terça-feira, setembro 23

Bioshock



Vou hoje abrir um precedente algo estranho, e definitivamente uma novidade neste blog, e vou falar sobre jogos de computador.

Não sobre jogos de computador no geral, mas sobre um jogo em particular.

E o precedente algo estranho, é que vou falar deste jogo como se de um filme se tratasse.

Bioshock é um First-Person-Shooter, o que significa que o jogador vê o mundo pelos olhos do protagonista, experienciando as coisas na primeira pessoa.
Secundariamente a isto, o jogo consiste, muito muito basicamente, em andar pelos cenários a matar inimigos.
Quando pegamos em armas, vemos as nossas próprias mãos a segurá-las, quando fazemos pontaria alinhamos a mira com o nosso próprio olho, e quando os inimigos se atiram a nós, atiram-se mesmo à nossa cara.
Esta escolha de género proporciona um ambiente de jogo extremamente imersivo e pessoal mas, como já disse, o meu objectivo não é avaliar o jogo como um jogo, mas como se de um filme se tratasse.

Porque posso, porque o jogo é assim tão bom.

Em primeiro lugar a história.

No início do séc.XX, Andrew Ryan, um génio megalomaníaco, decide que está farto da sociedade e que não quer mais nada com ela.
Inicia então a construção de uma utopia submarina, Rapture, no fundo do Oceano Atlântico, onde os inventores, empreendedores e artistas pudessem dar largas à sua indústria sem estarem limitados pelas correntes da moralidade mesquinha.
Por todo o jogo vemos indícios destes ideais pervertidos de Andrew Ryan, à medida que vamos ouvindo spots de propaganda acerca dos "parasitas da sociedade" e de como a pena capital é um pequeno preço a pagar pela segurança de Rapture.



Em 1960, altura em que o jogo começa, Jack, a personagem principal (que encarnamos), sofre um acidente de avião sobre o atlântico, e dá consigo a flutuar em águas geladas, com os destroços em chamas do avião em que viajava, e com um estranho farol no meio do mar como única salvação possível.

Jack dá por si em Rapture, e descobre rapidamente que aquilo que era suposto ser uma utopia degenerou num mundo de violência e caos, e vê-se arrastado para a fase final de uma guerra entre a Resistência que tenta opôr-se aos últimos esforços de Andrew Ryan de manter o seu controlo ditatorial sobre a população de Rapture.

Com o progredir da história (e para aí nos primeiros 5 minutos, descansem que não estou a estragar nada) descobrimos que a principal razão da decadência de Rapture foi o uso de Adam, uma substância que permitiu aos seus cidadãos darem a si próprios poderes sobrenaturais com base em alterações genéticas temporárias.
Aparentemente o Adam, comercializado inicialmente por Frank Fontaine como arma económica contra Andrew Ryan, tinha efeitos secundários desagradáveis, como provocar psicoses alucinatórias e deformações físicas permanentes nos seus utilizadores mais assíduos.

Assim, quando Jack entra em Rapture, depara-se com uma cidade fantasma, populada por monstros, e as (verdadeiramente assustadoras) Little Sisters e os seus omnipresentes defensores, os Big Daddys, cujo significado e relevância só descobrimos muito mais tarde.



Faço notar que tudo isto é descoberto para aí nos primeiros 20 minutos de jogo, e que a história só fica mais complexa e profunda a partir daqui.
Recorrendo a gravações semi-aleatórias deixadas pelos habitantes de Rapture, vamos juntando as peças ao enorme quebra-cabeças que a história é. Desde pequenos pormenores da vida diária em Rapture, ao início dos problemas, aos ataques de terroristas e aos horrores subsequentes que surgiram, todo o tipo de informação relevante ou irrelevante para a história é descoberta.
Informação essa que dá uma profundidade e riqueza e imersão imensas no ambiente do jogo.
Deparamo-nos também com frequência com os relatos de algumas das personagens secundárias do jogo, e que foram instrumentais em toda a progressão da história. A caracterização destas personagens está extremamente bem feita, uma vez só temos sempre acesso aos seus relatos pessoais sobre as coisas que faziam e viam, e no entanto através desses relatos percebemos imensas coisas acerca das personagens e acabamos por adorá-las ou odiá-las.

Visualmente o jogo é absolutamente lindo.
As luzes, as sombras, as cores, os ambientes estão todos esplendorosamente bem feitos, com níveis de realismo incomparáveis.
Toda a arquitectura de Rapture é Art Deco, criando ambientes verdadeiramente surreais, com pormenores deliciosos.
Cada mesa está detalhada, cada arco está integrado. Se Rapture não fosse um jogo de computador, teria ganho prémios de arquitectura.

A luz e as sombras, os efeitos de fumo e neblina, os brilhos da água e do fogo estão exímios, transmitindo uma atmosfera extremamente imersiva e intensa, tornando-se ora opressiva ora libertadora.







