha aparecido no Wayne's World (1992) e Wayne's World 2 (1993) escreveu e protagonizou os três filmes do Austin Powers: Austin Powers: International Man of Mystery (1997), Austin Powers: The Spye Who Shagged Me (1999) e Austin Powers in Goldmember (2002).

Austin Powers é um super espião dos anos 60 que é congelado criogenicamente e descongelado nos anos 90 para combater o seu arqui-inimigo Dr. Evil!
É indecentemente lúbrico, cheio de piadas fáceis e um humor sexual muito pouco subtil, e é por isso que se tem de gostar dele!

Dr. Evil é o génio maligno por excelência, com planos para destruir o mundo, um clone com 1/8 do seu tamanho e um riso maléfico.

São ambos (entre outras personagens) brilhantemente interpretados por Mike Myers.

Os filmes são uma mistura de James Bond com o Hard Day's Night dos Beatles (um filme muito, muito mauzinho, mas indispensável para os fãs da banda).
São uma paródia completa ao estilo exagerado dos anos '60 e '70, copiando as músicas os ambientes e as roupas.

Os filmes são muito coloridos e têm um excelente ritmo. O primeiro filme é um pouco mais lento, ou menos apurado, mas acho que se justifica porque foi uma produção de baixo orçamento. Só com o sucesso é que os seguintes tiveram uma pós-produção mais exigente.

Agora, o mais importante: o humor.

Sim há piadas sexuais fáceis, sim é nojento e óbvio e tolo e exagerado.
Mas não é humor de tarte-na-cara!
Não se enganem
O humor destes filme é só superficialmente tolo. Na minha opinião é extremamente perspicaz e apurado. Passo a explicar:

Uma vez li o Mike Myers a explicar um pouco como ele vê a comédia. Ele dizia que se dissermos uma piada, ela tem piada da primeira vez que a contarmos. Se insistirmos na piada, ela começa a perder piada. Se continuarmos a insistir, então a piada perde totalmente a piada e torna-se embaraçosa, porque toda a gente já parou de rir. Mas se tivermos tomates, e continuarmos a insistir com a mesma piada ainda mais tempo, então ela volta a ter piada! Como que por magia a piada volta a fazer rir. E porquê? (isto já sou eu a teorizar) Porque a piada tornou-se auto-consciente, tornou-se tão óbvia que ficou conspícua e confrangida! Acabamos a rirmo-nos da piada e não com a piada!

O humor de Austin Powers está muito baseado nisto. Situações que são de tal forma exageradas e ridículas que nos rimos da piada e não com a piada.

É um estilo de humor muito exigente, muito difícil de fazer bem, mas Mike Myers consegue-o com uma facilidade tremenda.

Para além disto há pormenores que eu acho que são absolutamente fantásticos. Como no primeiro filme em que cada vez que um capanga anónimo morre, há uma pequena sequência de 30 segundos que mostra a mulher e filhos desse capanga anónimo, ou os amigos desse capanga anónimo. A lição é: até os capangas anónimos são pessoas!

Ou no segundo filme, em que há duas sequências brilhantemente escritas: um objecto com forma de pénis voa pelo céu, e são mostradas as reacções de várias pessoas a isso. No entanto, antes que qualquer uma delas possa dizer "pénis" a cena é cortada e passa para outra pessoa cujo diálogo começa com um sinónimo de pénis, mas descontextualizado de forma a que dê início ao pedacinho de diálogo seguinte!
Só exemplificando:

[Noticing Dr. Evil's spaceship on radar]
Radar Operator: Colonel, you better have a look at this radar.
Colonel: What is it, son?
Radar Operator: I don't know, sir, but it looks like a giant...
Jet Pilot: Dick. Dick, take a look out of starboard.
Co-Pilot: Oh my God, it looks like a huge...
Bird-Watching Woman: Pecker.
Bird-Watching Man: [raising binoculars] Ooh, Where?
Bird-Watching Woman: Over there. What sort of bird is that? Wait, it's not a woodpecker, it looks like someone's...
Army Sergeant: Privates. We have reports of an unidentified flying object. It has a long, smooth shaft, complete with...
Baseball Umpire: Two balls.
[looking up from game]
Baseball Umpire: What is that. It looks just like an enormous...
Chinese Teacher: Wang. pay attention.
Wang: I was distracted by that giant flying...
Musician: Willie.
Willie Nelson: Yeah?
Musician: What's that?
Willie Nelson: [squints] Well, that looks like a huge...
Colonel: Johnson.
Radar Operator: Yes, sir?
Colonel: Get on the horn to British Intelligence and let them know about this.

