Bioshock
Etiquetas: Bioshock, FPS, Jogo de Computador
Vou hoje abrir um precedente algo estranho, e definitivamente uma novidade neste blog, e vou falar sobre jogos de computador.
Não sobre jogos de computador no geral, mas sobre um jogo em particular.
E o precedente algo estranho, é que vou falar deste jogo como se de um filme se tratasse.
Bioshock é um First-Person-Shooter, o que significa que o jogador vê o mundo pelos olhos do protagonista, experienciando as coisas na primeira pessoa.
Secundariamente a isto, o jogo consiste, muito muito basicamente, em andar pelos cenários a matar inimigos.
Quando pegamos em armas, vemos as nossas próprias mãos a segurá-las, quando fazemos pontaria alinhamos a mira com o nosso próprio olho, e quando os inimigos se atiram a nós, atiram-se mesmo à nossa cara.
Esta escolha de género proporciona um ambiente de jogo extremamente imersivo e pessoal mas, como já disse, o meu objectivo não é avaliar o jogo como um jogo, mas como se de um filme se tratasse.
Porque posso, porque o jogo é assim tão bom.
Em primeiro lugar a história.
No início do séc.XX, Andrew Ryan, um génio megalomaníaco, decide que está farto da sociedade e que não quer mais nada com ela.
Inicia então a construção de uma utopia submarina, Rapture, no fundo do Oceano Atlântico, onde os inventores, empreendedores e artistas pudessem dar largas à sua indústria sem estarem limitados pelas correntes da moralidade mesquinha.
Por todo o jogo vemos indícios destes ideais pervertidos de Andrew Ryan, à medida que vamos ouvindo spots de propaganda acerca dos "parasitas da sociedade" e de como a pena capital é um pequeno preço a pagar pela segurança de Rapture.
Em 1960, altura em que o jogo começa, Jack, a personagem principal (que encarnamos), sofre um acidente de avião sobre o atlântico, e dá consigo a flutuar em águas geladas, com os destroços em chamas do avião em que viajava, e com um estranho farol no meio do mar como única salvação possível.
Jack dá por si em Rapture, e descobre rapidamente que aquilo que era suposto ser uma utopia degenerou num mundo de violência e caos, e vê-se arrastado para a fase final de uma guerra entre a Resistência que tenta opôr-se aos últimos esforços de Andrew Ryan de manter o seu controlo ditatorial sobre a população de Rapture.
Com o progredir da história (e para aí nos primeiros 5 minutos, descansem que não estou a estragar nada) descobrimos que a principal razão da decadência de Rapture foi o uso de Adam, uma substância que permitiu aos seus cidadãos darem a si próprios poderes sobrenaturais com base em alterações genéticas temporárias.
Aparentemente o Adam, comercializado inicialmente por Frank Fontaine como arma económica contra Andrew Ryan, tinha efeitos secundários desagradáveis, como provocar psicoses alucinatórias e deformações físicas permanentes nos seus utilizadores mais assíduos.
Assim, quando Jack entra em Rapture, depara-se com uma cidade fantasma, populada por monstros, e as (verdadeiramente assustadoras) Little Sisters e os seus omnipresentes defensores, os Big Daddys, cujo significado e relevância só descobrimos muito mais tarde.
Faço notar que tudo isto é descoberto para aí nos primeiros 20 minutos de jogo, e que a história só fica mais complexa e profunda a partir daqui.
Recorrendo a gravações semi-aleatórias deixadas pelos habitantes de Rapture, vamos juntando as peças ao enorme quebra-cabeças que a história é. Desde pequenos pormenores da vida diária em Rapture, ao início dos problemas, aos ataques de terroristas e aos horrores subsequentes que surgiram, todo o tipo de informação relevante ou irrelevante para a história é descoberta.
Informação essa que dá uma profundidade e riqueza e imersão imensas no ambiente do jogo.
Deparamo-nos também com frequência com os relatos de algumas das personagens secundárias do jogo, e que foram instrumentais em toda a progressão da história. A caracterização destas personagens está extremamente bem feita, uma vez só temos sempre acesso aos seus relatos pessoais sobre as coisas que faziam e viam, e no entanto através desses relatos percebemos imensas coisas acerca das personagens e acabamos por adorá-las ou odiá-las.
Visualmente o jogo é absolutamente lindo.
As luzes, as sombras, as cores, os ambientes estão todos esplendorosamente bem feitos, com níveis de realismo incomparáveis.
Toda a arquitectura de Rapture é Art Deco, criando ambientes verdadeiramente surreais, com pormenores deliciosos.
Cada mesa está detalhada, cada arco está integrado. Se Rapture não fosse um jogo de computador, teria ganho prémios de arquitectura.
A luz e as sombras, os efeitos de fumo e neblina, os brilhos da água e do fogo estão exímios, transmitindo uma atmosfera extremamente imersiva e intensa, tornando-se ora opressiva ora libertadora.
Finalmente, o som está excelente.
Em primeiro lugar a interpretação vocal dos actores que dão voz às personagens está extremamente bem feita. Credível, intensa e dramática, algo que costuma falhar grandemente em muitos outros jogos e que contribui enormemente para a força da história.
A música é muito bonita, muito imersiva e não é de modo algum obtrusiva para o ambiente de jogo.
Pelo meio deparamo-nos com algumas músicas dos anos 50 que se enquadram perfeitamente no ambiente, e que funcionam maravilhosamente para nos integrar.
Também nos vamos deparando com publicidades sonoras, feitas ao bom velho estilo americano dos anos 50, em tons paternalistas e alegremente convincentes.
Em suma, Bioshock é um dos melhores jogos do género alguma vez feitos, a par de gigantes como Half-Life.