Finalmente, o som está excelente.
Em primeiro lugar a interpretação vocal dos actores que dão voz às personagens está extremamente bem feita. Credível, intensa e dramática, algo que costuma falhar grandemente em muitos outros jogos e que contribui enormemente para a força da história.
A música é muito bonita, muito imersiva e não é de modo algum obtrusiva para o ambiente de jogo.
Pelo meio deparamo-nos com algumas músicas dos anos 50 que se enquadram perfeitamente no ambiente, e que funcionam maravilhosamente para nos integrar.

Também nos vamos deparando com publicidades sonoras, feitas ao bom velho estilo americano dos anos 50, em tons paternalistas e alegremente convincentes.

Em suma, Bioshock é um dos melhores jogos do género alguma vez feitos, a par de gigantes como Half-Life.

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domingo, setembro 21

Tropic Thunder

raios não sei como é que hei-de começar este texto, raios para isto de escrever textos com um início credível, começo com a sinopse do filme, ou com a filmografia do realizador ou... Porra!!! estou outra vez a escrever os meus pensamentos!


Há filmes que são paródias a outros filmes ou géneros. Esses filmes quebram alegremente todas as regras dos filmes que parodiam e, ao fazerem-no, chamam atenção a essas regras tornando-as visíveis e, assim, perde-se a suspensão da incredulidade, perde-se a imersão completa no filme e na ideia de que o que se passa no filme não é realmente um filme.
As paródias são filmes auto-conscientes. Filmes que sabem que são filmes e divertem-se a brincar com as regras dos filmes.
O melhor exemplo disto são os Scary Movie todos.

Há filmes que são homenagens. Ou seja, filmes que pegam em estilos e correntes estéticas de outros filmes, e as exageram, trazem-nas para primeiro plano, de tal maneira que o mais importante do filme é a sua estética (visual ou de enredo) do que propriamente a qualidade do seu argumento ou das interpretações.
O Kill Bill é um bom exemplo disto.

Tropic Thunder realizado por Ben Stiller, consegue ser uma mistura das duas coisas.
Eu ainda não consegui perceber como é que esse equilíbrio foi atingido. Provavelmente tenho de voltar a ver o filme mais algumas vezes.

Porque tenho de admitir que fui apanhado de surpresa. Não estava à espera que o filme fosse tão bom.

Há imensos pormenores, imensas nuances e imensas ideias a serem atiradas ao mesmo tempo.

Bem, a sinopse, então:

Com o objectivo de fazer o maior filme de guerra alguma vez feito, um produtor de Hollywood chamado Les Grossman (Tom Cruise, irreconhecível), arranja um novo e promissor realizador (Damien Cockburn - Steve Coogan) e três estrelas do cinema: a estrela dos filmes de acção, Tugg Speedman (Ben Stiller) o grande actor dramático Kirk Lazarus(Robert Downey Junior) e o palhaço de filmes de comédia de humor de casa de banho Jeff Portnoy (o grande Jack Black).

Só que o filme começa a correr mal porque os três actores principais são uns betinhos mimados que não conseguem trabalhar juntos.

Por isso o autor do livro - Four Leaf Tayback (Nick Nolte) no qual o filme se baseia sugere ao realizador levar os actores e metê-los no meio da floresta e assustá-los com explosivos e fazer um filme ao estilo do Blair Witch Project.

No entanto, as coisas fogem ao controlo quando os actores, no meio da floresta, se deparam com traficantes de droga a sério, com armas a sério.

Há dezenas de referências a filmes como Platoon e Apocalypse Now, sendo que eu tenho a certeza que só apanhei para aí metade. Este é um dos aspectos de paródia do filme. A inserção de momentos e pormenores que são claramente cópias gozonas de outras cenas que já conhecemos.

As personagens são maravilhosamente estereotipadas, sobretudo a de Tugg Speedman que é o actor de filmes de acção totalmente bronco, mas que pelo meio da carreira tentou fazer um filme sério interpretando um atrasado mental num filme chamado Simple Jack.

Nota especial para Robert Downey Junior que encarna uma personagem de raça negra, e fá-lo extremamente bem (ou mal, como o quiserem ver).

Jack Black encarna um Eddie Murphy branco, e a personagem que é o tributo ao Soldado Pyle do Full Metal Jacket.

Este filme também faz algo que me impressionou profundamente, e que eu nunca tinha visto em mais nenhum outro filme, e que, tanto quanto sei, nunca foi feito antes.

O filme brinca com a fotografia. Ou seja: há, por exemplo, neste filme uma cena em que Jeff Portnoy está a explicar o seu plano de mestre para infiltrar o campo dos traficantes de droga. Há um grande close-up da sua cara e uma música épica a criar ambiente.
De repente quando se percebe que o seu plano é uma estupidez, a música é subitamente parada, o grande plano quebra-se e é mostrada a expressão de incredulidade dos seus amigos, destruindo assim, de uma forma cómica, a atmosfera criada anteriormente.