Ou então no terceiro filme, em que há um agente infiltrado (mole) que tem um enorme sinal (mole) no lábio, e todas as personagens não conseguem olhar fixamente para ele. Isto é explorado e explorado e explorado até se tornar totalmente ridículo!
É delicioso.

Depois outra coisa gira que os filmes têm são os cameos de actores ou pessoas famosas que entram só por acaso. Gente tão famosa como o Tom Cruise ou o Steven Spielberg (no terceiro filme)

Por isso vejam, que vale bem a pena.
Isto se souberem ver para além da crudeza do humor...





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terça-feira, junho 17

Alheamento do Futebol

O alheamento do futebol:

http://www.laboratoriodedesenhos.com.br/corrente_page.htm

E pronto...

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Paprika

Sabem aqueles filmes que são de tal forma intensos, que quando acabam de os ver, têm a sensação que foram violentamente abanados?

Paprika levou-me ao ringue de boxe, deu-me um enxerto de porrada durante três rounds, depois atirou-me um balde de água fria à cabeça e pôs-me numa montanha russa, sentado de costas.

É ASSIM tão intenso!

Realizado por Satoshi Kon (Tokyo Godfathers, 2003), Paprika é sobretudo, e em primeiro lugar, um espectáculo visual.

Se não fosse por mais nada, as cores bastariam para fazer deste filme a trip que é! A iluminação está fantástica, e a animação é do melhor que eu já vi!

Depois a história é totalmente... argh!

Sem vos querer estragar a história, ou sem querer enviesar a vossa interpretação, a história anda à volta de uma máquina que permite aceder aos sonhos de outras pessoas, e o que acontece quando uma dessas máquinas é roubada.

Hijinks ensue... (alguém me consegue traduzir isto?)

Eu podia passar aqui mais uns bons parágrafos a analisar a história, mas é tão incrível que não só eu preciso de a ver outra vez para formar uma opinião sobre o que acho que é suposto ser, como me parece que qualquer interpretação desta história nunca passará de uma opinião totalmente pessoal.



Ps: para além do que, eu estou com demasiado sono para escrever muita coisa.....

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domingo, junho 15

Não tem nada a ver com cinema

É, eu consigo escrever coisas sem ser por cinema.

Se bem que, quem me conhece diria que quando eu não falo de cinema, falo disto, mas pronto...

Estava eu em casa, hoje de manhã, e tocam-me à porta. Vou à porta e dá-se o seguinte diálogo:

Eu: Bom dia?
Não-Eu: Bom dia! Gostaria de falar sobre a Bíblia?
Eu: Não, obrigado. Bom dia!

Só que o bizarro disto é que do outro lado da minha porta, não estava uma velhinha de aspecto pacato com revistas na mão. Não estava um homem de meia idade, com aspecto de pregador.

Do outro lado da minha porta estava um puto de 13 anos.

A sério!!! Um puto de 13 anos!!! Daqueles que têm borbulhas na cara, estão a dar o salto de crescimento e ainda não deixaram de ter falsete na voz!

Estava todo engravatado, e atrás dele estavam os caricaturais pregador e velhinha pacata de revistas na mão.

Mas era uma criança.

A perguntar-me se eu queria falar sobre a bíblia!

Só a mim é que isto choca?
Só a mim é que isto enoja?

É como ter crianças combatentes, é como abusar sexualmente de crianças. É obsceno!

É obsceno engravatar uma criança de 13 anos e pô-la a evangelizar pessoas.

É como pôr bombas numa criança e mandá-la para as linhas inimigas!

Quer dizer, o puto mal tem idade para decidir exactamente de que clube de futebol é que gosta, e já lhe estão a lavar a cabeça com religião!

Quem quer que faça isso a uma criança não é melhor que um pedófilo.

E eu? Que podia eu fazer?