Agora imaginem a mesma piada, mas recorrendo exclusivamente à iluminação do filme. Há uma cena em que Tugg Speedman se envolve demasiado com os traficantes de droga e já quer ficar com eles, e está a passar água pela cabeça de uma forma reminiscente do Marlon Brando como Coronel Kurtz no Apocalypse Now, enquanto que o Kirk Lazarus está a tentar convencê-lo de que ele endoideceu.
Apesar de estarem no mesmo espaço físico, quando a câmara se centra em Tugg Speedman, a luz é dessaturada, muito contrastada e extremamente nítida, ao passo que quando mostram Kirk Lazarus a luz está perfeitamente normal e igual ao resto do filme.

Isto é genial. É estar a brincar e a parodiar com toda a estilística visual de outros filmes de uma forma muito mais subtil do que o normal.

No entanto Tropic Thunder é também uma homenagem aos filmes de guerra.
O filme não tem medo de exagerar nas explosões, nem nos planos de helicópteros, nem nas cenas de tiroteio inacreditáveis que vemos nos outros filmes de guerra, porque são fixes e são essas coisas que tornam um filme de guerra aquilo que viemos a esperar de um filme de guerra!

A música toma um papel muito importante aqui, recorrendo a temas do rock clássico para criar momentos e ambientes totalmente característicos.

Como cereja em cima do bolo, o filme está cheio de pequenos cameos deliciosos.
Temos Tobey Maguire a fazer de monje homossexual, temos o Matthew McConaughey a fazer de agente yuppie, temos Tom Hanks e Jon Voight em momentos quase invisíveis.

Mas o melhor de tudo é Tom Cruise. Tom Cruise interpreta Les Grossman, o Produtor Tubarão de Hollywood, pronto a vender tudo e todos para ter uma margem de lucro.
É delicoso como Tom Cruise se dispôs a fazer uma personagem que é, no fim, totalmente ridícula e ofensiva, dando uns monólogos de insultos e palavrões deliciosos na sua fúria e raiva.

Tropic Thunder vale definitivamente a pena ser visto!

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domingo, setembro 14

Não é sobre cinema.

Mas como já podem começar a ver, quando não falo sobre cinema, falo sobre isto:

http://blog.cancaonova.com/fatimahoje/2007/10/15/

Aaaaah, os Três Pastorinhos.

Haverá tríade mais mítica, mais sacrossanta e mais repugnante na cultura portuguesa?
São crianças brutalizadas pela fome, pela ignorância e pela igreja.

Canonizadas por terem presenciado um "milagre", e transformadas em ícones de todo um país.

"...mas Jacinta responde: “Não! Dessa água boa não quero. Bebia desta, porque, em vez de oferecer a Nosso Senhor a sede, oferecia-lhe o sacrifício de beber desta água suja”. E acrescentou: “Nosso Senhor deve estar contente com os nossos sacrifícios, porque eu tenho tanta, tanta sede! Mas não quero beber; quero sofrer por seu amor”."

Só eu é que acho que esta violência é obscena?

E no entanto vão milhares de pessoas a Fátima. Pessoas essas que, aparentemente, acham que isto é tudo muito bonito, muito bem feito.

Um culto febril, alucinado.

Nem sequer vou discutir o que está por detrás disto. Não vale a pena, não é isso que me choca.

O que me choca, o que me deixa envergonhado de pertencer à espécie humana, são as pessoas pequeninas, que eu quero acreditar que têm capacidade de pensar (senão não são melhores do que gado) e que portanto, por ali estarem, acham que o tipo de sofrimento e sacrifício imposto a estas crianças vale mesmo a pena.

Portanto o que é que são?

Gado inconsciente ou monstros insensíveis?

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Comam os vossos Legumes! - Post 300

Este é, oficialmente, e tanto quanto eu o consigo verificar, o post nº300!

Apesar de mais ninguém se importar ou sequer andar a contar, eu achei que era apenas apropriado que fosse eu a festejar o post cujo número é não só uma referência cinematográfica, como também uma referência a bandas-desenhadas.

A minha intenção original era de festejar o post nº300 com algo como
"e pronto, já está, é o post 300... e mais nada. que é que querem mais, estou aqui a trabalhar para vocês ou quê?"

Mas achei que apesar de deliciosamente anti-climático, não era verdadeiramente adequado a um número que é uma referencia a bandas desenhadas e filmes.
Faço isso no post número 1000.

Portanto acho que hoje vou falar sobre um tema que já abordei várias vezes, mas que ainda não expliquei: os vegetais de um filme.


No outro dia estava a ver um filme com uma pessoa que me disse assim "Para mim um filme é as personagens e a construção do enredo!"

E eu não posso deixar de concordar com isto. Sim, um filme é muito isso!

As personagens e o enredo para umas pessoas, os efeitos especiais e a acção para outras, os ambientes e a temática para outras ainda.

Essas coisas são o bifinho tenro e levemente grelhado com batatinhas fritas de um filme. As personagens e o enredo são a sobremesa de um filme. O pudim, a fatia de bolo com cobertura de açúcar.

São as coisas que saltam à vista, as coisas que, em última análise, determinam se um filme é gostável ou não.

Mas eu vou falar dos Legumes dos filmes. Dos espinafres que temos de comer antes de chegar ao bife. Dos brócolos que temos de acabar antes de poder comer a sobremesa.

Coisas que estão lá, que são importantes, sem as quais não temos uma refeição completa. Coisas às quais não damos importância nenhuma, mas que são, apesar disso, importantíssimas.

Estou a falar de coisas como o ritmo do filme, a edição, a cinematografia, a fotografia, a edição de som!

Elementos essenciais de um filme, que, para todos os efeitos, SÃO o filme em si.

Um filme pode não ter cenários, pode não ter enredo, mas vai sempre ter ritmo, vai sempre ter fotografia.

São estes elementos que constroem a base sobre a qual as outras coisas mais vistosas podem assentar.

Ritmo - o que é o ritmo de um filme? Porque não é só se há muita informação, ou se as personagens se mexem depressa ou devagar. O ritmo é a concentração de informação e a forma como ela varia ao longo do filme.
Se tivermos uma sequência de cenas com muita informação (muitas personagens, muito diálogo, muito cenário, muitos efeitos especiais, muita acção, muita música) temos a impressão que essa cena é mais rápida. Não é que seja rápida, mas temos essa noção porque estamos preocupados a tentar perceber muitos pormenores.

O oposto também é verdade. Se uma cena se focar apenas em duas personagens e no seu diálogo, com uma luz simples, sem música, num ambiente minimalista, a cena parecerá mais lenta, mais calma, apesar de poder conter muita informação de enredo ou de construção de personagens.

É por esta razão que alguns filmes muito curtos parecem extremamente longos e por que filmes longos podem parecer pequenos.

Este tipo de decisão, meter mais ou menos pormenores, é feita pelo realizador. Depende da sua capacidade e compreensão daquilo que a história pede.
A mesma história pode ser contada com um ritmo rápido, ou com um ritmo lento, transmitindo sensações completamente diferentes.

Um filme com um ritmo demasiado lento corre o risco de se tornar aborrecido, um ritmo demasiado rápido torna-se cansativo.
Cabe ao editor, conforme os desejos do realizador, fazer um malabarismo com os momentos rápidos e lentos do filme. Alternando-os de modo a manter o espectador interessado e atento.

Um filme de ritmo rápido seria o Black Cat White Cat (1998) de Emir Kusturica, um filme de ritmo lento seria o Dogville (2003).

Edição - a edição é um dos aspectos mais importantes do filme e que, paradoxalmente, quanto mais bem feita está mais invisível se torna.
A edição, ou montagem, de um filme, é aquilo que garante que quando uma personagem está a mexer um braço e o plano muda, no plano seguinte o braço dela continua a mover-se a partir do mesmo ponto em que estava no plano anterior, à mesma velocidade e na mesma direcção.

Cabe ao editor aparar as cenas, de modo a que os movimentos dentro delas se tornem fluidos e contínuos. Se isto for bem feito tornar-se-á invisível. Se não for bem feito, então o facto de uma personagem ir a andar e subitamente repararmos que cada vez que a cãmara muda de plano os pés da personagem estão em posições diferentes, então já não ouvimos aquilo que ela disse, apercebemo-nos que estamos a ver um filme, e a magia perde-se.

Como estar a andar ao longo de um jardim bonito, mas estar sempre a dar topadas com os dedos dos pés no passeio, que está cheio de pedras.

De um modo mais geral, a edição também acaba por definir em grande parte o ritmo de um filme. Fazendo com que as cenas se desenrolem mais ou menos depressa, todo o aspecto do filme e sensação passada ao espectador é afectada.

Cinematografia - é aquilo que um realizador faz, quando não está ocupado a ignorar sugestões de actores e a obrigar toda a gente a trabalhar mais depressa porque estamos a perder a luz!
A cinematografia é a decisão de onde pôr a câmara, que plano apanhar, que panorâmica fazer, de onde vêm e para onde vão os actores, que elementos de cenário incluir.
Pode ser feita de um modo simples, ou de formas extremamente elaboradas.
Vêem-me à mente os ângulos bizarros do Soderbergh, as personagens a subirem colinas do Spielberg, os passing-shots do Tarantino.
É a cinematografia que mais importa ao realizador. Porque é aquilo que, no fim, o espectador vai ver. É a cinematografia que puxa o olho do espectador para onde ele tem de ir.
É a responsabilidade do realizador, com as suas capacidades cinematográficas, MOSTRAR a história. Num filme a história não é contada, é mostrada.
O realizador tem de decidir como melhor chamar a atenção para determinado pormenor, ou focar mais um actor, ou mostrar uma situação.

Fotografia - há filmes com cores extremamente vivas, com cores mais apagadas, filmes que parece que são todos em tons de pastel, filmes todos em tons de amarelo ou verde ou azul. Filmes que dão frio, filmes que transmitem calor.
Tudo isto é determinado, em grande parte, pela fotografia.
A fotografia determina a luz de um filme. A a saturação, o brilho, o contraste da luz.
Cria todo o ambiente de um filme, toda a sensação de um filme.
Há filmes cuja fotografia é tão bela, tão bem feita, que temos a impressão o tempo todo de estar a olhar para uma pintura clássica.