Ir lá e meter-me na vida de outras pessoas? Pregar-lhes as minhas convicções sobre a teoria da evolução e sobre ciência?

Tentar salvar aquela criança da fé? Ensiná-la que ela pode pensar pela sua cabeça, que há mais do que uma verdade, que ela pode decidir o que é que ela acredita que é certo ou errado?

Meter-lhe dúvidas na cabeça, para que daí pudessem surgir ideias próprias?

Que é que eu podia fazer?

Acabei por não fazer nada... cobardemente... tive imensas razões legítimas para não o fazer... "não tenho nada a ver com as maluqueiras de outras pessoas", "tenho mais que estudar", "não ia valer de nada porque depois o miúdo ia voltar para casa com aquelas pessoas outra vez".

Mas a verdade é que não fiz nada para tentar resgatar aquela criança de uma vida de crença cega e dogmatismo absoluto.

Sou só humano... e nem isso é uma desculpa de jeito...

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sábado, junho 14

The Incredible Hulk

Lembram-se do Hulk de 2003, do Ang Lee?

Bem, o Hulk (2003) e o The Ibcredible Hulk (2008) ambos têm um gajo grande e verde, e as semelhanças acabam por aí!

Não é que eu não tenha gostado do outro filme do Hulk! Tinha boas sequências de acção, e o Eric Bana estava razoável no seu papel. Mas... não tinha HULK SMASH suficiente...

Era muito intelectualizado, muito analítico, com todas as personagens a serem muito bem explicadas.
Em qualquer outro filme eu diria que isto eram vantagens, mas não num filme do Hulk.

Agora, não me interpretem mal, esses aspectos não faziam de Hulk (2003) um mau filme, nem desmereciam da personagem do Bruce Banner (que é bem digna de análise), só que não faziam do filme o que se espera de um filme do Hulk.

Que é, basicamente, HULK SMASH!!!

The Icredible Hulk (2008) dá-nos o HULK SMASH que o primeiro filme não tinha.
É mais brutal, mais energético! Apesar de começar lentamente (comparado com o fim) o filme de meio para a frente é só porrada de criar bicho!

Agora, não vão ver o filme à espera de uma grande trama, ou sequer de uma lógica perfeita... É um filme de banda desenhada e não aspira a mais.
E enquanto filme de banda desenhada é melhor do que a maioria que por aí anda!

De fazer notar as participações de Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt e Tim Roth (apesar de eu continuar a insistir que o único actor que representaria realmente o Bruce Banner como ele é seria o Steve Buscemi)

Em suma, The Incredible Hulk satisfaz de todas as formas que o primeiro não satisfazia.

HULK SMASH!!!!



Ps: só para verem a simplicidade da história, eu tive de passar por uns dois ou três trailers só para encontrar um em que não se percebesse imediatamente a trama inteira da história!

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terça-feira, junho 10

Big Buck Bunny


Big Buck Bunny from Blender Foundation on Vimeo.

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Proof

Proof (2005), foi realizado por John Madden (que também realizou Shakespeare in Love, em 1998). É baseado numa peça homónima da broadway, baseada na vida de John Nash.

Gwyneth Paltrow interpreta o papel principal, tal como também o interpretara no palco.
Eu diria que a interpretação dela neste filme é das melhores da carreira dela, se bem que não seja uma carreira que conheça bem.
Interpreta a sua personagem com uma força enorme. Porque é uma personagem normal, uma pessoa saudável, que vive na sombra da loucura do pai, e que não sabe se é mentalmente sã, ou não! E Gwyneth Paltrow transmite essa luta e essa fragilidade de uma forma muito poderosa.

Jake Gyllenhaal faz um bom papel, mas nada de especial.

Anthony Hopkins está brilhante, como sempre, e dá vida a uma personagem que não é de modo algum fácil de interpretar.

Hope Davis que interpreta a irmã da protagonista, faz um trabalho excelente de caracterizar uma personagem que é muito subtilmente louca e disfuncional, sem nunca o tornar óbvio nem exagerado.