Edição de Som - determina o que ouvimos, quantas coisas ouvimos e quando as ouvimos. Uma vez de facto dei-me ao trabalho de contar quantas faixas de som havia numa determinada cena do Saving Private Ryan (1998) do Spielberg. Naquela cena na praça da cidade, em que o Caparzo leva um tiro de sniper, porque foi buscar a miudinha, lembram-se?
Nessa cena ouvem-se as vozes das personagens principais, as vozes dos pais da miudinha ao longe, a voz de um altifalante com propaganda alemã, o som das botas dos soldados e equipamento a chocalhar, o som do vento, o som da chuva e o som de bombas à distância.
É uma quantidade tremenda de informação, mas que está toda lá, toda a criar um ambiente, toda ela a transmitir sensações, de uma forma que não chama a atenção, mas que se lhe quisermos prestar atenção, a vemos totalmente.

E todos estes sons têm de ser escolhidos, inseridos, equilibrados. Senão tornava-se só barulho, a estática de um rádio mal sintonizado.


Todos estes aspectos, todos estes factores (e há muitos mais, mas infelizmente sou apenas um amador e amante de cinema, no fim de contas um leigo) constroem um filme. Vêm antes das personagens, ou dos efeitos especiais, ou do enredo. Se estiverem mal feitos, o resto têm muita dificuldade em aguentar-se sozinho. Chegamos ao fim do filme com a impressão que algo correu mal, mas não conseguimos pôr o dedo em cima da ferida.

Quando eu vejo um filme estou interessado na história, nas personagens, nos efeitos especiais, na acção. Mas uma parte do meu cérebro está a deitar um olhinho à edição, à fotografia, aos planos de câmara, aos sons.

Para mim um filme pode valer apenas por estas coisas. Ou ser totalmente estragado por elas.

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El Orfanato

Apesar deste filme não ter sido realizado pelo Guillermo del Toro e sim por Juan Antonio Bayona (quem quer que ele seja), foi produzido por Guillermo del Toro.

E isso nota-se, sobretudo na fotografia do filme, que é linda!

Chamo a atenção logo para os primeiros segundos do filme, nos quais a cena de abertura é o plano de um céu fantástico!

El Orfanato é um filme de terror de nova geração.

Por "nova geração" entenda-se da "geração mais recente", porque tenho a certeza que haverá mais.
Há várias gerações, ou vagas, de filmes de terror. Não tenho espaço nem capacidade para as listar todas, mas as mais recentes foram os filmes de terror urbano americanos (Scream (1996), I know what you did last summer (1997), Final Destination (2000)) seguidos pelos filmes de terror japoneses (Ringu (1998), Ju-On (2004), Chakushin ari (2003)) sendo que a mais recente de todas é a do cinema de terror europeu, especialmente o espanhol (REC (2007) e Frágiles (2005), ambos de Jaume Balagueró)

El Orfanato é é um filme de terror feito com extrema proficiência.
Com isto quero dizer que os timings estão extremamente bem feitos, a música está muito bem colocada, os ambientes estão muito bem construídos.
O terror funciona.
O filme mete medo!

A sério, vejam só alguns dos pormenores do trailer e vão perceber quão assustador o filme tem potencial para ser.

É muito difícil assustar um veterano de filmes de terror (faço notar que eu não o sou, propriamente), mas este filme consegue-o.
Tem a dose certa de cliché, com a medida correcta de perversão das regras do terror para conseguir assustar.

Depois temos as interpretações.
Belén Rueda e Fernando Cayo interpretam o casal principal, e Roger Princep o seu filho. Fazem, todos eles, interpretações muito sólidas.
De fazer notar a participação brilhante de Geraldine Chaplin.

A história, está extremamente bem contada e é extremamente inteligente.
Não cai em exageros parvos, nem se torna aborrecida. Consegue ter twists e contra twists para não ser só um crescendo contínuo ao qual nenhum clímax conseguiria dar satisfação e no entanto não se torna incrível.

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quinta-feira, setembro 11

Naked Gun: From the Files of Police Squad

Naked Gun (1988) é um dos mais conhecidos representantes de um género de filme que já não se faz.

O filme de gags.

É um filme recheado de piadas de violência física, piadas verbais, piadas non-sense, mas que nunca se torna auto-consciente delas.

É como um espectáculo de Vaudeville: os números e sketches alternam-se na sua natureza, em rápida sucessão, de modo a manter o espectador inseguro sobre o que esperar a seguir.

À primeira vista Naked Gun é uma paródia aos thrillers policiais. Tem uma história sobre uma conspiração para assassinar a Rainha de Inglaterra. Mas isso é só superficialmente.

Quando nos debruçamos sobre o filme o que é que vemos? Nada.

Porque essa é uma posição muito má para se ver um filme.

Quando nos recostamos para trás na cadeira, aí sim, vemos que o argumento da conspiração é só uma desculpa, uma base onde enfiar todos os gags e piadas e pequenos sketches que na realidade não têm nada a ver com a história.
Piadas e gags que, se eles quisessem realmente contar a história, seriam totalmente desnecessários.

Mas não são, porque o Naked Gun, e os outros filmes do género, não é acerca da sua história. É acerca dos gags e das piadas.

E esses gags e piadas são, como eu já disse, de uma natureza extremamente variada, e é daí que surge a sua riqueza.

Logo no início do filme, o agente Nordberg (deliciosamente interpretado por O.J. Simpson) "surpreende" um grupo de bandidos que estão a conspirar. Apesar de ser só um contra sete bandidos, todos eles armados, Nordberg decide ainda assim prendê-los e quando entra na sala grita-lhes "Drop your weapons!" (apesar de serem 7 bandidos contra 1 polícia, um dos bandidos de facto larga a sua arma, apenas para receber olhares desaprovadores dos outros bandidos) e os bandidos prosseguem em encher o agente Nordberg de tiros.
O agente Nordberg leva os tiros, cambaleia para trás e bate com a cabeça numa tubagem, desequilibra-se para a esquerda e queima a mão num forno, encosta-se a uma porta pintada de fresco, apoia-se numa janela que lhe cai sobre os dedos, tropeça e cai de cara num bolo de noiva, dá alguns passos e pisa numa armadilha para ursos e depois cai à água.

Isto é genial!!!

Não só pela piada da violência física em si, mas também pela sequência exagerada de azares que acontecem, também pelo cliché de cada um dos azares que acontece e também pelo surreal que é um grupo de bandidos terem um bolo de noiva e uma armadilha para ursos no seu covil!

Isto é, embora possa não parecer à primeira vista, humor extremamente inteligente!

Porque é que acham que os American Pie e todos os clones que geraram não usam este tipo de humor? Porque é demasiado complicado para as massas adolescentes compreenderem.

O que é que as massas adolescentes compreendem? Piadas de casa de banho e piadas à volta de sexo.
90% das piadas à volta de sexo não têm piada nenhuma. Aproveitam só o facto de as pessoas se sentirem desconfortáveis a falar de sexo e de se rirem para libertar essa tensão, independentemente de haver alguma piada ou não.
É por isso que o Fernando Mendes diz "porra" na televisão e as pessoas riem-se.

Nem a série de filmes Scary Movie, e os seus inúmeros clones, que tentam de alguma forma regressar a este tipo de humor de gags, conseguem fazê-lo de uma forma tão inteligente.

Nenhum deles tem este tipo de acumulação de ideias como na cena que acabei de vos descrever (que é só a primeira de muitas no filme e ocorre nos primeiros 5 minutos do filme).

Protagonizado por Leslie Nielsen (fabuloso actor de comédia, protagonizando inúmeros filmes dentro deste mesmo género) e realizado pelo brilhante David Zucker (que realizou também Airplane, Top Secret, e (não surpreendentemente) os Scary Movie que tiveram piada, o 3 e o 4.

Naked Gun é uma pérola do cinema de comédia. Uma amostra de cinema de humor inteligente que já não se faz.

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quarta-feira, setembro 10

Nothing to Lose

Um homem que tem tudo na vida chega a casa e vê a sua mulher na cama com outro homem!

Sai de casa, perdido e desvairado, sem saber o que fazer.

Quando pára num semáforo, é assaltado e essa é a gota de água.

Seguem-se hijinks.

Steve Oedekerk (de quem eu nunca tinha ouvido falar) realizou Nothing to Lose em 1997. Antes disso tinha realizado Ace Ventura: When Nature Calls (1995). Ao longo dos anos escreveu vários screenplays para vários filmes de comédia.

Nothing to Lose não é um filme brilhante. Não é um filme genial.
Mas também não é um filme terrível. Não tem erros magnânimes, cuja análise seria divertida de ler.
Então porque é que eu estou a escrever sobre este filme?

Porque é um bom filme.

É daqueles filmes que foram feitos há vários anos, que não contribuiram nem pioraram as carreiras das pessoas que neles participaram, que muitas pessoas viram, apreciaram e depois muito naturalmente perderam-no nas suas memórias cinematográficas.

Se formos a ver, filmes realmente dignos de nota são raros. Como eu disse, têm de ser ou muito bons ou muito maus.

O que eu acho que é uma injustiça para todos os outros filmes.
Todos os filmes que, sem serem absolutamente brilhantes ou inovadores, também não têm erros flagrantes.
Que são bons filmes. Sem tirar nem pôr.
Deram trabalho a fazer, deram gosto a quem os fez e trouxeram duas horas de entretenimento a quem os viu.
Descartar estes filmes, todos estes filmes (porque são a grande maioria) só porque não são os melhores, é uma injustiça.

Porque todo o cinema é cinema.

Eu, como cinéfilo, consigo apreciar e divertir-me sinceramente com um filme como o Nothing to Lose, que é sincero, despretensioso, tem algumas boas ideias e algumas excelentes piadas.