Proof é um filme muito giro! Conta uma história que é muito simples, mesmo. Uma jovem matemática tem de cuidar do pai, antigo génio matemático que fica demente. Após a morte dele, a filha começa a questionar a sua própria sanidade mental, sobretudo com a chegada de um ex-aluno do pai que insiste que ele teria escrito um grande teorema matemático que se perdeu algures na sua loucura, e com a chegada da sua irmã que é menos saudável do que quer aparentar ser.
No meio destes conflitos interpessoais, surge, de facto, um teorema. Um teorema revolucionário, que ninguém sabe ao certo quem escreveu.

A história é concisa, directa, contada sem grandes artifícios (exceptuando alguns flashbacks para aumentar o suspense) e é totalmente suportada pelas interpretações.
O mais giro de tudo é que é um filme sobre matemática, e sobre geeks de matemática, que consegue, de uma forma genial, nunca ser sobre matemática.

Todo o filme por resultar numa obra muito, muito apreciável, com um ritmo cativante, uma música muito bonita, e interpretações que são do melhor que se vê por aí.
Recomendo!

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domingo, junho 8

Little Miss Sunshine

O filme é lindo!!!

Lindo, percebem? é... tão bem feito, tão bem executado!

Em primeiro lugar, não se deixem enganar pelo que vos possam dizer: este filme não é uma comédia. É uma tragédia!

A sério, é um filme trágico!

As personagens são todas tão maravilhosamente e deliciosamente defeituosas! São absolutamente credíveis!

Há o avô (Alan Arkin), que foi expulso do lar de terceira idade por andar a snifar heroína e que dá conselhos de natureza duvidosa (mas terminalmente acertados) aos netos.
Há o pai (Greg Kinnear), que é um autor de um livro de auto-ajuda, que tenta vender, compulsivamente, a sua teoria a toda a gente, que é tão sinceramente bem intencionado na sua disfuncionalidade, que acredita tão genuinamente e tão doentiamente na sua teoria de "vencedores" e "perdedores"
Há a mãe (Toni Colette), que se vê pelos cabelos com toda a família, que tem de ser a rocha, que tem de cer o centro da família, que não pode vacilar!
Há o irmão (Paul Dano), que fez um voto de silêncio, que odeia o mundo todo e que lê demasiado Nietzsche.
Há o tio (Steve Carell), professor de filosofia, que se tentou suicidar porque o seu amante o largou por outro homem.

E depois há a filha (Abigail Breslin), que é, talvez, a única personagem equilibrada do filme, que é bonita e querida e que quer , na sua ingenuidade, entrar num concurso de beleza para crianças, sem saber no que é que se está a meter.

E estas personagens sofrem durante o filme!
Sofrem imenso!
Vêem os seus planos serem destruídos, os seus sonhos serem esmagados, as suas falhas expostas, as suas fraquezas exploradas.
E é tudo tão credível!

E nós estamos lá para ver, e não conseguimos deixar de nos rir de tão ridículo que tudo é, de tão tragicamente cómico que tudo é!

O filme não tenta, uma única vez, ser cómico! Não tenta, não há uma única piada! São só pessoas a serem pessoas, e isso, em si, acaba por ser mais divertido que qualquer tarte-na-cara!

Todas estas pessoas têm de chegar à California, para que a filha possa entrar no concurso. E pelo caminho vão irritar-se umas às outras, vão moer-se, vão chagar-se, vão acabar por ser uma família.

Porque é sobre isso que este filme é. Sobre como pessoas, pessoas reais! conseguem ser uma família, e amarem-se e ajudarem-se!

A escrita está brilhante, as interpretações fantásticas (Steve Carell no papel da sua carreira), o ritmo é perfeito, a edição está linda (nota-se!), as paisagens são maravilhosas.

A música está perfeita! É feita por um grupo chamado Devotchka. Pelo que consegui pesquisar (argh!) são uma banda de indie rock de Denver. Misturam uma data de estilos diferentes, mas a mim soou-me a uma mistura de Sigur Ros com Yann Tiersen.

E, ubíqua no filme, está uma fantástica carrinha VW amarela que é, na minha opinião, a metáfora mais bonita do filme inteiro!



Após mais um bocadinho de pesquisa (argh!) descobri que os realizadores Valerie Faris e Jonathan Dayton são estreantes! Este é o seu primeiro filme! Até aqui foram exclusicamente realizadores de video-clips musicais.
Isto, de alguma forma, não me espanta nada.

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