São estes filmes que constroem a nossa cultura cinematográfica. Claro que ao fim de 10 anos a ver filmes é natural que apenas alguns nos venham à mente. Mas para que esses alguns nos venham à mente, todos os outros tiveram de estar lá, para nos preparar, para nos ensinar a ver cinema.
Ou preferiam ter visto SÓ os filmes de que se lembram ao fim de 10 anos?

Nothing to Lose tem as excelentes interpretações de Martin Lawrence (a quem eu simplesmente não consigo achar piada, mas tenho de admitir que tem piada) e Tim Robbins (num papel muito diferente daquele a que normalmente faz).

Tem várias piadas boas, e algumas excelentes.

Tem uma banda sonora deliciosa, muito bem escolhida e integrada no filme.
Não ouvia várias das músicas deste filme há anos!

Nota especial para John C. McGinley que neste filme faz de ladrão, mas que provavelmente conhecem melhor como o Dr. Perry Cox do Scrubs.
Descobri que foi neste filme que ele iniciou o seu hábito de chamar nomes femininos às personagens masculinas de quem não gosta.

É um filme divertido, sólido, sem falhas.
É um bom filme.

Não encontrando nenhum trailer para este filme no Youtube, meto aquela que é definitivamente uma das cenas mais emblemáticas do filme:




A >verdadeira< razão pela qual eu escrevo sobre este filme é que eu prometi ao pessoal do Des1biga que sempre que visse um filme escrevia aqui sobre ele, e ia sentir-me mal se não cumprisse.

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terça-feira, setembro 9

Star Wars: The Clone Wars

Eu sou um fã de Star Wars.

Também sou um fã de Star Trek, mas tenho de admitir que o meu verdadeiro amor é o Star Wars.

Tem algo de Tolkieniesco que sempre me atraiu muito.

Como fã que sou, tenho necessariamente de consumir tudo o que possa aparecer relacionado com o universo Star Wars, incluindo o Star Wars: The Phantom Menace.

Agora, Star Wars: The Clone Wars (2008) consegue ser bem melhor que o Phantom Menace.

Mas mesmo assim não passa de uma experiência interessante.

Tomando lugar algures entre o episódio II e o episódio III, este filme segue Anakin Skywalker e Obi Wan Kenobi, enquanto estes tentam resgatar o filho do Jabba the Hutt que foi raptado pelo Count Dooku, para incriminar os Jedis.
Pelo meio há uma aprendiz padawan chamada Ahsoka, a cargo de Anakin. Algo que, tendo em conta o episódio III, não aparenta fazer grande sentido.

As vozes do filme nem sequer estão por aí além bem feitas, por isso também não é por aí que o filme vale.

Vale pela animação, que está linda!

É totalmente gerada por computador, mas ao invés do que muitos filmes de animação recentemente tentam fazer, este filme não tenta criar personagens realistas.
Pelo contrário, pega em modelos muito simples que são caricaturas dos actores que encarnam as mesmas personagens dos filmes, e sobre esse modelo é como que pintada a cara das personagens, criando assim muitos mais pormenores, texturas e sombras do que seriam possíveis com modelos computorizados normais.

Depois, em termos de ambientes e cenários, o filme tem uma riqueza enorme, tal como, aliás, a maioria dos filmes da saga.

Só é pena que a história deixe um bocado a desejar, senão o filme podia ter sido muito giro.

Podiam bem ter feito um remake, ou um seguimento mais directo aos desenhos animados que tinham surgido na Cartoon Network há uns anos (cujas personagens foram usadas como base para os modelos deste filme)

Para os fãs de Star Wars que vêem tudo o que esteja relacionado, é imperdível. Mas duvido que mais alguém consiga gostar do filme.

Deixo-vos com o trailer do filme e com o que conseguir encontrar dos desenhos animados da Cartoon Network



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segunda-feira, setembro 8

The Royal Tenenbaums

Já falei aqui uma vez acerca dos vegetais de um filme, mas ainda não é hoje que vou explicar o que são.

Há muito tempo eu tinha visto o trailer para este filme na televisão. Acho que uma vez até apanhei algumas cenas do filme quando deu na televisão, mas como não o estava a ver desde o início, desisti de ver até ao fim.

Foi só há alguns meses, já não me lembro exactamente a propósito de quê, que o Pedro (outro escritor aqui do Blog) me relembrou da existência deste filme.

Em primeiro lugar, este filme vale pelos actores e as suas interpretações.

Gene Hackman, Angelica Huston, Ben Stiller, Gwyneth Paltrow, Luke Wilson, Owen Wilson, Bill Murray, Danny Glover!!! Está toda a gente neste filme! (como se não bastasse o prazer imenso que é ver a Angelica Huston a actuar!)

Todos eles dão interpretações apuradíssimas, exremamente credíveis nas suas pequenas idiossincrasias pessoais, sem exageros, sem tentar roubar a atenção do público.

São os actores que fazem o filme funcionar, disso não haja dúvida.

Mas para os actores poderem fazer o filme funcionar, têm de ter a base da história.
E essa é lindíssima!

Royal Tenenbaum (interpretado por Gene Hackman, e sim, Royal é o primeiro nome dele) é o pai da família Tenenbaum, composta pela mãe Etheline Tenenbaum (Angelica Huston) e os três filhos Margot, Chas e Richie (Gwyneth Paltrow, Ben Stiller e Luke Wilson, respectivamente), que foram, os três, crianças prodígio, mas que se desvaneceram ao crescer.

Royal Tenenbaum foi um péssimo marido e um pior pai para os seus filhos. Mas não o fez por mal, a sério.

Quando Sherman (Danny Glover), contabilista de Etheline, lhe propõe casamento e, por uma série de coincidências, todos os três filhos da família Tenenbaum se encontram todos em casa outra vez, Royal decide que é altura de reconstruir a sua família, e "descobre" que está prestes a morrer, sendo o seu último desejo reunir-se com a família.

É uma história sobre pessoas com defeitos, com paranóias, com inseguranças e medos e que cometem erros e magoam outras pessoas. Todas as personagens se magoaram umas às outras de alguma forma, e sobretudo, todas foram magoadas e desiludidas por Royal Tenenbaum.

É do contacto uns com os outros, e com a ajuda indirecta, desastrada, por vezes imprópria, mas ultimamente bem intencionada de Royal Tenenbaum, que estas personagens se vão salvar.
É um filme sobre redenção, na minha opinião.

E isto bastaria para termos um excelente filme.

O que torna este filme tão especial, tão fantástico, na minha opinião, é a forma como está contado.

Wes Anderson tem um estilo extremamente próprio de realizar os seus filmes. Recorrendo frequentemente a grandes planos frontais das suas personagens, a panorâmicas lentas e ângulos bizarros, a alterações de velocidade sem cortes, ele cria uma atmosfera e um ritmo que são extremamente próprios.

A edição também contribui para este efeito. Dividindo o filme em capítulos (com um prólogo, uma introdução de personagens e um epílogo), usando títulos e legendas, fazendo pequenos intervalos para contar pormenores específicos, ou flashbacks para contar episódios da vida das personagens, Wes Anderson consegue introduzir uma quantidade espantosa de informação e ainda assim não apressar o filme, dar-lhe um ar de leveza e calma lindos.

Wes Anderson realizaria três anos depois de a The Royal Tenenbaums (2001), The Life Aquatic (2004), que volta a usar estas ferramentas com o mesmo efeito.

The Royal Tenenbaums é uma pérola de um filme que devem ver se o conseguirem apanhar.
No fim vão sentir-se pessoas melhores.

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domingo, setembro 7

Babylon A.D.

Portanto, eu pensei:

"Ok, é um filme com o Vin Diesel.
MAS é baseado realizado pelo Mathieu Kassovitz, tem a Michelle Yeoh, o Gérard Dépardieu e a Charlotter Rampling.
Não há-de ser assim tão terrível!"

E... não foi!

Quer dizer...

A história é bastante... superficial.

O enredo é inicialmente muito simples: Toorop (Vin Diesel) é contratado por Gorsky (Gérard Dépardieu) para levar Aurora (Mélanie Thierry) e a sua guardiã a Irmã Rebeka (Michelle Yeoh) a Nova Iorque, por razões que são, durante a maior parte do tempo, desconhecidas.

Até podia revelar quais são as razões, mas o filme já é tão fraquinho, que não lhe vou tirar a pouca piada que essas razões trazem.

Digo apenas que as razões são muito pouco satisfatórias, e nem são bem explicadas nem nada...

A verdade é que depois de um bocadinho de pesquisa (eugh) descobri que a versão original do filme tinha mais 70 minutos de duração.
70 minutos esses que os estúdios cortaram (contra a vontade do realizador) para tornar o filme PG-13 (a categoria da maioria dos filmes da disney) e que, supostamente, teriam tornado o filme mais fiel ao livro original de onde a história foi retirada.

Quero acreditar que esses 70 minutos teriam feito toda a diferença (e em 70 minutos é possível fazer muita diferença)

Tal como está, a história é superficial e quase desconexa. Algumas cenas de extrema violência emocional fazem suspeitar que se algum dia sair uma versão do realizador, valerá bem a pena.

As interpretações são muito boazinhas e até vin diesel consegue transparecer o actor que vimos pela primeira vez no Saving Private Ryan.

No que o filme brilha realmente é no seu visual.

Passando-se num mundo futurista, quase totalmente em cenários de guerra, toda a estética pós-apocalíptica está irrepreensivelmente bem feita!

Os ambiente são porcos, sujos e maus, as roupas e os cenários estão perfeitos.

Menção especial para a cena de aproximação a Nova Iorque, que eu achei extremamente reminiscente da cena inicial do Blade Runner.

É um bom filme de acção, com visuais perfeitos, e uma história que deixa um bocado a desejar.
Mesmo assim não me arrependo de o ter ido ver ao cinema.



Ps: revendo agora o trailer, apercebo-me que a música usada é a música tema do filme Requiem for a Dream

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